Uma personalidade fascinante por suas contradições, Liszt tinha um lado fortemente ligado às coisas terrenas – inúmeros casos amorosos, fascínio pela música dos ciganos – e uma premente necessidade de desenvolvimento espiritual.
Várias vezes durante sua vida pensou seriamente em tornar-se padre, chegando mesmo, na velhice, a receber as ordens menores da Igreja Católica.
Durante os últimos anos de sua vida, Liszt ocupou-se principalmente de música sacra.
O Sacro e o Profano
Aos dez anos de idade Liszt mudou-se de uma pequena cidade no interior da Hungria para Viena, a capital do império austro-húngaro, onde estudou piano com Czerny e composição com Salieri. Lá deu seu primeiro concerto público, com grande sucesso, pouco depois de ter completado 11 anos.
No ano seguinte mudou-se para Paris, continuando seus estudos de piano e composição. Suas primeiras composições foram obras virtuosísticas para piano, baseadas em melodias extraídas de óperas de Rossini e Spontini. Virtuosismo e entretenimento. Mas logo ele iria começar a escrever peças mais sérias, e em 1834, quando tinha 23 anos, escreveu finalmente uma obra que demonstrava sua maturidade e personalidade: as Harmonias Poéticas e Religiosas.
Não se trata de uma obra de música sacra tradicional, feita para ser tocada em um culto ou serviço religioso; é uma peça para piano solo, e não há nenhum texto religioso para ser cantado. Mas é interessante como Liszt, ao escrever sua primeira obra pessoal, procura olhar para os dois universos de sua personalidade, o sacro e o profano.
A obra é inspirada em uma coleção do poeta francês Lamartine, que viveu entre 1790 e 1869, e cujas obras exerceram um papel importantíssimo no desenvolvimento do Romantismo em toda a Europa.
Harmonias Poéticas e Religiosas
Quem ouve a peça de Liszt sem prestar muita atenção pode ter a impressão de que se trata de um pianista improvisando. Durante a maior parte dela não há um ritmo definido, as suas diferentes seções não são repetidas, nem desenvolvidas. Procuram levar o ouvinte a diferentes estados de espírito, talvez do mesmo modo como faria a leitura de um poema – ou deste poema de Lamartine, em particular.
Mas por entre as fibras dessa mutação musical constante há uma pequena célula que sempre retorna. É ela que dará alguma unidade à peça, fazendo uma espécie de contrapeso para essa liberdade improvisória.
Caso procure adquirir um CD com a obra acima, poderá encontrar uma outra obra, completamente diferente, muito mais longa, com cerca de uma hora de duração. É que Liszt compôs, 13 anos mais tarde uma outra obra com o mesmo título.
Música Religiosa
Vamos à música sacra de Liszt, em senso estrito. A primeira peça do gênero que ele escreveu foi um Tantum Ergo, cuja partitura se perdeu. Tinha 11 anos. Ou seja, desde cedo esse gênero tomava sua atenção.
Mas a produção de música religiosa tomou um real impulso a partir dos seus 30 anos de idade, escrevendo um grande número de obras, desde grandes oratórios, até pequenos motetos, para voz solista acompanhada, coro sem acompanhamento, coro e órgão e coro e orquestra.
Liszt tinha objetivos muito claros, e queria mesmo provocar uma revolução na música sacra de seu tempo, que ele considerava constrangedoramente sentimental.
Defendia substituir a “emoção barata” por uma verdadeira introspecção religiosa. Liszt dizia que “se as palavras não são suficientes ou adequadas para conduzir o verdadeiro sentimento religioso, a música lhes transfigura e lhes dá asas”.
Canto para o Sol de São Francisco de Assis
O “Canto para o Sol de São Francisco de Assis” é outra obra notável. Há duas versões dela, uma para barítono e orquestra e outra para barítono e órgão. É esta segunda:
Christus
Vejamos agora o oratório Christus, uma obra gigantesca, que dura mais de duas horas e meia.
Ela é dividida em três grandes partes: a 1ª é um oratório de Natal, ou seja, trata do nascimento de Jesus, a 2ª refere-se a algumas passagens de sua vida, e a 3ª é a paixão, sua morte e ressureição.
O célebre filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ao ouvir um trecho da obra, em 1867, declarou que Liszt havia encontrado o caráter da excelência do Nirvana.
Nessa obra gigantesca e admirável, Liszt procurou unir o mais refinado artesanato musical com verdadeira devoção religiosa. Para quem gosta de música sacra fica aqui a dica de conhecer a obra na íntegra. É uma tarefa para se fazer aos poucos, pois são 2 horas e 40 minutos de música, que resumem toda a vida de Jesus Cristo.
Espero que tenha gostado deste post!
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Saudações Musicais!