Mozart e o Classicismo

Muitos musicólogos divergem sobre a definicão desse estilo, mas convergem em um ponto: a obra de dois compositores austríacos são seu grande paradigma, o grande modelo. São eles Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus Mozart.

Música clássica: nove sinfonias de Haydn que precisa de ouvir
Joseph Haydn (1832-1809)
Wolfgang Amadeus Mozart: músicas com letras e álbuns | Ouvir na Deezer
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Classicismo e Mozart: uma síntese

Os clássicos como Haydn e Mozart fizeram uma síntese de tudo o que acontecia em sua época: o contraponto, que já estava em desuso e remetia ao fim do barroco; o onipresente estilo galante; o estilo sensível; e o sturm und drang -Tempestade e Estresse em português.

Fazendo essa síntese, eles lançaram mão de um ingrediente fundamental: o equilíbrio! – nem o extremo racionalismo da música contrapontística, nem a frivolidade do estilo galante; nem os excessos emocionais do estilo sensível ou do sturm und drang.

Exagerado.

Para entender bem o que foi esse equilíbrio na música do século XVIII, nada como observarmos o oposto.

Clicando no link abaixo você poderá ouvir uma peça de um compositor cujo estilo era considerado “exagerado” por W A Mozart: Anton Schweitzer, alemão que vivweu entre 1735 e 1787. De Schweitzer, a abertura da ópera Alceste.

Concerto Köln. Regente: Michael Hofstetter

Esta peça, caro ouvinte, é uma típica abertura em estilo francês do século XVII, mas foi escrita no final do século XVIII, em 1773. Era algo completamente fora de moda.

Sobre esse compositor Mozart escreveu: “sua música não é natural, tudo nele é exagerado”

Mozart, Moderação

Segundo o musicólogo Daniel Heartz, Mozart recorrentemente ressaltava as virtudes da moderacão, que para ele eram o fio que permitia que os pensamentos musicais se sucedessem com naturalidade.

Talvez essa seja, caro leitor, uma das melhores definições do assim chamado “Classicismo Vienense”.

Para conferir este equilíbrio eu sugiro ouvir o 1º movimento da Sinfonia nº 36, de Mozart, apelidada de Sinfonia “Linz”.

Nesta peça nada é exagerado, nada é “over”, para falar na linguagem da moda. Quando parece que a emocão ou a energia vai transbordar, Mozart a contém e introduz algo de novo.

Scottish Chamber Orchestra. Regente: Sir Charles Mackerras.

Nada de Monotonia.

Este 1º mov da Sinfonia nº 36 de W A Mozart, é uma obra basicamente em estilo galante, mas que nunca cai em monotonia, sempre deixando o pêndulo oscilar para momentos de grandiosidade ou intimismo, mas nunca com exagero.

Para não ficarmos só no campo da Sinfonia, vamos mudar de gênero, indo agora para um concerto de Mozart.

Escolhi como exemplo o 1º movimento do seu Concerto nº 23, em Lá maior.

Este é em minha opinião uma absoluta obra-prima em se tratando de equilíbrio e bom gosto.

Pense em uma viagem…

Já aconteceu com vc, caro leitor, de fazer uma viagem, e na volta, chegando em casa, se sentir cansado e dizer: ufa, finalmente de volta. Isso é muito comum, não é? A praia estava ótima, o restaurante também, a companhia idem, mas quando chegamos em casa é um alívio.

E o contrário? Vc está chegando em casa, e tem aquela sensação de perfeição: a viagem não foi longa demais nem curta demais, nem cansativa. É bom estar de volta, e tudo parece ter sido perfeito.

Pois é isso o que eu sinto quando ouço essa peça.

Deguste cada segundo desta obra de Mozart, e depois me diga se você concorda comigo.

Vladimir Horowitz. Orquestra do La Scala de Milão. Regente: Carlo Maria Giulini.

Emoções.

Pois bem, um leitor pode perguntar: mas Mozart nunca se deixou levar por emoções mais fortes?

Aqui e ali, podemos sim observar essa tendência. Nas sinfonias há apenas um exemplo, a Sinfonia nº 25.

