Durante a 1ª Guerra Mundial, esteve no Brasil o diplomata francês Paul Claudel. Com o pomposo título de Ministro Plenipotenciário, Claudel tinha como principal atribuição supervisionar o envio de suprimentos do Brasil para a França. Esse diplomata, então com 49 anos de idade, acumulava uma extensa e notável atividade diplomática em diversos países, como Estados Unidos, China e Alemanha. E depois de sua passagem pelo nosso país, esteve ainda na Dinamarca, Japão e Bélgica.
Além de ter sido um importantíssimo diplomata na primeira metade do século XX, Claudel foi um notável poeta e dramaturgo. Tinha um estilo único, rejeitando a rima e escrevendo sempre em longos versos livres, influenciado pelos salmos da versão em latim da Bíblia. Era um homem profundamente religioso, que rejeitava o materialismo em favor de um profundo significado espiritual da vida humana. Foi muito influenciado pelos poetas simbolistas, como Paul Verlaine ou Arthur Rimbaud. Uma figura controversa, considerado conservador, foi criticado em muitos círculos intelectuais de seu tempo, mas mesmo muitos dos que não partilhavam suas ideias políticas e religiosas admitiam sua genialidade como artista.
Pois bem, esse homem, quando esteve no Brasil foi responsável pela vinda, para cá, de um outro artista brilhante, cuja obra ainda está para ser devidamente divulgada em nosso país: o compositor Darius Milhaud.
Vinda ao Brasil
Quando eu digo que sua obra deve ser melhor divulgada, não estou me referindo apenas à qualidade de sua música. Acontece que enquanto esteve no Rio de Janeiro, Milhaud nutriu profunda admiração pela nossa música, que se manteve por toda sua vida.
Neste parágrafo, do livro História da Música no Brasil, o autor Vasco Mariz fala do encontro entre Milhaud e Villa-Lobos.
“… por volta de 1917, o Dr. Leão Velloso apresentou a Villa-Lobos um jovem francês, Darius Milhaud, então secretário de Paul Claudel, na Legação da França no Rio de Janeiro. Villa-Lobos, que escolhia muito a quem exibir os seus melhores trabalhos, acolheu-o friamente, desconfiando daquele moço que não perdia vaza para achincalhar os colegas. Mas não tardaram a ficar bons amigos, e Villa mostrou-lhe os tesouros da música brasileira, e carioca em especial. Levou-o a macumbas, introduziu-o no meio dos chorões, fê-lo apreciar a música carnavalesca. A conhecida suíte “Saudades do Brasil”, de autoria do famoso compositor francês é uma reminiscência dos meses que passou no Rio de Janeiro, em camaradagem com Villa-Lobos.”
“Saudades do Brasil”
Uma das principais onras de Milhaud, Saudades do Brasil é uma suíte bastante longa, formada por nada menos que 14 movimentos. Cada um deles tem como título locais que Milhaud conheceu, como Copacabana, Paissandu, ou Sorocaba.
“O Boi sobre o Telhado”
Milhaud voltou para a Europa em 1918, após o final da 1ª Guerra. E já em 1919 escreveu outra obra com citação de elementos musicais brasileiros. Trata-se de uma substancial fantasia sinfônica feita para o cinema chamada “O Boi sobre o Telhado”. Lembremos que em 1919 não havia ainda o cinema falado, e o Boi sobre o Telhado foi uma daquelas obras pioneiras, tocadas durante a apresentação de um filme mudo.
Legado
Milhaud viveu até 1974. Deixou uma obra muito grande, com mais de 400 peças. São 15 óperas, 12 sinfonias, música incidental para 40 peças, 26 partituras para cinema, 11 para rádio, 39 peças corais, concertos e música de câmara. Porém sua reputação de grande compositor se deve principalmente a uma série de peças muito imaginativas escritas justamente neste período que vimos, ou seja, logo após a 1ª grande Guerra.
“Scaramouche”
Inquieto, após este período Milhaud ligou-se a outro importante intelectual francês, Jean-Cocteau, e ao grupo de compositores que o tinha como mentor: O Grupo dos Seis. Viveu dos Estados Unidos e deixou-se influenciar pelo Jazz.
Outra obra onde surgem temas tipicamente brasileiros é a suíte Scaramouche, em três movimentos: Vif, Moderé e Brazileira.
Existem três versões da obra: para 2 pianos, para clarineta e orquestra ou saxofone alto e orquestra.
