Os Nacionalistas: Glinka

Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.

Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.

Música Nacionalista Rússia Glinka

Glinka estudou na Itália e na Alemanha, e foi o 1º compositor russo a compor uma ópera com elementos da música folclórica de seu país. O personagem principal era um camponês russo!

É a ópera “Uma Vida pelo Czar”

Ele também é muito conhecido por uma pequena peça sinfônica chamada Kamarinskaya, que se tornou um marco na música nacionalista russa.

Nessa peça Glinka não apenas usa a matéria prima de seu país, mas também renega o princípio do desenvolvimento temático desenvolvido pelos compositores germânicos. Ele repete os temas de diversos modos, trabalhando com diferentes timbres e texturas sonoras, e é muito fácil observarmos essa ênfase nas repetições.

Mas talvez a obra mais conhecida de Glinka seja a Abertura da Ópera Russlan e Ludmilla, uma peça deliciosa!

Você pode ouvi-la aqui:

Orquestra Sinfônica da Rádio de Frankurt. Maestro Andrés Orozco-Estrada.

Glinka foi o pioneiro que abriu caminho para o formidável “Grupo dos Cinco”, formado por Balakirev, Korsakov, Borodin, Mussorgsky e Cui.

Falaremos dele em breve!

Deixe seu comentário! Diga qual assunto você gostaria de ver comentado aqui!

Saudações Musicais!

Os Nacionalistas: Chopin

Olá amigos!

Durante muito tempo, alguns poucos países centralizaram o desenvolvimento da arte musical européia: Itália; França e Bélgica; Austria e Alemanha.

Outros centros musicais acabavam por importar o que era feito por estes.

Comecemos voltando bastante no tempo, mais precisamente ao final do século XVI e começo do século XVII, quando a ópera surgiu na Itália.

A ópera logo tornou-se um imenso sucesso em toda a Europa. As mais importantes cidades européias, de Lisboa a São Petersburgo contratavam cantores, instrumentistas e compositores.

Pode-se dizer sem medo de errar, que a Itália exerceu uma verdadeira hegemonia musical em todo o velho continente durante muito tempo.

Essa hegemonia só encontrou competição à altura com o surgimento de Haydn, Mozart e Beethoven, que estabeleceram modelos magistrais de música instrumental pura, de câmara ou sinfônica.

Novamente, muitos países europeus procuraram imitar a música desses três gênios, criando para ela um título solene: Escola de Viena.

Um pouco antes, durante o barroco, a França também exerceu forte influência, principalmente em compositores alemães, como Bach, Telemann e Haendel.

Foi assim até o 2o. quarto do século XIX, quando outros países passaram pouco a pouco a produzir música em estilo próprio – enriquecendo ainda mais o repertório clássico.

Começava a surgir o movimento nacionalista europeu, e um dos primeiros a contribuir para ele foi o polonês Frederic Chopin.

Chopin deixou seu país muito jovem para poder desenvolver seu imenso talento num grande centro musical. Radicou-se na França, e sempre sofreu a nostalgia de sua terra, que nunca mais veria.

Isso se refletiu em muitas de suas obras, principalmente as mazurcas.

No vídeo a seguir, temos uma interessantíssima comparação entre exemplos de mazurcas bem populares, rústicas até, que inspiraram as sofisticadíssimas mazurcas artísticas de Chopin!

Veja só caro ouvinte, Chopin nasceu em 1810. Durante sua infância e adolescência o que havia de mais moderno e vanguardista no repertório pianístico eram as obras de Beethoven e Clementi. Espanta como bem pouco tempo após a morte desses dois compositores, Chopin já estava criando peças para piano muitíssimo diferentes. E o sabor polonês já estava lá.

Por isso Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.

Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.

Mas isso será assunto da próxima postagem!

Deixe seu comentário ou sua pergunta!

Terei enorme prazer em responder! Saudações do maestro João Mauricio Galindo!

CONCERTO GROSSO

Muita gente estranha este nome, afinal, a palavra grosso em português tem uma certa conotação negativa. Alguém grosso é alguém sem educação….mas em italiano, esse sentido não existe. Em italiano a palavra grosso quer dizer simplesmente “grande”. Portanto concerto grosso é um concerto grande.

