Os Rivais de Bach

Placa comemorativa no local de nascimento de Christoph Graupner, em Kirchberg.

Christoph Graupner

O texto de hoje terá como tema esses dois compositores contemporâneos e rivais – no bom sentido – de J. S. Bach: Telemann e Graupner.

Talvez você nunca tenha ouvido falar do compositor Christoph Graupner. Ele foi contemporâneo quase exato de J. S. Bach: nasceu dois anos antes dele, em 1683, e faleceu dez anos depois, em 1760.

Em 1696, quanto tinha 16 anos, Graupner foi admitido como aluno da célebre Thomasschule – A Escola da Igreja de São Tomás – em Leipzig, onde Bach mais tarde viria a ser professor. E como Bach, ele foi esquecido e negligenciado após sua morte, passando a ter sua obra redescoberta só no século XX.

Contudo um fato interessante que envolveu esses dois compositores aconteceu em 1722 .

Na ocasião Graupner estava profundamente insatisfeito com seu emprego de mestre-capela na cidade de Darmstadt. Não recebia seu salário há meses, tinha muitos filhos para sustentar, e após várias tentativas de ser pago, decidiu candidatar-se ao cargo de “Kantor” – ou Diretor Musical – em Leipzig. Outro concorrente era J. S. Bach.

Mas havia já um preferido, escolhido para o cargo: ninguém menos que… Georg Philipp Telemann.

Telemann

Georg Philipp Telemann por Valentin Daniel Preisler (1750).

Telemann era um páreo duro – talvez o mais estimado compositor alemão em seu tempo. A sorte porém estava ao lado de Graupner; Telemann trabalhava em Hamburgo e em 1722 passou a dirigir a ópera da cidade, um cargo de alto prestígio que lhe proporcionou um belo aumento em seu salário. Por isso, abriu mão do emprego em Leipzig, deixando o caminho livre para Graupner.

E a sorte sorriu duplamente para Graupner: muito estimado por seu patrão, o Conde de Hesse-Darmstadt, teve todo seu salário atrasado pago, e ainda conseguiu um aumento.

Ele também abriu mão da candidatura, deixando desta vez o caminho livre para o terceiro da fila: Johann Sebastian Bach.

Após saber da escolha de Bach, Graupner enviou felicitações ao conselho municipal de Leipzig, parabenizando-o pela decisão acertada.

Acima você pode ouvir um movimento do Concerto Polonês em sol maior de Georg Philipp Telemann, uma peça para cordas, sem solista, apesar do título concerto: Musica Antiqua Koln – dirigido pelo violinista Reinhard Goebel.

Como vocês certamente notaram, este Concerto Polonês é uma música leve, fácil de ouvir.

Estilo Musical

Telemann conheceu a música popular polonesa em especial quando trabalhava na corte de um conde, da cidade de Sorau, que até a segunda metade do século XIX esteve submetida aos governantes prussianos, para então passar a fazer parte definitivamente da Polônia.

Esse estilo musical, muito diferente da austeridade típica de J. S. Bach, foi algo que contribuiu para que Telemann se tornasse um compositor tão célebre na Alemanha da primeira metade do século XVIII.

Aliás, a grande influência da música popular não foi a única diferença entre ele e Bach; enquanto este nunca saiu da Alemanha, Telemann tornou-se um artista cosmopolita; após exercer importantes cargos em seu país em Eisenach, Frankfurt e Hamburgo, mudou-se para a Paris, o maior centro musical da Europa.

Bastaram oito meses de residência na capital francesa para que Telemann obtivesse reconhecimento internacional. Com 60 anos de idade, consagradíssimo, Telemann diminuiu seu ritmo de trabalho, passando a compor menos.

Viveria ainda mais 26 anos, e ao morrer deixou uma obra gigantesca: mais de 3000 peças. Muitas que se consideravam perdidas continuam sendo encontradas, e entre elas incluem-se concertos, música de câmara, e muita música sacra.

