Sinfonia Concertante

Volta e meia alguém me pergunta o que é uma Sinfonia Concertante; é mais concerto que sinfonia? Ou está mais para uma sinfonia que para um concerto? Hoje vamos acabar com essa dúvida e saber mais algumas coisas a respeito desse gênero musical.

Para começar, não custa nada relembrarmos a diferença entre uma sinfonia e um concerto. Quando se fala em sinfonia, a primeira coisa que vem à mente é a Orquestra. A Sinfonia é, portanto, uma obra musical escrita para ser tocada por uma orquestra.

Concerto

Já quando o assunto é Concerto, além da orquestra, temos a figura do solista – aquele músico que se destaca da orquestra e é acompanhado por ela. Além disso, o solista tem que ser um músico excepcional, que encanta o público com suas habilidades técnicas e artísticas. Assim, não seria errado dizer que a grande diferença entre concerto e sinfonia é mesmo a presença do solista.

Esses dois gêneros são obras em 3 ou 4 movimentos, na maioria dos casos; como se fossem capítulos de um livro; e esses movimentos devem ser sempre contrastantes. Se o 1º for rápido, o 2º será em andamento mais lento; se o 1º é alegre, pra cima, o 2º deve ser mais tranquilo.

Então surge de repente essa tal de sinfonia concertante, para confundir dois conceitos que são tão precisamente distintos… palavras, palavras, palavras… o jargão musical é realmente confuso e impreciso.

Origem

Vamos então direto ao ponto: a Sinfonia Concertante é um concerto; um tipo específico de concerto, que surgiu na França, ou sendo mais preciso, em Paris, por volta de 1767. É uma variante francesa do concerto clássico. Ele tinha as seguintes características:

1ª Era um concerto em que atuavam pelo menos dois solistas, como dois violinos, um violino e um violoncelo, um oboé e um fagote, uma flauta, um oboé e um violoncelo, e assim por diante. Várias combinações foram experimentadas, mas sempre com mais de um solista.

2ª A maioria das sinfonias concertantes francesas tinha apenas dois movimentos – diferente dos concertos conhecidos, que sempre tinham pelo menos três.

3ª Elas sempre música agradável e leve; nada de emoções profundas ou estados de espírito sombrio. Quando uma sinfonia concertante tinha três movimentos, aí sim, nesse caso, um deles era lento; mas mesmo assim, era relaxado e gracioso, nunca dramático.

Giuseppe Maria Cambini

Vamos então a um exemplo, uma Sinfonia Concertante para oboé, fagote e orquestra, em dois movimentos, Allegro e Allegretto, de autoria de Giuseppe Maria Cambini… Mas acabei de dizer que a Sinfonia Concertante é um gênero francês, e começo com um compositor italiano? Pergunta oportuníssima. Mas sugiro ouvirmos a música, e depois eu explico.

Giuseppe Cambini – Sinfonia Concertante No.5 for Oboe and Bassoon in B-flat major

E agora vamos ao compositor, Giuseppe Maria Cambini, que nasceu em 1746 na cidade toscana de Livorno. Com 27 anos ele mudou-se para Paris, e bastou que uma de suas sinfonias fossem tocadas em público, para agradar em cheio o público da capital francesa. Lá ele se fixou, produzindo nada menos que 82 sinfonias concertantes, além de 9 sinfonias e 17 concertos tradicionais, além de 14 óperas.

Sua popularidade só declinou a partir de 1810, quando as sonoridades românticas começaram a surgir. Cambini foi, portanto, um italiano que se fixou em Paris, e lá construiu toda sua carreira. Eu quis começar com uma música sua porque ele foi um dos compositores mais emblemáticos da Sinfonia Concertante.

François Joseph Gossec

Mas vamos agora a um francês de verdade, François Joseph Gossec. Clicando na imagem abaixo, você ouvirá a sua Sinfonia Concertante em ré maior para flauta violino e orquestra.

Essa já é uma sinfonia concertante com três movimentos; mas são três que valem por dois, pois o primeiro é muito curtinho, não chega a um minuto e meio; e os três movimentos juntos duram menos que os dois da Sinfonia Concertante de Cambini que ouvimos.

Eu chamo também sua atenção, caro leitor, para o movimento lento da obra; exatamente como eu disse há pouco, não há aqui nenhum drama, nada de cores sombrias ou tristeza… ele é leve e delicado, passando uma deliciosa sensação de bem-estar.

Symphonie concertante du ballet de “Mirza” for Flute, Violin & Orchestra in D Major, Br. 90

Tipo Específico

Como você certamente constatou, as duas obras que ouvimos são semelhantes: música agradável, leve, com belas melodias, e sem emoções fortes. Típicas sinfonias concertantes do classicismo francês.

Cambini poderia ter chamado sua Sinfonia Concertante de “Concerto para Oboé, Fagote e Orquestra”? Sim, poderia, do mesmo modo como Gossec poderia ter chamado a sua de “Concerto para Flauta, Violino e Orquestra”. Mas não o fizeram porque os compositores franceses queriam mesmo um nome diferente para aquele tipo específico de concerto que estavam produzindo, e que aliás, fazia muito sucesso.

Durante o século XIX o classicismo de Viena foi grandemente promovido e divulgado, graças à obra dos gigantes Mozart e Haydn. Com muita justiça, faço questão de dizer. Contudo, por causa disso, acabamos nos esquecendo dos outros sotaques do estilo clássico. Paris sempre foi um fantástico centro musical, e é uma pena não conhecermos o que se fez por lá durante esse período.

A Sinfonia Concertante francesa se tornou tão popular que acabou sendo exportada; diversos compositores estabelecidos em outros centros musicais produziram obras do gênero.

Jean-Baptiste Davaux

Davaux era de uma pequena cidade do interior da França, e mudou-se para Paris com 25 anos de idade. Lá ficou até o final de sua vida e tornou-se o maior rival do italiano Cambini.

Documentos da época registram uma enorme quantidade de execuções de suas sinfonias concertantes – isso numa época em que o público, diferentemente de hoje, exigia constante renovação de repertório.

No link abaixo temos uma sinfonia concertante de Davaux que oferece o mesmo tipo de música agradável típica do gênero; mas em se tratando de suas dimensões, é uma exceção: ela dura mais de 20 minutos.

Além disso, há outra curiosidade. Reparem em seu título completo: “Sinfonia Concertante para dois violinos e orquestra, entremeada de canções patrióticas”

Ouça e divirta-se!

Jean-Baptiste Davaux: Symphonie concertante in G melée d’airs patriotiques (1794)

Esse é um exemplo de música que estava em consonância com a Revolução Francesa; muitos compositores fizeram obras do gênero, por serem verdadeiros entusiastas da Revolução…. ou por uma simples questão de sobrevivência…

De qualquer forma, uma obra francesa até a raiz, como foi o próprio gênero chamado de Sinfonia Concertante.

Espero que tenha gostado deste post!

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Saudações Musicais!

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8 comentários em “Sinfonia Concertante”

  1. Maestro
    Mais uma vez o Maestro veio com grandes preciosidades (metáfora).
    Interesaante o mundo da música clássica rica em diversidades audíveis.

  2. Como é bom adquirir conhecimento em casa, no sofá, com toda pesquisa pronta para ler e ainda, trechos belíssimos para se ouvir.
    Maestro, muito obrigada pelo seu árduo trabalho e por compartilhar, nos proporcionando a oportunidade de aprender.
    Por tudo isso, sou muito grata.
    Feliz 2024!!!

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