Elucidado o nome, a estranheza continua. Já fui procurado por pessoas que me perguntaram: maestro, fui a um espetáculo musical onde tocaram um concerto grosso. De grande ele não tinha nada havia: só 12 pessoas no palco e a música não durou mais que 15 minutos.

Pois é, para nos, acostumados com orquestras de 90, 100 musicos, e concertos que duram mais de 40 minutos, o nome grosso ou grande não parece adequado nesse caso.

Concerto Orquestra

Porém, tudo fica mais fácil de entender se tentarmos nos transportar para o século XVII, época em que o concerto grosso foi criado.

Em primeiro lugar, naquela época, um grupo de 12 , 15 musicos não era considerado pequeno. Não havia ainda espetáculos públicos de música instrumental, e na maioria das vezes esses concertos eram tocados em salas de palácios pertencentes a membros da nobreza. As orquestras sinfônicas ainda iriam surgir e se desenvolver .

Em segundo lugar, o nome concerto grosso está relacionado com a principal característica desse tipo de musica, que é a alternância entre dois grupos instrumentais, um maior e um menor. O compositor escrevia a música como se esses dois grupos estivessem dialogando.

Esse diálogo é muito mais fácil de ser percebido ao vivo que em uma gravação, mas mesmo assim, vamos a um exemplo, o Concerto Grosso opus 8 no. 4 de Arcangelo Corelli.

Early Music Ensemble Voices of Music.

Vários compositores escreveram musica dividindo o conjunto musical em dois grupos e os fazendo dialogar. É o caso dos italianos Giovanni Gabrieli e Alessandro Stradella. Mas o primeiro grande compositor associado ao gênero concerto grosso, e um dos primeiros a usar este título foi Corelli.

Ele nasceu em Ravena, em 1653 e faleceu em Roma em 1713. Viveu por algum tempo na Alemanha, e foi uma das mais importantes personalidades da musica européia em sua época. Foi grande violinista e professor. Como compositor dedicou-se quase que exclusivamente ao seu instrumento, o violino, e aos demais instrumentos de arco. Sua obra é pequena, mas tudo é de um finíssimo artesanato.

Corelli também foi um importante professor, e dentre seus alunos alguns se destacarm como grandes violinistas e compositores. É o caso de Pietro Locatelli, e Francesco Geminiani. Esses e outros compositores da época viram no Concerto Grosso de Corelli um fabuloso modelo a ser seguido. Por volta de 1700, quando houve na Europa uma explosão na impressão e venda de partituras, as obras de Corelli foram impressas e reimpressas numa quantidade que só seria suplantada pelas obras de Haydn, décadas mais tarde. Por exemplo, o opus 1 de Corelli, uma coleção de sonatas, teve 35 edições entre 1681 e 1785. Isso sem contar coletâneas, e arranjos variados.

Vamos ouvir um concerto grosso de um de seus seguidores, seu aluno Francesco Geminiani, compositor que nasceu em Lucca em 1687 e faleceu em Dublin, em 1762.

Concerto Köln. Evgeny Sviridov, violin e direção).

Como já vimos, uma das características do Concerto Grosso era a alternância entre dois grupos musicais distintitos, um pequeno e um maior.

O grupo pequeno era em geral formado por 3 músicos apenas: 2 violinistas e 1 violoncelista, apoiado por um cravo quando necessário. E o grupo maior era em geral uma seção de cordas, sem um número necessariamente definido, e que podia ser por exemplo de três 1ºs violinos, três 2ºs violinos,duas violas, um violoncelo, um contrabaixo e um cravo. Podia ser até maior, desde que essa proporção entre os naipes fosse mantida. Ao grupo pequeno dava-se o nome de concertino – eles eram os concertistas, os solistas da obra. E ao grupo maior dava-se o nome de ripieno, que pode ser traduzido por repleto, cheio.

Com disseminacão das partituras de Corelli pela Europa, não tardou para que outros compositores começassem a modificar a estrutura básica do Concerto Grosso. E se há alguém que fez isso com maestria foi Georg Friedrich Händel.