Assim como Bach, Telemann escreveu uma belíssima Paixão Segundo São Mateus. Vamos ouvir um trecho:

Telemann – St. Matthew Passion (1746), TWV 5:31 / Aria: “Lass mich mein Teil bei deinem Sterben”.

Ópera

Telemann, Graupner e Bach, como quaisquer trabalhadores, procuravam as melhores condições de trabalho e os melhores salários. Para isso precisavam compor o que a sociedade alemã da época demandava: música sacra, música de entretenimento, e principalmente ópera; aí temos outra grande diferença entre o trabalho Bach e de seus principais contemporâneos: Bach nunca escreveu ópera.

Telemann por sua vez escreveu cerca de 40, que raramente são ouvidas atualmente. Por isso fiz questão de reservar um tempo para ouvirmos um recitativo e uma aria de sua ópera Pimpinone.

Composta em 1725, é uma obra visionária, antecipando em 8 anos a importantíssima “Serva Padrona” de Pergolesi.

Vamos ouvir o recitativo “Ich suche zwar ein Gluck” – “Estou procurando sorte”, em português, um diálogo entre as personagens Vespetta e Pimpinone, e em seguida a aria de Vespetta “Hoflich reden, lieblich singen”. – “Fale educadamente, cante docemente”.

Pimpinone, TWV 21:15, Pt. 1: Ich suche zwar ein Glück.
Heidi Laakso: Höflich reden, lieblich singen (Vespetta’s aria).

Christoph Graupner também dedicou-se à ópera, tendo escrita a primeira delas por volta dos 24 anos de idade. Seu título: Dido, a Rainha de Cartago, tema já abordado anteriormente na sublime obra prima de Henry Purcell, Dido e Eneas. Vamos ouvir um trecho:

Graupner – Dido, Königin von Karthago; Auf, Dido, auf!

Cantatas

Até os 35 anos de idade Graupner dedicou-se quase que exclusivamente à ópera, trabalhando como cravista da ópera de Hamburgo, e em seguida como mestre de capela na corte de Darmstadt. Mas a partir de 1719, ele não mais compôs qualquer ópera, transferindo boa parte de sua dedicação para um gênero musical importantíssimo na cultura alemã de então: a cantata.

Graupner produziu o número assombroso de 1442 cantatas, a maior parte delas religiosas.

Vamos ouvir um trecho da cantata Ach, Gott und Herr, Ah, Deus e Senhor.

Ach Gott und Herr, GWV 1144/11: Chorale: Ach Gott und Herr.

Além de ópera e música sacra, Graupner também compôs muita música secular instrumental.

Para terminar, uma dica de leitura, um livro muito simpático contanado a vida de Bach para crianças.

Para conhecê-lo, clique na imagem abaixo. Você irá para o site da Amazon Brasil.

Espero que tenha gostado deste post.

Ah, e não vá embora sem antes deixar um comentário!

Saudações Musicais do maestro J. M. Galindo.

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4 comentários em “Os Rivais de Bach”

  1. A música de Bach é muito grande. Respeitando os compositores apresentados, “exemplares” contemporâneos a Bach Ele tem uma subjetividade absoluta. uma monumentalidade na música. Certa feita, ouvi uma crítica dizendo que ele não deixava espaços vazios, que sua preocupação era preencher todos os espaços. Eu me perguntei: qual o problema disso? Nenhum. Tanto que ele continua a ser um dos grandes da música ocidental. Mas, aqui, outro problema: os meios de comunicação não nos permite ouvir a “‘música do mundo”, “música existente no planeta”. A música italiana, a música francesa, a música russa ou chinesa, e outras só pode ser ouvionda e entendida se passarem pela linguagem do rock and roll… Se estou equivocado,…

    1. Dorival, com a internet podemos ter acesso a tudo isso que os meios de comunicação excluem. É preciso separar o joio do trigo mas, em se fazendo isso, temos a acesso a muitos tesouros!

      Abraços Musicais!

  2. Maestro, como de costume, suas postagens são interessantes e colorem nosso repertório musical. Não perco o que você escreve e “toca” neste site!

  3. Pingback: A Suíte

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