Esta é a única sinfonia de Mozart que se aproxima do estilo sturm und drang, e justamente por ser a única muitos estudiosos advogam que se trata de uma exceção, de um ponto fora da curva em sua produção sinfônica.

Nela, Mozart teria usado os elementos Sturm un Drang como um tempero, um flavorizante especial, nos momentos em que achava necessário.

Clicando no link abaixo, você ouvirá o seu 1o. movimento.

Academy of Sanit-Martin-in-the-Fields. REgente: Neville Marriner.

Minueto grotesco.

Outro exemplo interessante é o 3o. movimento desta mesma sinfonia, um minueto.

Mozart definiu um começo estranho, quase grotesco, muito estranho para uma dança que deve ser elegante. Isso é típico do estilo sturm und drang: chocar o ouvinte.

Mas na parte central da peça o que temos é o mais puro e genuíno estilo galante.

Clique no link abaixo para ouvi-lo.

Academy of Sanit-Martin-in-the-Fields. REgente: Neville Marriner.

Música de Câmara

Vamos agora para a música de câmara de Mozart, com uma peça que eu considero muito especial: o quinteto de cordas em do menor, índice Koechel 406.

O seu 1º movimento tem, em minha opinião, o pé bem fincado no Sturm und Drang: tonalidade menor, ritmo pulsante, harmonias e melodias apaixonadas, momentos de impacto, com grandes silêncios.

Uma peça envolvente, mas …. como sempre, no caso de Mozart …muito equilibrada!

Quarteto Amadeus e Cecil Aranowitz.

Esta é uma obra forte, marcada por elementos do estilo sturm und drang , mas subordinados à mais perfeita ordem e equilibrio classicos …. e porque não dizer …. Mozartianos.

Até a próxima postagem!

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15 comentários em “Mozart e o Classicismo”

  1. Não sei por que mas ouvindo essas três peças de Mozart, lembrei me da maldade que fazem com Vivaldi, ao dizerem que ele compôs a mesma música diversas vezes. Essa mesma boutade não se aplicaria a Mozart? De qualquer forma, ao contrário de quem assim pensa, isso para mim só prova a genialidade deles. Ambos deixaram em suas obras a sua personalidade, no sentido de que seja qual for a peça deles, ali sabemos de quem se trata, o que muitos confundem isso, equivocadamente, com falta de originalidade. Parabéns e muito obrigado maestro pelas análises sempre claras e precisas ou por que não, equilibradas assim como a música dos mestres do classicismo vienense.

    1. Caro Lincoln, quem fez esse comentário maldoso foi ninguém menos que Stravinsky. E sobre isso, eu estou de acordo com vc em 100%. Vivaldi foi um músico soberbo, muito influente em seu tempo. Basta dizer que J. S. Bach estudou diversas de suas partituras e transcreveu para instrumentos de teclas pelo menos 10 concertos para cordas do mestre italiano. Explorar as obras de Vivaldi é como entrar numa caverna onde está escondido um valioso tesouro! Abraços do maestro!

    2. Um estilo é em si certa repetitividade; mas é aí que está o boom da criatividade, ousar a partir dessa coerência. E foi o que Vivaldi mais fez; com a arte das cordas, com os sopros, com o concerto solista, com a obra vocal.

  2. Muito agradecido pelo site e pela estrutura deste.e , é claro, a análise com exemplos de ótimas gravações .Após algumas dezenas de anos como ouvinte da música essencial, a que chamamos clássica , sinto que é impar termos informação com conhecimento ! Seguindo!

  3. Agradeço a professora Rosilda Vasconcelos violoncelista da sinfônica do Recife PE por ter me dado a oportunidade única em toda minha vida de LER E OUVIR simultaneamentE, sobre tão bem elaborado texto que me incentivou tanto após este aprendizado.
    Gratidão a ela e parabéns ao autor.

    1. Ôpa! Que bom que meu site está sendo visitado em Recife, terra do meu pai! Fico muito feliz! Apareça mais vezes, o site está crescendo! Abraço do maestro!

  4. Muito esclarecedor! Sou apreciador musical, interesso-me muito para entender a teoria por trás das composições, mas infelizmente não tenho nenhuma formação musical. Sua postagem é bem equilibrada nesse ponto! Gratidão pela partilha.

  5. Pingback: Sinfonia Inacabada

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