O opus 3 nº 4 de Händel é um concerto grosso. Foi esse o título que ele deu à obra. Mas já estamos distantes de Corelli. Primeiramente Händel não se restringiu somente aos instrumentos de cordas. Acrescentou ao concertino dois oboés. Só isso já nos apresenta uma cor completamente diferente. Além disso , Händel abre a obra com uma típica abertura em estilo francês, coisa que Corelli provavelmente nunca imaginou.

Mas a marca principal do concerto grosso está lá: a alternância entre o concertino e o ripeno, e a estruturação em movimentos contrastantes.


Orquestra “LORENZO DA PONTE” Direção de ROBERTO ZARPELLON

Corelli definiu o gênero; muitos outros compositores, como Geminiani, seguiram esse modelo, ou o imitaram, no melhor sentido da palavra. Com Handel, esse modelo definido por Corelli foi levado adiante, com a introdução de novidades. Neste caminho que levou ao desenvolvimento do Concerto Grosso, se falamos de Händel, não podemos deixar de falar em J. S. Bach

Bach foi ainda mais adiante. Ele não verdade não escreveu nenhuma obra com o título de concerto grosso. Mas muita gente está de acordo que os seus Concertos de Brandemburgo são de fato “concerti grossi” levados à mais alta elaboracão.

Essas 6 obras foram dedicadas a Christian Ludwig, Margrave de Brandemburgo, que corresponderia hoje ao governador da região de Brandemburgo. Por isso eles têm esse apelido.

Mas o título que o próprio Bach deu a eles foi “Concert avec plusiers instruments”, ou Concerto com Muitos Intrumentos. E essa é efetivamente uma característica marcante da coleção.

Cada um dos 6 concertos possui uma diferente combinação instrumental; alguns são verdadeiros concerti grossi, outros se afastam do padrão original.

É bastante difícil dizer qual é o mais belo, ou mais criativo. São 6 obras primas que coroam o gênero inaugurado por Corelli.

E nos causa ainda mais surpresa saber que não há uma grande distância de tempo entre eles. Corelli escreveu seus primeiros concerti grossi por volta de 1712 e Bach completou sua coleção dos concertos de Brandemburgo não mais que dez anos depois.

J. S. Bach, Concerto de Brandenburgo no. 3. Conjunto Voices of Music.

Com o final do barroco, o concerto grosso vai caindo em desuso. No classicismo, ninguém mais usava a expressão concerto grosso; o cravo vai sendo aos poucos deixado de lado, e o concerto para um único solista e orquestra toma seu lugar. Mas dentre as obras deixadas por Corelli e seus seguidores italianos, e pelos alemães Händel e Bach, há verdadeiras preciosidades que merecem ser conhecidas.

Sou grato pela atencão e até nossa proxima postagem!

CONCERTOS ESPIRITUAIS 2a. parte

Na postagem anterior, vimos o surgimento da série “Concert Spirituel” em Paris, e quais foram os primeiros compositores a ter suas obras executadas. Nos atemos a compositores do período barroco.

Agora vamos aos clássicos.

Começamos com Simon Le Duc, que viveu entre 1742 e 1777. Le Duc foi também violinista e diretor dos Concertos Espirituais por alguns anos.

Le Duc foi elogiado por Leopold Mozart, pai de Wolfgang Amadeus Mozart. Leopold deixou registrado que ele era um violinista muito bom.

Le Duc compôs três concertos para violino e orquestra, algumas sonatas para violino, música de câmara em geral e algumas sinfonias.

Sinfonia no. 1 de Simon Le Duc. Orchestra de Chambre de Versailles; maestro Bernard Wahl.

Esta sinfonia é um exemplo do típico estilo galante ou pré-clássico que havia surgido no início do século XVIII e pouco a pouco ganhava a preferência do púbico.

E se estamos falando de música clássica francesa, um nome não pode ficar de fora: François Gossec, que viveu entre 1734 e 1829.

Infelizmente Gossec é raríssimamete lembrado nos dias de hoje.

A única peça de sua autoria que é tocada, ainda assim muito de vez em quando, é uma pequenina gavota:

Gavota de Gossec executada pelo grande violinista Mischa Elman, acompanhdo ao piano por Joseph Seiger.

É uma pena que Gossec seja lembrado apenas por essa peça que, embora graciosa, não absolutamente nada de especial.

Vale a pena ouvir dele uma obra mais expessiva: a Sinfonia Concertante para violino, violoncello e orquestra em re maior.

