Cláudio Santoro

Olá amigos. Neste post continuo o trabalho da divulgação dos grandes compositores brasileiros. Vamos conhecer um pouco da vida e obra de Cláudio Santoro.

Claudio Santoro
Cláudio Santoro ao piano

Formação inicial

Cláudio Santoro nasceu em Manaus em 1919, e faleceu em Brasília em 1989.

Começou seus estudos musicais com o violino, e se destacou tão rapidamente que ganhou do governo amazonense uma bolsa de estudos para estudar no Rio de Janeiro.

No Conservatório de Música do então Distrito Federal Santoro continuou a estudar violino, e iniciou-se nas matérias teóricas. Terminou o curso com 17 anos, e destacou-se tanto que foi imediatamente convidado para assumir o cargo de professor adjunto de violino da mesma escola.

Logo em seguida Claudio Santoro tornou-se também professor de harmonia.

Claudio Santoro e a vanguarda

Começou então a compor, antes de completar 20 anos de idade. Havia escrito algumas poucas peças quando tornou-se aluno de Hans Joachim Koellreutter, com quem aprendeu a técnica dodecafônica.

Hans Joachin Koellreutter
Hans Joachin Koeullretter

Embora tenha se ligado plenamente à música mais moderna e experimental de sua época, Santoro nunca abandonou a escrita musical mais tradicional. Em muitas de suas primeiras obras mesclou o estilo tradicional com a modernidade do dodecafonismo, e isto viria a ser uma marca em toda sua obra.

Os anos passavam e Cláudio Santoro além de compor trabalhava como violinista na Orquestra Sinfônica Brasileira. Já havia escrito várias obras, com destaque para seu 1º quarteto de cordas, que foi a premiado em um concurso em Washington.

Santoro também já tinha completado duas sinfonias, das quais a segunda era admirada pelo célebre regente alemão Erich Kleiber, que na época vivia na América do Sul.

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Erich Kleiber

Cláudio Santoro na Europa

Em 1947, Santoro foi premiado com uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim. Contudo, não pode dela usufruir, pois teve seu visto de entrada nos Estados Unidos da América do Norte negado.

Foi então para a França, onde estudou com Nadia Boulanger, uma das mais importantes e requisitadas professoras de composição do século XX. Boulanger teve entre seus alunos ninguém menos que Astor Piazzolla, Igor Stravinsky, Leonard Bernstein, Aaron Copland, entre tantos outros.

Nadia Boulanger, professora de Claudio Santoro em Paris
Nadia Boulanger

De Paris, Santoro foi para Varsóvia e Praga, estabelecendo uma forte ligação com a cultura dos países da então Cortina de Ferro.

Em 1948 foi o delegado Brasileiro no 20. Congresso de Compositores Progressistas de Praga.

Esse congresso condenou a música dodecafônica como “Burguesa e Decadente”. Isso causou grande impacto sobre Cláudio Santoro, que vinha trabalhando uma espécie de mistura entre os estilos dodecafônico e nacionalista.

Cláudio Santoro, o fazendeiro da paz.

Voltando ao Rio em 1949, não conseguiu nenhum trabalho na área musical, e para ganhar a vida aceitou o emprego de administrador de uma fazenda em Minas Gerais.

Compôs muito pouco nesse período, até que em 1950 surge uma obra que marca o final de sua crise: o Canto de Amor e Paz, para orquestra de cordas.

Santoro, que já havia composto 3 sinfonias, 3 sonatas para violino e piano, 3 quartetos de cordas, entre outras peças, alcança com o Canto de Amor e Paz uma expressão musical da maior sinceridade, ainda não encontrada em suas obras anteriores.

O grande compositor armênio Aram Katchaturiam declarou que esta peça se assemelhava a uma grande canção em forma de Sinfonia.

Cláudio Santoro (1919-1989): Canto de Amor e Paz. Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, de Brasília, dirigida Sérgio Kuhlmann.

De volta ao Rio de Janeiro

A partir da década de 50, Cláudio Santoro estabeleceu-se no Rio de Janeiro e trabalhou em várias frentes. Elaborou um programa infantil na Rádio Tupi e escreveu partituras para cinema que lhe fizeram merecer um prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte.

Com o Canto de Amor e Paz a música de Santoro se tornava mais lírica. E em 1954, dentro desse espírito, surge uma série que eu considero especial: são as “Paulistanas”, para piano solo, pequenas peças de grande beleza e simplicidade.

Cláudio Santoro – Paulistana n.5 Abnader Domingues, piano.

Canções de Amor

Uma bela surpresa no catálogo de Cláudio Santoro são suas “Canções de Amor”, feitas em parceria com ninguém menos Vinícius de Moraes. Como seria de se esperar, nesta coleção e a música de Santoro se aproxima bastante de nossa música popular.

E aqui vai um depoimento pessoal: eu tive a oportunidade de conviver um mês com Cláudio Santoro em 1983, durante o Festival de Música Pró-Arte, realizado na cidade de Teresópolis. Na ocasião tive com ele aulas de regência.

Toda noite havia recitais e concertos. Numa delas as canções foram apresentadas e me impressionaram muito. Ao conversar sobre elas com o mestre ele me disse: “essas canções eu compus quando estava perdidamente apaixonado….” Por quem, ele não revelou….

A obra mais conhecida de Cláudio Santoro

Vamos agora a uma pequena peça que talvz seja a obra mais popular de Santoro, o Ponteio. Escrito também nos anos 50, para orquestra de Cordas, o Ponteio é uma peça nacionalista, como viriam a ser muitas de sua última fase. Agrada a qualquer público e não é de difícil execução; por isso é muito difundida.

Cláudio Santoro: Ponteio. Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Maestro John Neschling.

As Sinfonias

Num texto sobre as obras de Claudio Santoro, não podemos deixar de falar de suas sinfonias. Santoro escreveu nada menos que 14 delas, que formam uma parte portentosa de sua obra.

Por ter sido músico de orquestra por muitos anos, Santoro compreendia a fundo a linguagem e sonoridade sinfônicas, de modo que todas suas sinfonias são no mínimo maravilhosamente orquestradas.

Muitas foram executadas por orquestras européias, como o Filarmônica de Leningrado e a Sinfônica da Rádio de Berlim.

Ainda naquele Festival de Música da Pró-Arte, em 1983, houve uma noite em que Cláudio Santoro fez uma conferência, falando sobre sua vida e obra. Ao final, ele fez tocar um CD, em que a Orquestra de Leningrado executava a sua 5a. Sinfonia.

Ao final, houve uma verdadeira ovação, com todos nós, alunos e colegas, aplaudindo em pé por vários minutos.

Na capa deste CD, há uma frase de Santoro que eu considero um verdadeiro resumo de sua vida. Ei-la:

Eu faço música como quem faz sapato. Cada um tem um dom. Deus me deu esse dom e é isto que eu faço. Vou fazer música até o fim”.

Finalizemos com este link para o youtube, onde nosso leitor poderá ouvir sua 4a. Sinfonia, em um belíssimo registro feito pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, dirigida pelo maestro John Neschling.

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