Abaixo o leitor pode ouvir seu terceiro movimento, a deliciosa “Brazileira”, com o saxofonista Jeremy Brown, acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Calgary, dirigida por Hans Graf.
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Alexandr Borodin nasceu em 1833, filho ilegítimo de um príncipe da Georgia. Como era costume da época, o pequeno Alexandr foi registrado como filho de outra pessoa, um servo do tal príncipe, chamado Porfiry Borodin.
Ele teve o privilégio de boa educação; antes dos 15 anos já falava inglês, francês, alemão e italiano. Aos 8 se interessou por música, e começou a ter aulas de flauta e piano. Não demorou muito para que ele arriscasse algumas composições. Mas a sua maior paixão surgiu aos 14 anos: a química.
Imaginem a típica cena da vida de um adolescente: começar a brincar com pólvora e fogos de artifício. Daí ele passou para o galvanismo e nunca mais parou.
Galvanismo
Aliás, talvez seja bom dizer o que é “galvanismo”. Eu também não sabia e fui pesquisar.
O galvanismo era uma teoria do cientista italiano Luigi Galvani, segundo a qual o cérebro produzia eletricidade, que era transferida pelos nervos para os músculos, produzindo os movimentos.
Essa teoria fascinou muitos estudantes universitários do século XIX, que faziam experiências com animais e até com cadáveres humanos, esperança de encontrar cura para doenças. Dessas experiências resultaram coisas muito modernas, como o desfibrilador cardíaco… e a história de Frankenstein.
Viagens
Aos 17 anos ele ingressou na Academia Médico-Cirúrgica de São Petersburgo. Formou-se em 1856, com louvor, e em seguida conseguiu um bom emprego no Segundo Hospital Militar daquela cidade.
A essa altura atuava com frequência como flautista e violoncelista em reuniões de músicos amadores, e essa atividade o levou a compor suas primeiras peças: arranjos de temas de Mozart, Bellini, Donizetti e outros operistas em voga, além de peças de salão, e danças de inspiração folclórica. Ou seja, nada de especial.
E logo ele começaria uma série de viagens que o manteria afastado da Rússia por um bom tempo. Quando Alexandr Borodin tinha 23 anos havia se formado e conseguira seu primeiro emprego. Esse emprego não durou muito. Logo ele começou a viajar muito. Esteve na Bélgica, França, Alemanha, Itália, com passagens ocasionais e rápidas pela Rússia. Foram 8 anos de viagens intensas. Só em 1862, ele retornou a São Petersburgo, onde fixou residência.
Apesar desse período de muitas viagens e trabalho, Borodin continuou compondo. Das pecinhas de ocasião de sua juventude ele evoluiu para gêneros um pouco mais ambiciosos.
Sonata para Violoncelo e Piano
Quando retornou a São Petersburgo, em 1862, já tinha na bagagem algumas obras de música de câmara, como um trio para dois violinos e violoncelo, um sexteto de cordas, um trio com piano e uma sonata para violoncelo e piano. Abaixo o 3º movimento dessa sonata.
Ela tem uma curiosidade: foi toda construída sobre um tema de J S Bach; é o tema da fuga da 1ª sonata para violino solo. Essa sonata foi escrita em 1860, quando Borodin estava ainda em seu período de viagens.
Balakirev
Dois anos depois, quando ele retornou para viver em São Petersburgo, aconteceu algo que seria marcante em sua atividade musical: conheceu Mily Balakirev.
Balakirev foi o mentor do nacionalismo musical russo. Ele professava uma libertação do modelo musical germânico que imperava na música europeia de então. Borodin tornou-se seu discípulo. Logo que conheceu Balakirev, Borodin tomou uma decisão muito corajosa, que o levaria a um resultado extraordinário: compor uma sinfonia.
Percebam a dificuldade da questão: apesar de estudar música desde criança, Borodin era um compositor amador, que havia escrito algumas peças de ocasião, e uma meia dúzia de obras de câmara um pouco mais ambiciosas. Nunca escrevera para orquestra, não tinha qualquer prática de orquestração, e nem de obras de grande envergadura.
Contra todas as expectativas Alexandr Borodin deu um salto de qualidade inimaginável e escreveu uma sinfonia brilhante, que, em minha opinião, ocupa um lugar de muita importância no repertório sinfônico do século XIX. Abaixo o 4º movimento desta sinfonia.