Violino: Patrick Cohën-Akenine. Cello: François Poly Orchestra Les Agrémens. Maestro Guy van Waas

Esse tipo de obra, a sinfonia concertante, foi marca registrada dos Concertos Espirituais Parisienses.

A Sinfonia Concertante é, na verdade, uma espécie concerto.

Um concerto é uma obra em mais de um movimento, em que uma orquestra acompanha um solista.

A principal característica da Sinfonia Concertante é o fato de haver quase sempre mais de um solista.

Além disso, a sinfonia concertante parisiense é sempre leve; a música nunca traz grandes cargas de dramaticidade.

A sinfonia, por sua vez, não tem solistas.

Gossec escreveu belas sinfonias. A” Sinfonie à 17 parties” tem o mesmo nível artistico das melhores sinfonias de Joseph Haydn.

Orchestre Symphonique de Liège. Maestro Jacques Houtmann

CONCERTOS ESPIRITUAIS 1a. parte

O surgimento dos concertos púbicos é um tema que raramente passa pela mente dos apreciadores de música clássica.

Existe uma impressão de geral de que os concertos públicos sempre existiram …. evidentemente isso não é verdade.

Vamos então a uma viagem no tempo-espaço, para a época e local onde foi criada a primeira série duradoura de concertos por assinatura, como as que temos hoje: Paris, no início do século XVIII

Durante o século XVII, a França viveu um espetacular processo de centralização do poder, com a figura daquele homem que dizia ser, ele mesmo, a encarnação do estado: Luis XIV.

Free Images - SnappyGoat.com- bestof:Terracotta female bust ionian.jpg en  Terracotta female bust ionian workshop found in a tomb Macri Langoni T 75  525-500 BC es Busto femenino de terracota obra de

L’etat, c’est moi – o estado sou eu!

Há quem diga que Luis XIV pronunciou essa frase em 1655, diante de todos os parlamentares franceses. E há quem diga que ele nunca o fez!

De qualquer modo, uma coisa é certa: alguns anos mais tarde, instalado no gigantesco palácio de Versalhes, fez dele o centro de poder de toda a França.

O Rei Sol cercou-se de uma gigantesca corte, que vigiava e controlava, usando de diversas artimanhas, entre elas, o teatro, a dança e a ópera!

Mas nada de concertos sinfônicos: eles ainda não existiam!

Enquanto isso, em Paris, que fica a quase 30 quilômetros de distância, coisas diferentes aconteciam.

Foi lá que um dia surgiu a idéia de usar os músicos da Orquestra da Ópera – que era bem grande para a época, com seus 48 integrantes – em apresentações puramente musicais.

Esta série de concertos parisiense tem até data certa de nascimento: 18 de março de 1725, 10 anos depois da morte de Luis XIV.

Eram os “Concertos Espirituais”.

A primeira pergunta que vem à mente é: por que esse nome?

Porque a série começou com o objetivo de promover trabalho para os músicos durante o período da quaresma, quando os grandes teatros da cidade ficavam fechados.

Nos primeiros concertos da série a idéia era fazer música sacra, justamente por causa da quaresma.

Um dos compositores que tinha suas obras executadas com frequência era Jean-Joseph de Mondonville.

Mondonville, além de um exímio violinista e compositor de obras para esse instrumento, escreveu óperas e Grandes Motetos, um gênero muito querido dos parisienses.

Jean-Joseph Cassanéa de Mondonville: “Gloria Patri” , parte do Grande Moteto Venite Exultemus.
Quire Cleveland and Les Délices. Maestro Scott Metcalfe.
Solistas: Sarah Coffman e Elena Mullins.

Outro grande compositor francês daquele tempo, cujas obras eram ouvidas nos “Concertos Espirituais” foi Marc-Antoine Charpentier.

Charpentier foi um compositor extremanente prolífico, tendo deixado uma enorme quantidade de obras em diversos gêneros: óperas, Pastorales, música incidental para teatro, balés, peças instrumentais, e música sacra.

Além da quantidade, chama a atenção a qualidade. É mesmo música de primeira.

Charpentier trabalhou com o maior dramaturgo françês de seu tempo, Jean-Baptiste Molière. Foi ele quem compôs a “trilha-sonora”, digamos assim, para uma de seus textos mais conhecidos: O Doente Imaginário.

São muitos os trabalhos para teatro feitos por Charpentier.

Marc-Antoine Charpentier – Intermèdes nouveaux du Mariage forcé (1672). Execução do conjunto “Les Arts Florissants, dirigido por William Christie.

Os Concertos Espirituais faziam sucesso e tornou-se uma série duradoura. Mas mudanças eram necessárias, e elas aconteceram em 1762.

Um novo diretor assumiu e teve uma idéia brilhante: introduzir na programação competições musicais!

Isso criou enorme entusiasmo no público.

Esse novo diretor chamava-se Antoine Dauvergne.

Ele também era compositor da corte de Versalhes, tendo composto óperas e balés. Mas era também exímio violinista e escreveu muita música instrumental. Desta produçao destaca-se um gênero que ele chamou de “Concert de Sinphonies” – que eram na verdade suítes, ou seja, sequências de peças instrumentais. Com essas peças chegamos finalmente à música puramente intrumental executada em concertos públicos!

Dauvergen: Concert de simphonies a IV parties, Op. 3 No. in F Major: VI. Allegro I & II · Cappella Coloniensis · William Christie

Na próxima postagem continuaremos a falar dos Concertos Espirituais parisienses, saindo do barroco e entrando no período clássico!

A sonata barroca

No século XVII, ainda não havia as salas de concerto como conhecemos hoje. Ouvia-se música na Igreja, ou então, em casa. E quem podia – ou seja, o aristocrata rico que morava em um palácio -tinha sua própria orquestra.

Cara leitora, caro leitor, a música doméstica era realmente um luxo, algo para poucos. Mas era efetivamente cultivada, de modo que a prática de manter um grupo de músicos em casa, contratados como parte da criadagem, disseminou-se rapidamente entre as famílias prósperas de diversos países.

Por exemplo, em 1601, o Duque da cidade de Mantua contratou, com o título de “maestro de la camera e de la chiesa”, um dos maiores músicos de todos os tempos: Claudio Monteverdi.

Vejam só: maestro da igreja, e do palácio. Foi nesses dois ambientes que se produziu a música mais sofisticada daquele tempo.

Existia, portanto a música feita para ser tocada nas igrejas, e a música para ser tocada nas casas, nos palácios.

Estamos falando do século XVII, e não custa relembrar que, até o comecinho deste século a música mais sofisticada era vocal; a música instrumental estava apenas começando a se desenvolver.

Naquele tempo as palavras toccata e sonata eram usadas genericamente para se referir a obras puramente instrumentais. Evidentemente, à medida que a música instrumental evoluia, foram surgindo gêneros mais específicos. Dois se destacaram: a sonata da chiesa e a sonata da camera.

Se a música puramente vocal da época se dividia em dois gêneros, a feita para a igreja e a feita para o ambiente doméstico, nada mais natural que o mesmo acontecesse com a música instrumental.

Muitos compositores escreveram sonatas dos dois tipos, de modo que 100 anos depois, no início do século XVIII, chegou-se ao ápice do gênero, com as sonatas de Arcangelo Corelli.

Música barroca Música do Período Barroco Corelli

Nós hoje consideramos o violino com um dos instrumentos musicais mais nobres, mas sofisticados. O líder de toda a orquestra, o spalla, é sempre um violinista; alguns violinos chegam ser tratados como verdadeiras obras de arte, com seus preços chegando a mais de um milhão de dólares.

É difícil portanto, imaginar um tempo em que o violino era um instrumento rústico, usado somente na música folclórica européia. Mas de fato era assim, e no seu admirável processo de amadurecimento, é fundamental a figura de Corelli. Ele foi o primeiro compositor cuja notoriedade foi construída a partir de música instrumental, em especial para o violino. Foi o grande primeiro mestre da sonata barroca, de câmara e de igreja.

A essa altura é preciso responder à pergunta que certamente está agora na cabeça de vários leitores: qual é, ao final das contas, a diferença entre a sonata de câmara e de igreja?

Bem, a idéia geral é simples: a sonata de igreja é mais séria, mais austera que a sonata de câmara.

Muito bem, mas como o compositor estabelece esta diferença?

Em primeiro lugar, usando ritmos de dança na sonata de câmara …. e não os usando na de igreja.

Tomemos então como exemplo a sonata opus 5 no. 9 de Corelli. Ela começa com um movimeto lento de caráter leve, delicado. Em seguida temos duas danças, uma giga, e uma gavotta Entre elas, um breve movimento lento, que dura menos de um minuto. É uma autêntica Sonata da Camera!

Grzegorz Lalek – violino barroco Lilianna Stawarz – cravo

Se a sonata de câmara têm um elemento característico – a presença das danças – é de se deduzir que algo análogo aconteça com a sonata de igreja. E o elemento característico desta é o contraponto, a polifonia

Um dos gêneros musicais mais antigos, que vem dos primeiros tempos da evolução da música instrumental é a dobradinha prelúdio-fuga. Ela está fortemente associada música religiosa tocada ao órgão.

Pois bem, na Sonata opus 5 no. 1 de Corelli há duas dobradinhas prelúdio-fuga. E essas dobradinhas estão separadas por um breve movimento rápido, de apenas um minuto, de caráter brilhante e virtuosístico, em que o violinista demosntra suas habilidades.

Intérpretes: Rémy Baudet, Jaap ter Linden & Pieter-Jan Belder .

Espero que você tenha apreciado essa postagem. Ficarei feliz se você deixar seu comentário!

Saudações Sonoras do maestro João Maurcio Galindo.

Sonata: o que é?

O que é uma Sonata?

A palavra sonata é mais uma daquelas que confunde muita gente; isso porque ela não se refere a um tipo específico de música.

Sonatas podem ser muito diferentes; uma sonata do início do século XVII é muito diferente de uma sonata do início do século XVIII, e as duas são diferentes de uma sonata feita no século XIX.

Neste artigo vamos nos ater à sonata clássica, aquela que se se desenvolveu e consolidou durante a segunda metade do século XVIII.

As sonatas clássicas bem conhecidas pelos amantes de música de concerto dos dias atuais são principalmente as de Wolfgang Amadeus Mozart e Franz Joseph Haydn.

Elas têm um modelo muito bem definido, que é o seguinte: três movimentos, sendo o 1º em andamento rápido, o 2º em andamento lento, e o 3º em andamento rápido.

Mas isso não é tudo!

O 1º movimento é o mais desenvolvido, é aquele em que o compositor mais usa suas habilidades intelectuais, trabalhando inteligentemente o desenvolvimento dos temas.

O 2º movimento é mais afetuoso, emocional.

O 3o. movimento é o mais divertido, quase sempre em ritmo de dança.

Assim, além de andamentos contrastantes, cada um tem uma personalidade própria.

Para compreender bem esse modelo, uma boa idéia é ouvir uma sonata curta, concisa, em que essas características sejam bem claras.

Sugiro assim a sonata para piano de Mozart, catalogada com o número KV 545, conhecida como “Sonata Semplice”.

Eu sugeri esta sonata por ser bem curta, concisa e objetiva.

Mas agora vamos avançar um pouco.

Há duas coisas para dizer:

1ª: a grande maioria das sonatas dessa época eram mais muito mais longas, bem mais desenvolvidas.

2ª: elas não tinham que ser necessariamente para piano.

Esse modelo podia ser aplicado a qualquer instrumento ou combinação instrumental.

Uma combinação consagrada era o piano mais um instrumento melódico qualquer, como o violino, o violoncelo, a flauta, etc.

Sugiro então a audição de uma sonata que tem essas duas características.

Ela dura cerca de 2o minutos – contra 10 minutos da Sonata Semplice de Mozart

Trata-se de uma sonata para Viola e Piano de Johann Nepomuk Hummel, que foi contemporâneo de Beethoven.

Embora seja pouco conhecido hoje em dia, Hummel é um típico representante do classicismo, muito admirado em seu tempo tanto como pianista como compositor.

Aqui temos os três movimentos em links separados.

Este é portanto o modelo, o padrão básico da sonata clássica; mas agora atenção: os padrões da música clássica não são, como muita gente pensa, assim tão rígidos.

Sobre eles são possíveis muitas variações, e é isso que vamos conferir ouvindo uma das sonatas para piano de Beethoven, conhecida pelo apelido de “A Caça”

É a sua sonata de número 18, escrita quando ele tinha 32 anos de idade.

É uma obra que introduz algumas modificações na estrutura da sonata clássica, mas sem perder sua essência.

Em primeiro lugar, temos quatro e não três movimentos.

O primeiro movimento é em andamento rápido.

O segundo movimento não é lento e afetuoso, como seria de se esperar. Também é rápido, mas tem um caráter bem diferente do movimento anterior.

É mais descontraído,contrastando com a seriedade do anterior.

Temos então mais um pequeno desvio da forma original da sonata. O terceiro movimento é um minueto – uma dança, portanto. Mas ele apresenta o caráter delicado e afetuoso que faltou no movimento anterior.

Mantendo o padrão tradicional, a sonata se encerra com um movimento rápido em ritmo de dança.Presto com fuoco: rápido e com fogo!

Espero que as informações tenham sido úteis.

E que a musica lhe tenha sido encantadora!

Festa de timbres do barroco

Durante muito tempo, mas muito tempo tempo mesmo, desde a antiguidade e por vários séculos, a música européia foi fundamentalmente vocal.

A maioria dos instrumentos eram rústicos, tinham poucos recursos, e a técnica instrumental era muito limitada.

Isso tudo porém foi mudando no final da idade média; e no século XVI, em pleno renascimento, surgiu uma verdadeira festa de timbres, promovida por vários instrumentos diferentes.

No período barroco essa festa se sofisticou!

No início do século XVII, o compositor alemão Michael Pretorius compilou uma enorme coleção de danças da idade média e renascença, que nos dá uma ótima idéia da música instrumental daquele tempo!

Você pode ouvir várias aqui:

Esta festa começou na renascença, e continuou daí pra frente, mas com uma diferença muito importante: a especialização e definição instrumental.

Até uma certa época, os compositores não definiam que instrumentos deveriam ser usados. Ele escrevia a música, e a escolha dos instrumentos ficava a cargo dos próprios executantes.

Assim, a mesma peça podia ser tocada por um conjunto de flautas, ou por um conjunto de violas da gamba .

Mas essa indefinição não iria durar muito tempo.

No período barroco, os compositores começam a compor especialmente para determinado instrumento ou conjunto de instrumentos.

Vejamos alguns exemplos, começando pelos violoncellos.

Giuseppe Maria Jacchini, que viveu entre 1670 e 1727, e foi portanto, contemporâneo de Antônio Vivaldi, foi um pioneiro do violoncello.

Foi um dos primeiros violoncelistas-compositores da Europa.

Nada mais natural, portanto, que a maioria das peças que escreveu sejam para esse intrumento. Ele foi um dos responsáveis por fazer do violoncello um instrumentos solista.

Confira:

Vamos às flautas. E quando falamos delas e de música barroca, é muito natural nos voltarmos para o repertório francês, com o compositor Joseph Bodin de Boismortier, que viveu entre 1689 e 1755 e foi portanto contemporâneo de J. S. Bach e Vivaldi.

Boismortier foi um muito popular entre os apreciadores de música franceses de seu tempo. Sua música era tão bem aceita, que ele foi um dos primeiros a ter uma certa independência financeira, sem precisar de patrocinadores, ou seja: ganhou um bom dinheiro vendendo suas partituras e apresentando-se em concertos públicos – quando esses eram ainda uma grande novidade.

Muitos compositores franceses tinham uma especial predileção pela flauta, e Boismortier foi um deles. E numa época em que muitos escreviam para a flauta doce, ele dedicou-se especialmente à flauta transversal.

Escreveu uma série de concertos para conjunto de cinco flautas transversais que foram uma total novidade para a época.

Ouça aqui:

Agora uma combinação que pode surpreender alguns ouvintes: dois bandolins, acompanhados por orquestra de cordas. Eu falo em surpreender porque muitas pessoas associam o bandolim à música popular brasileira, em especial o chorinho; muita gente não imagina que o bandolim tenha sido usado na música clássica européia.

Mas foi, sim, e muito. Temos belíssimos exemplos de Vivaldi!

Vários musicólogos acreditam que estes concertos foram compostos para a orquestra de meninas que viviam no “ospedale della Pietà”, de Veneza. Eram órfãs, filhas ilegítimas ou de famílias muito pobres. Segundo comentários da época, os conjuntos musicais formadas por essas meninas tinham um nível artístico elevadíssimo.

