Sinfonia Inacabada

Cara leitora, caro leitor: qualquer apreciador de música de concerto, quando ouve a expressão “Sinfonia Inacabada”, pensa imediatamente na célebre Sinfonia Inacabada, de Franz Schubert.

Franz Schubert, autor da célebre Sinfonia Inacabada.
O compositor austríaco Franz Schubert

O que muitos não sabem é que, além desta, há muitas outras obras não concluídas, de diversos autores.

Contudo é natural que pensemos imediatamente em Schubert, pois de todas as obras ou sinfonias inacabadas do repertório, ela é de longe a mais célebre.   

Nesta postagem, vamos conhecer algumas coisas interessantes sobre ela, e em seguida veremos outras obras que também não puderam ser completadas.

Inacabada, por quê?

O mais curioso em relação à Sinfonia Inacabada, a nº 8 de Schubert, é que ele poderia tranquilamente tê-la concluído, se quisesse.

Schubert terminou o segundo movimento da obra em 1822, e faleceu em 1828. Teve portanto mais 6 anos de vida, e mesmo assim, não concluiu a terminou.

Até hoje os musicólogos se perguntam porque.

O que sabemos com certeza é que Schubert não concebeu a obra para ter apenas dois movimentos, como alguns pensam, pois ele efetivamente começou a escrever um terceiro.   

Partitura do 30. movimento, não concluído, da Sinfonia Inacabada, de Schubert.
Primeira página da partitura do 3o. movimento, inconcluso, da “Sinfonia Inacabada”, de Schubert.

Schubert abandonou o projeto, muito provavelmente porque envolveu-se com outros trabalhos mais urgentes, que lhe podiam render algum dinheiro ou notoriedade.

O trabalho foi efetivamente deixado de lado, e nunca foi executado durante a vida do compositor.

A primeira execução da Sinfonia Inacabada só aconteceu em 1865, em Viena – pasme, caro leitor – 37 anos após a morte de Schubert!

A “Inacabada” é uma obra grande importância. Mesmo incompleta, ela foi  sem qualquer dúvida um dos marcos da primeira fase do romantismo na  música européia.

Ainda que lhe faltem o 3º e o 4º movimento, ela é perfeita, de grande personalidade.

Nada parecido com ela havia sido feito até então.

Outra obra inacabada: o Requiem de Mozart

Depois da Sinfonia nº 8 de Schubert, a obra inacabada mais lembrada pela maioria das pessoas é a Missa de Requiem de Wolfgang Amadeus Mozart.

Diferente de Schubert, sabemos porque Mozart não concluiu seu Requiem.

Em 1791, Mozart vivia sérios problemas financeiros, e de modo que aceitou várias encomendas.

Assim, neste ano ele estava envolvido com os seguintes trabalhos: a composição da ópera “A Flauta Mágica”; a composição da ópera “La Clemenza di Tito”; o concerto para clarineta e orquestra; e o Requiem.

Com todo essa atividade, que o deixava verdadeiramente fatigado, Mozart teve de postergar a composição do Requiem.

Retrato inacabado de Mozart.
Joseph Lange, 1782.
Retrato inacabado de Mozart, feito em 1782, de autoria de Joseph Lange. Segundo depoimentos de contemporâneos do compositor, é muito fiel à aparência de Mozart.

Após concluir duas obras primas absolutas, o concerto para clarineta e a ópera Flauta Mágica – da qual teve que se envolver também na produção e direção da primeira récita – Mozart voltou ao Requiem. Mas seria tarde demais.

Sua saúde se deterioraria rapidamente, e ele viria a falecer no dia 5 de dezembro deste ano de 1791.

Quem completou o Requiem?

Após a morte de Mozart, Constanze Weber, sua esposa, pediu a um discípulo do compositor, chamado Joseph Eybler, que completasse o Requiem.

Ele fez algum trabalho de orquestração, mas logo devolveu os manuscritos, sentindo-se incapaz de concluir a obra.

Constanze procurou outros compositores, e por fim entregou a partitura a outro aluno de Mozart, Franz Xaver Süssmayr, que terminou o trabalho.

Partitura do Requiem de Mozart, outro exemplo de obra prima inacabada.
Manuscrito original do Requiem, preservado na Biblioteca Nacional da Áustria

Além de concluí-lo, Süssmayr também falsificou a assinatura de Mozart, com a data de 1792, embora todos soubessem que Mozart já estava morto.

Não se sabe com 100% de certeza o que foi feito por Mozart e o que foi feito por Süssmayr. Por exemplo, não se encontrou nenhum trecho das seções finais, Sanctus, Benedicts e Agnus Dei, com caligrafia de Mozart.

Mas a música é boa demais para acreditarmos que seja toda ela de Süssmayr. É possível que ele tivesse rascunhos de Mozart em que se basear.

As Décimas Inacabadas

Em 1913 o compositor Arnold Schoenberg um fez um discurso dizendo que ninguém seria capaz de romper “limite da 9ª sinfonia”

Vejamos:

Beethoven escreveu 9 e começou uma 10ª da qual restaram apenas esboços.

O mesmo aconteceu com Schubert, que escreveu 9 sinfonias.

E o mesmo com Gustav Mahler, que deixou sua 10ª sinfonia inacabada.

Gustav Mahler, também aultor de uma Sinfonia Inacabada.
O Compositor Gustav Mahler (1860-1911)

Ele iniciou a obra em 1910, já com a saúde deblitada por problemas cardíacos.

Viria a falecer no ano seguinte, e apenas a partitura do 1º movimento da 10ª sinfonia, um adagio, estava pronta.

Ainda assim, não em forma definitiva, pois se tivesse vivido mais tempo, Mahler certamente o revisaria.

Dos outros movimentos restaram apenas esboços e pedaços avulsos.

Arqueologia Musical

Assim como aconteceu com a Sinfonia Inacabada de Schubert,  outros compositores tentaram terminar a décima sinfonia de Mahler.

Um músicólogo inglês chamado Deryke Cooke fez uma reconstrução dos três movimentos restantes, que foi apresentada em público pela 1ª vez em Londres em 1964.

Contudo, hoje em dia apenas o 1º movimento da 10º sinfonia de Mahler, é tocado.

O Concerto Inacabado

Voltemos agora nossa atenção para o compositor húngaro Béla Bartok.

Bela Bartok, cujo concerto para viola é também uma obra inacabada.
O Compositor Húngaro Béla Bartok. (1881-1945)

Bartok faleceu em 1945, com 64 anos de idade.

Cinco anos antes ele havia emigrado para os Estados Unidos, deixando para trás seu país, devido à situação politica pela qual passava a Europa, com o início da 2ª grande guerra.

Foram tempos dificeis para ele, pois sua saúde começava a declinar em função de uma leucemia, e sua música era pouco tocada.

Uma ajuda generosa veio do poderoso maestro Sergei Koussevitzky, diretor da Boston Symphony, que lhe encomendou uma grande obra.

Daí surgiu o magnífico “Concerto para Orquestra”, uma das mais conhecidas e executadas obras do compositor.

Em seguida, o violista escocês radicado nos Estados Unidos, William Primrose, encomendou-lhe um concerto para viola.

Bartok conseguiu escrever um rascunho, no qual toda a parte da viola solista estava completa, mas muito pouco havia do acompanhamento orquestral.

Após sua morte, esse manuscrito foi entregue a seu aluno Tibor Serly, que completou a obra.

A sorte, nesse caso, é que, diferente dos alunos de Mozart, Serly era um bom compositor, de modo que a associação com Bartok pode ser considerada um sucesso.

A partitura final resultou num belíssimo concerto, tocado com frequência.

Podemos dizer sem medo de errar que se tratou efetivamente de uma obra a quatro mãos.

Dicas de audições

Para encerrar, deixo aqui algumas dicas para você ouvir as obras que eu citei no texto.

O pungente segundo movimento da Sinfonia Inacabada de Schubert, executado na sala de concertos do Mozarteum de Salzburgo.

Philharmonie Salzburg Elisabeth Fuchs, regente.

O “Dies Irae”, do Requiem de Mozart, com legendas em português.

Décima Sinfonia de Mahler, adagio.

Filarmônica de Viena dirigida por Leonardo Bernstein

O Concerto para viola de Bartok e Sérly.

Luosha Fang, viola. Orquestra Sinfônica da Rádio da Eslováquia.

Dicas de leitura

Aqui algumas dicas de leitura.

Dois ótimos livros sobre Schubert e Mozart.

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