Sucesso
Depois da estreia dessa sinfonia, as coisas começaram a mudar para Borodin. O músico amador começou a ser levado a sério pelos centros musicais europeus. Como sempre, tudo é uma questão de contatos. Uma das personalidades musicais mais célebres da Europa se impressionou com a música de Borodin, e ajudou a divulgá-la; aliás, uma personalidade generosíssima que ajudou a divulgar o trabalho de muitos outros compositores. Estou falando de Franz Liszt.
Liszt foi o responsável pela primeira execução da 1ª Sinfonia de Borodin na Alemanha em 1880; e o fato de naquele mesmo ano o compositor ter escrito “Nas Estepes da Asia Central” contribuiu ainda mais para seu reconhecimento na Europa Ocidental.
Em 1881, Borodin escreveria seu 2º quarteto. O terceiro movimento dele tornou-se imensamente popular – tão popular quanto o poema sinfônico “Nas Estepes da Asia Central”:
Profissões
Estamos vendo que apesar da música ter estado em segundo plano em sua vida, Borodin conseguiu produzir música com frequência; e mais: por pouco que produzisse, acertava em cheio. “Nas Estepes da Asia Central” e o “Noturno” de seu 2º quarteto de cordas estão até hoje entre as obras mais queridas dos amantes de belas melodias. E as suas duas sinfonias alcançaram um respeito incontestável entre os amantes e os críticos mais sérios da música de concerto.
Mas não era fácil conciliar a profissão de químico, os problemas familiares, com a atividade musical. Em uma carta a sua esposa, certa vez ele escreveu:
“É muito difícil ser ao mesmo tempo um compositor e um servidor público, cientista, artista, oficial do governo, filantropo, pai de filhos de outras pessoas, médico e inválido… Você termina sendo só essa última coisa…”
Assim, não é de se admirar que Alexandr Borodin tenha deixado inacabadas algumas obras, entre elas aquela que ele mais acalentava: a ópera “Principe Igor”.
Principe Igor
Borodin começou a trabalhar nessa ópera em 1869. Tinha 36 anos e acabara de colher os primeiros frutos do sucesso com sua 1ª Sinfonia. O roteiro descrevia as campanhas militares do príncipe russo Igor Svyatoslavich contra invasão das tribos Polovitsianas, que aconteceram no século XII.
Quando Borodin morreu, o que restava da ópera era como a imagem de um quebra-cabeças onde se vêm vários buracos. A ópera foi terminada por dois dos maiores compositores da época: Rimsky-Korsakov e Alexander Glazunov. Assim, quando ela é executada na íntegra hoje em dia, resulta um tanto desconexa, mais uma sucessão de quadros do que um desenrolar dramático eficiente. Seja como for, tem números individuais de grande beleza.
E faz parte dessa ópera uma peça que está entre as mais populares de todo o repertório clássico do século XIX: as Danças Polovtsianas.
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Se fizermos uma pesquisa de opinião, perguntando a qualquer apreciador de música clássica europeia quem é o compositor mais conhecido do gênero, há uma grande probabilidade de que Antonio Vivaldi seja o mais citado. Se não for, estará seguramente entre os mais conhecidos, ao lado, provavelmente, de Beethoven ou Chopin. Trechos de suas “Quatro Estações” são usados em filmes, novelas e até comerciais de televisão.
Por isso muita gente se surpreende ao saber que até a década de 40 do século passado Vivaldi era pouquíssimo conhecido. A redescoberta de Vivaldi foi feita graças ao esforço e interesse de alguns músicos europeus, dentre os quais se destacaram os italianos Alfredo Casella e Gian Francesco Malipiero.
Geração Pós-Puccini
Casella e Malipiero fazem parte de um grupo de compositores italianos conhecido como a “geração pós-Puccini”. É, em minha opinião, uma geração muitíssimo interessante, por diversos motivos.
Em primeiro lugar, ela rompe com a tradicionalíssima predominância da ópera na criação musical. A Itália foi o berço da ópera, gênero que se popularizou muito rapidamente, conquistou milhares e milhares de fanáticos apreciadores por toda a parte, de modo que músicos italianos eram disputados muitas vezes a peso de ouro em todos os centros musicais europeus.
Isso, contudo, gerou uma situação um tanto perversa. Compositores italianos interessados na música puramente instrumental acabavam deixando o país, como aconteceu com Luigi Boccherini, Muzio Clementi ou Giovanni Viotti.
Pois bem, os italianos da geração pós-Puccini dedicaram-se com vigor à produção de música não operística, e o fizeram com muito êxito. Essa geração também é interessante pelo fato de abrir-se para todas as novidades estéticas daquela época efervescente.
Casella e Malipiero estavam em Paris quando Stravinsky estreou a Sagração da Primavera, um verdadeiro marco da modernidade musical. Após ouvir a obra, Malipiero declara: “É como se eu tivesse despertado de uma longa e perigosa letargia.”
E uma terceira característica dessa geração é a busca da cultura musical italiana do passado.
Início
Em 1902, quando estava com apenas 22 anos de idade, Malipiero, por livre inciativa, começou a estudar antigos manuscritos do genial compositor renascentista italiano Claudio Monteverdi. A partir daí, e por toda sua vida, dedicou-se a trazer a púbico esse repertório.
Em 1939 Casella organizou uma “Semana Vivaldi” que ficou para a história; até o poeta norte-americano Ezra Pound participou do evento.
Malipiero, por sua vez, trabalhando a partir de 1952 para o Instituto Antonio Vivaldi, dedicou-se com afinco na edição das partituras de muitas obras de Vivaldi. Esse trabalho contribuiu muitíssimo para a divulgação da sua obra.
Vivaldiana
Um dos frutos desse trabalho é a suíte orquestral intitulada “Vivaldiana”, uma colagem feita com 6 trechos de 6 diferentes concertos de Vivaldi, reorquestrados.
Essa é uma alusão à importância do trabalho de Malipiero na divulgação da música barroca italiana.
Estilo
Mas para conhecermos o seu estilo original, eu sugiro ouvir suas sinfonias. O catálogo de Malipiero inclui 17 obras do gênero, das quais 11 são numeradas. Todas diferem muitíssimo do modelo de sinfonia legado pelos grandes compositores germânicos. Gustav Malhler, que faleceu em 1911, chegou ao limite, com sinfonias imensas, de mais de uma hora de duração. Pois bem, as Sinfonias de Malipiero são concisas, curtas. A mais longa delas não chega a 30 minutos, e a mais curta tem apenas 11 minutos. Isso ocorre principalmente porque Malipiero rejeitava ostensivamente o modelo alemão de desenvolvimento temático. São dele essas palavras:
“Realmente, eu rejeito o jogo fácil do desenvolvimento temático porque estou farto dele e ele me aborrece a ponto de morrer. Você encontra um tema, vira-o para o outro lado, o desmembra, o explode, e com isso não é difícil montar o 1º movimento de uma sinfonia ou sonata que será agradável para os amantes da música e ao mesmo tempo satisfará a falta de sensibilidade dos musicalmente instruídos”.
Assim, a música de Malipiero é uma sucessão de ideias musicais surpreendentes; ao rejeitar o desenvolvimento dos temas, o compositor tem que ser muito criativo; tem que ser capaz de ter muitas ideias musicais e organizá-las de modo a não cair na monotonia.
Concertante in Eco
Várias das sinfonias de Malipiero, têm títulos. É o caso da Sinfonia no. 5, intitulada “Concertante in Eco”.
É a minha sugestão de escuta para o leitor. Basta clicar nas imagens abaixo.
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A compositora Elfrida Andrée viveu entre 1841 e 1919. Foi a primeira sueca a ter um cargo oficial como organista – o que foi uma grande novidade em seu tempo. Para nós, nos dias de hoje, isso pode parecer uma bobagem. Não é, caro leitor. Havia na Suécia daquele tempo algumas leis que simplesmente impediam as mulheres de abraçar determinadas profissões – como por exemplo, operador de telégrafo.
Família
A vida da compositora Elfrida Andrée foi, portanto, uma eterna luta para abrir caminho numa sociedade extremamente conservadora.
Para isso, seu pai foi determinante! Ativo militante liberal, ele passou a vida lutando por mudanças nas leis e na sociedade suecas que abrissem espaço para as mulheres. Não se tratava apenas de palavrório: ele realmente realizou ações políticas nesse sentido, sempre pensando em suas duas filhas.
Ela e sua irmã, Fredericka, que viria a tornar-se uma cantora de ópera, começaram a estudar música com o próprio pai. Estudaram piano, canto harmonia e órgão.
Abaixo você pode ouvir um movimento da bela sonata para piano em lá maior composta por Elfrida.
Dificuldades
Quando chegou a hora de trabalhar, começaram as dificuldades. A mesma lei que proibia as mulheres de operarem telégrafo também as proibia de trabalhar como regentes ou preparadoras de coro, ou atividade semelhante.