Vivaldi tinha especial carinho por esse trabalho. Compôs para o Ospedalle durante quase 40 anos, praticamente até o final de sua vida, e muitas vezes trabalhou sem qualquer remuneração.

Há um concerto de Vivaldi com uma formação surpreendente!

O que me dizem da seguinte combinação: duas flautas doces, dois “chalumeaus”, dois violinos “in tromba marina”, dois bandolins, duas teorbas e um violoncelo?

Vale a pena nos atermos um pouco a ela.

Começamos com duas flautas doces – instrumentos bastante conhecidos. Mas em seguida temos dois chalumeaus, e eu estou certo que pouca gente já ouviu falar deles. O chalumeau foi um instrumento que esteve em voga entre 1700 e 1750, sendo então substituído pelo clarinete. É portanto considerado um ancestral deste instrumento.

Temos também dois violinos “in tromba marina”. Sabemos que a “Tromba Marina era um instrumento de cordas muito peculiar, bastante conhecido na idade média. Tinha uma coluna de madeira de cerca de 2 metros, com uma única corda.

Pois bem, o que seriam os violinos “in tromba marina”?

O encarte de um CD do seríssimo conjunto “The english Concert”, diz que se trata de um enigma!

Temos ainda dois bandolins, um violoncello e duas teorbas. Estas são pouco conhecidas. A Teorba é um instrumento criado na Itália no século XVI, e se assemelha ao alaúde, sendo maior e portanto mais grave.

Esse concerto é simplesmente sensacional! Tem que ser ouvido!

Está aqui:

Em se tratando de combinação de muitos instrumentos, não podemos deixar de nos lembrar dos concertos de Brandenburgo…

Nos 6 concertos de Brandenburgo, J. S. Bach também explorou as combinações instrumentais com muita riqueza.

Um exemplo: o Concerto de Brandenburgo no. 2.

Nele há quatro solistas com potências sonoras muito diferentes: trompete, que é muito potente, oboé, que tem potência mediana, violino que é ainda menos potente, e flauta doce, que é o menos potente de todos.

Equilibrar esses quatro instrumentos, de modo que todos possam ser perfeitamente ouvidos é muito difícil, mas Bach o fez com muita maestria.

Confira:

Espero que você tenha gostado desta “Festa de Timbres do Barroco”!

DICA DE LEITURA:

Concerto Barroco, de Alejo Carpentier.

Atenção:este não é um livro de históra da música. Não oferece informações 100% verídicas sobre a música barroca. Trata-se de um magistral livro de ficção, escrito por um gênio da literatura latino-americana, e ao mesmo tempo amante da música: o cubano Alejo Carpentier (1904-1980)

Eis a sipnose:

Em inícios do século XVIII, um milionário da prata mexicana, neto de umconquistador maltrapilho, aristocrata há uma geração apenas, deixa a terra natal para uma temporada de luxos e prazeres em Veneza. Chegando à cidade em pleno Carnaval, o Amo e seu criado Filomeno serão protagonistas de um concerto sem igual, que reunirá os maiores prodígios da Europa barroca, mas também a música do Velho e do Novo Mundo. O livro de Carpentier nos leva de uma Cidade do México que imita em prata lavrada todas as manias metropolitanas de uma Veneza em que, depois de muita peripécia erótica e musical, o Amo transformado em libretista do padre Antonio Vivaldi tentará levar à cena uma versão fiel e operística da conquista do México. A tarefa, está claro, é impossível, mas o fracasso não resulta em impasse. Numa virada final – anacrônica e fabulosa, barroca e moderna ao mesmo tempo -, caberá a Filomeno tomar a batuta e transplantar sua própria versão do barroco de volta à América – e de volta ao século XX.

Alejo Carpentier chegou ao ápice de sua arte narrativa e musical nesta breve obra-prima de 1974, que o autor chamou de “suma teológica” de sua carreira e que o leitor brasileiro agora pode ler na primorosa tradução de Josely Vianna Baptista.

Se ficou interessado, clique neste link da Amazon brasileira. O livro está disponível lá!

https://amzn.to/36I6ixs