Carnaval

Existe música clássica de carnaval?

De início podemos pensar que a música de concerto e a esta festa extremamente popular não têm absolutamente nada a ver, mas pesquisando um pouco descobrimos que isso não é verdade.

Há, sim, no repertório erudito várias obras importantes que se referem ao Carnaval.

Nós brasileiros nos sentimos tentados a achar que o nosso carnaval é uma festa única, diferente de tudo que se faz no mundo. Contudo, por mais que o carnaval do Brasil seja mesmo muito especial, não devemos nos esquecer de que ele é uma festa universal e muito, muito antiga.

Saturnália

Suas origens são pré-cristãs. Alguns estudiosos acham até que elas remontam aos bacanais romanos; outros vão além, associando-o a festas em louvor a deuses egípcios, que teriam sido importadas pelos romanos.

Em Roma havia uma festa chamada Saturnália, em que um carro na forma de um barco desfilava em meio a uma multidão que usava máscaras e fazia muitas brincadeiras. São elementos que nosso carnaval mantem até hoje.

Carnaval Romano

Caricatura de Berlioz

“Carnaval Romano”, do compositor francês Hector Berlioz, é uma abertura sinfônica pura, ou seja, não foi composta para abrir uma ópera ou ballet, mas como peça de concerto independente. Foi escrita em 1843 e executada pela primeira vez em 1844.

Ela leva esse nome porque Berlioz utilizou nela temas de uma outra obra sua, a ópera Benvenuto Cellini, na qual há uma cena de carnaval. O tema principal pertence justamente a esta cena.

Ela começa com um impetuoso ritmo de tarantella, mas logo surge uma longa melodia lenta dedicada ao corne-inglês. Apesar desta melodia em particular ser melancólica, a abertura tem um tom geral bastante alegre, terminando esfuziantemente, e justificando plenamente a fama que Berlioz tem de ser um dos melhores orquestradores de todos os tempos.

Berlioz: Le carnaval romain ∙ hr-Sinfonieorchester ∙ Alain Altinoglu

Roma à Idade Média

Enquanto a religião cristã se expandia pela Europa, alguns papas procuraram combater os festejos romanos. Outros foram mais tolerantes, talvez intuindo que seria melhor permitir que tais festas existissem para em seguida iniciar-se um período de recolhimento: a quaresma.

A quaresma se estabeleceu definitivamente no ano de 1091, e em consequência disso estabelece-se também o Carnaval.

Com o Renascimento, no século XVI, surgem os bailes de máscaras, as fantasias e os carros alegóricos. Isso se mantém até hoje em diversos locais, sendo célebres as festas em Veneza, na Alemanha, Espanha, e na França, onde o carnaval costuma ser chamado de Mardi Gras, ou terça-feira gorda.

Natureza, Vida e Amor

No século XIX, o compositor tcheco Antonin Dvorak trabalhou com o tema “Carnaval” de uma maneira muito e interessante.

Ele concebeu um tríptico, sendo cada peça uma abertura sinfônica, que chamou de “Natureza, Vida e Amor”.

Antonin Dvorak

A primeira das obras, opus 91, Dvorak deu o nome de “Em meio à natureza”. Sua ideia era referir-se à natureza como manifestação direta de Deus.

Em seguida contrapõe-se a ela a vida humana, e para essa peça Dvorak escolheu o título de Carnaval. Estão aqui o divino e humano justapostos. Finalmente, a terceira peça, opus 93, que se refere ao amor, Dvorak deu o nome de Otelo, numa referência ao fantástico drama de Shakespeare.

Embora a rigor essas três obras sejam em verdade poemas sinfônicos brilhantemente organizados em um tríptico, elas são, como eu disse, habitualmente tocadas em separado. Neste caso, costuma-se chamá-las de Aberturas.

Momoprecoce

Falando sobre o Carnaval na música de concerto, não poderíamos deixar de mencionar algum autor brasileiro. Villa-Lobos faz referência a esta grande festa com “Momoprecoce”, para piano e orquestra, composta em 1929.

Mas se falamos de Momoprecoce, temos antes que falar de uma outra obra de Villa-Lobos, uma suíte de 8 pequenas peças para piano intitulada “Carnaval das Crianças Brasileiras”. Ela retrata um pequeno bloco carnavalesco composto por crianças fantasiadas.

A primeira é O Ginete do Pierrozinho; descreve um pierrozinho cavalgando seu cavalinho de madeira. Em seguida, o menino fantasiado de dominó se diverte com seus guizos barulhentos. São Os guizos do Dominozinho. No final, várias crianças fantasiadas saem em bloco: é a “Folia de um bloco Infantil”.

A obra foi escrita em 1920, e em 1929 Villa-Lobos retrabalhou todos os seus temas para criar uma outra obra de grande envergadura, um verdadeiro concerto para piano e orquestra que se tornaria uma de suas mais tocadas obras sinfônicas.

Batizou-a de “Momoprecoce” que viria a ser gravada por muitos pianistas de todo o mundo.

Villa-Lobos – Momoprecoce – Fantasia para Piano – Parte 2 – Cristina Ortiz e Roberto Tibiriçá

Espero que tenha gostado deste post!

E aqui vai uma sugestão de leitura sobre a rica música de Villa-Lobos!

Clique na imagem acima, e você irá para o site da Amazon Brasil, onde poderá ter mais informações.

Ah, e não vá embora sem antes deixar um comentário!

Saudações Musicais!

Siga-nos! Dê seu like! Compartilhe! E Obrigado!!!
error
fb-share-icon

10 comentários em “Carnaval”

  1. Sensacional Maestro Galindo! Adorei não só suas excelentes explicações como os belos trechos musicais escolhidos. Muito obrigado e bom Carnaval para todos nós

  2. Mais uma vez nosso Maestro dand sinais para que cada vez mais entenda-se a música que de clássica pode atingir vários gostos musicais.

  3. Valeu pelo banho de cultura, Maestro – mas me diga: e o Carnaval dos Animais, de Saint-Säens? Tenho a referência de que é uma obra “jocosa”, que ele permitiu ser tocada integralmente após sua morte e que foi composta nessa época de Carnaval; confere?

    1. Sim, tem toda razão.

      Poderia ter sido incluida no meu artigo. Mas preferi me referir, desta vez, a obras menos conhecidas.

      Obrigado pelo comentário! 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *