Liszt e a Música Sacra

Retrato de Franz Liszt (1811-1886) pot Henri Lehmann

Uma personalidade fascinante por suas contradições, Liszt tinha um lado fortemente ligado às coisas terrenas – inúmeros casos amorosos, fascínio pela música dos ciganos – e uma premente necessidade de desenvolvimento espiritual.

Várias vezes durante sua vida pensou seriamente em tornar-se padre, chegando mesmo, na velhice, a receber as ordens menores da Igreja Católica.

Durante os últimos anos de sua vida, Liszt ocupou-se principalmente de música sacra.

O Sacro e o Profano

Alphonse de Lamartine por Théodore Chassériau

Aos dez anos de idade Liszt mudou-se de uma pequena cidade no interior da Hungria para Viena, a capital do império austro-húngaro, onde estudou piano com Czerny e composição com Salieri. Lá deu seu primeiro concerto público, com grande sucesso, pouco depois de ter completado 11 anos.

No ano seguinte mudou-se para Paris, continuando seus estudos de piano e composição. Suas primeiras composições foram obras virtuosísticas para piano, baseadas em melodias extraídas de óperas de Rossini e Spontini. Virtuosismo e entretenimento. Mas logo ele iria começar a escrever peças mais sérias, e em 1834, quando tinha 23 anos, escreveu finalmente uma obra que demonstrava sua maturidade e personalidade: as Harmonias Poéticas e Religiosas.

Não se trata de uma obra de música sacra tradicional, feita para ser tocada em um culto ou serviço religioso; é uma peça para piano solo, e não há nenhum texto religioso para ser cantado. Mas é interessante como Liszt, ao escrever sua primeira obra pessoal, procura olhar para os dois universos de sua personalidade, o sacro e o profano.

A obra é inspirada em uma coleção do poeta francês Lamartine, que viveu entre 1790 e 1869, e cujas obras exerceram um papel importantíssimo no desenvolvimento do Romantismo em toda a Europa.

Harmonias Poéticas e Religiosas

Quem ouve a peça de Liszt sem prestar muita atenção pode ter a impressão de que se trata de um pianista improvisando. Durante a maior parte dela não há um ritmo definido, as suas diferentes seções não são repetidas, nem desenvolvidas. Procuram levar o ouvinte a diferentes estados de espírito, talvez do mesmo modo como faria a leitura de um poema – ou deste poema de Lamartine, em particular.

Mas por entre as fibras dessa mutação musical constante há uma pequena célula que sempre retorna. É ela que dará alguma unidade à peça, fazendo uma espécie de contrapeso para essa liberdade improvisória.

Liszt – Harmonies poétiques et religieuses, S154 (Dráfi)

Caso procure adquirir um CD com a obra acima, poderá encontrar uma outra obra, completamente diferente, muito mais longa, com cerca de uma hora de duração. É que Liszt compôs, 13 anos mais tarde uma outra obra com o mesmo título.

Música Religiosa

Il Concerto di Natale nella Basilica di Sant’Anastasia FOTO BRENZONI

Vamos à música sacra de Liszt, em senso estrito. A primeira peça do gênero que ele escreveu foi um Tantum Ergo, cuja partitura se perdeu. Tinha 11 anos. Ou seja, desde cedo esse gênero tomava sua atenção.

Mas a produção de música religiosa tomou um real impulso a partir dos seus 30 anos de idade, escrevendo um grande número de obras, desde grandes oratórios, até pequenos motetos, para voz solista acompanhada, coro sem acompanhamento, coro e órgão e coro e orquestra.

Liszt tinha objetivos muito claros, e queria mesmo provocar uma revolução na música sacra de seu tempo, que ele considerava constrangedoramente sentimental.

Defendia substituir a “emoção barata” por uma verdadeira introspecção religiosa. Liszt dizia que “se as palavras não são suficientes ou adequadas para conduzir o verdadeiro sentimento religioso, a música lhes transfigura e lhes dá asas”.

Canto para o Sol de São Francisco de Assis

O “Canto para o Sol de São Francisco de Assis” é outra obra notável. Há duas versões dela, uma para barítono e orquestra e outra para barítono e órgão. É esta segunda:

Liszt: Canto do sol

Christus

Vejamos agora o oratório Christus, uma obra gigantesca, que dura mais de duas horas e meia.

Ela é dividida em três grandes partes: a 1ª é um oratório de Natal, ou seja, trata do nascimento de Jesus, a 2ª refere-se a algumas passagens de sua vida, e a 3ª é a paixão, sua morte e ressureição.

O célebre filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ao ouvir um trecho da obra, em 1867, declarou que Liszt havia encontrado o caráter da excelência do Nirvana.

I. Weihnachts-Oratorium: No. 2 Pastorale und Verkündigung des Engels
III. Passion und Auferstehung: No. 13 O filii et filiae (Easter Hymn)
III. Passion und Auferstehung: No. 14 Resurrexit

Nessa obra gigantesca e admirável, Liszt procurou unir o mais refinado artesanato musical com verdadeira devoção religiosa. Para quem gosta de música sacra fica aqui a dica de conhecer a obra na íntegra. É uma tarefa para se fazer aos poucos, pois são 2 horas e 40 minutos de música, que resumem toda a vida de Jesus Cristo.

Espero que tenha gostado deste post!

E aqui vai uma sugestão de CD para que conheça mais sobre a obra de Liszt!

Clique na imagem acima, e você irá para o site da Amazon Brasil, onde poderá ter mais informações.

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Saudações Musicais!

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2 comentários em “Liszt e a Música Sacra”

  1. Uma das maiores influencias tanto na música como todo seu entorno. Regia sem batuta, piloto de provas no desenvolvimento do piano moderno, inventou Poema Sinfônico, master class, piano com tanpa voltada para o publico para seduzir com seu perfil ( projeção sonora também ganhou )… Simplesmente fantástico.

    Presente em importância em todas formas musicais. Seja sonata, noturno, peças pré impressionistas, atonais ou com harmonias totalmente desconcertantes, oratório… sempre marcando presença sendo obrigatorio mencionar alguma obra sua como referência.

    Liszt é pleno. Em cada extremo oposto. De louvor a Deus ou Mephisto.

    A busca da fama citado nesse excelente artigo do maestro Galindo e a generosidade doando-se o causas humanitárias, artísticas e artistas. Reconhecido , reverenciado e menosprezado.
    Sempre de extremo a extremo.

    Liszt é Intenso.

    Parabéns maestro por trazer este artigo do Liszt religioso. Gostaria de dar um pitaco na seleção: Benção de Deus na Solidão. Mesmo nao sendo uma peça para o ofício religioso sua espiritualidade nos leva a uma experiência transcendente.

    Traga mais Liszt para nós!

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