Contudo, algum tempo depois, graças à ferrenha luta política do seu pai, Elfrida pôde trabalhar nessas atividades por bastante tempo. E talvez não seja demais dizer que Elfrida também trabalhou por um tempo justamente como… operadora de telégrafo…
A combinação de talento, sólida formação musical e ativismo político liberal foi o que tornou possível Elfrida fazer da música uma carreira profissional.
Instrumento favorito
E em seu caso, a composição estava intimamente ligada à atividade como organista. Ela foi organista em várias igrejas, destacando-se as catedrais de Estocolmo e de Gotemburzgo.
Como não poderia deixar de ser, escreveu várias peças para seu instrumento, com grande destaque para duas sólidas sinfonias para órgão, uma delas incluindo instrumentos de sopro.
Obra a ser descoberta
Elfrida Andrée chegou a ser reconhecida e até premiada em vida; mas a verdade é que sua obra permanece desconhecida. Apenas uma fração dela foi impressa; muitas foram executadas apenas em concertos privados; a maioria das execuções se deu só dentro da Suécia; finalmente, há muito poucas gravações disponíveis.
É uma obra que está para ser descoberta: além do repertório para órgão, destacam-se uma ópera, duas sinfonias, uma abertura sinfônica, muitas peças para piano, para coro e para música de câmara.
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Se você digitar no Google a expressão “List of female composers” – Lista de mulheres compositoras, em português, verá surgir diante de seus olhos uma lista com centenas – isso mesmo, centenas de nomes.
A mais antiga, Safo, nascida no ano de 612 ac, até Barbara Ardanuy, nascida em 1988. É mesmo uma relação impressionante, que reforça a questão: por que não se ouve falar delas?
Bem, para mim a resposta é muito simples: vivemos um mundo machista e patriarcal, em que o lugar das mulheres sempre foi no lar, longe da maioria das disputas profissionais. Apenas pouco a pouco elas foram conquistando seu devido espaço.
Nem seria demais lembrar que até cento e poucos anos atrás, nos países mais modernos, a mulher não tinha direito a voto.
Portanto, essas mulheres compositoras que figuram na lista se dedicaram à música, mas sem entrar nas disputas de “mercado”, para falar na linguagem atual. Isso só começou a acontecer mesmo no início do século XX.
Assim, para termos uma ideia bem real de como essas mulheres compositoras viveram e trabalharam, eu pensei em pesquisar a vida de uma delas; a mais conhecida de todas, ou talvez a menos desconhecida: Clara Wieck Schumann, esposa do compositor Robert Schumann.
Início
Já há o que contar antes dela nascer: seu pai já havia decidido que seu filho seria levado a estudar música a fundo, torná-lo um artista de excelência, e conduzi-lo à vida musical profissional. Será que Wieck cogitou que seu filho pudesse nascer uma… filha? Não sabemos, mas o que sabemos é que ele se manteve determinado em seguir seus planos.
Aos cinco começou a dar-lhe aulas de piano. Depois de muitas apresentações privadas, a pequena Clara fez sua primeira aparição pública na sala Gewandhaus de Leipzig.
Era o dia 20 de outubro de 1828. A pequena Clara tinha apenas 9 anos de idade.
Logo ela começaria a estudar violino, canto, instrumentação, leitura de partitura orquestral, contraponto e composição.
Com 15 anos de idade já era aclamada por toda a Europa como um fenômeno; uma criança prodígio! Entre seus fãs estavam ninguém menos que Mendelssohn, Chopin e Paganini… Já fazia 5 anos que compusera suas primeiras obras.
Abaixo, a 1ª peça de 4 Peças características para piano, opus 5, escritas quando ela tinha ainda quinze anos de idade.
Cada uma tem um título: a 1ª é Improviso: O Sabah; a 2ª, Capricho em Bolero; a 3ª é um Romance, e a 4ª uma “cena Fantástica: o Balé dos Fantasmas”.
Embora não se trate de uma obra prima, a obra é deliciosa de se ouvir, divertida, e mostra que a menina tinha mesmo muita imaginação.
Sucesso
Nos anos seguintes, só sucesso! Concertos por toda a Europa, mais elogios de celebridades, como Franz Liszt, que a considerava uma artista completa, apesar da pouca idade.
Aos 17 anos recebeu uma condecoração da Corte Imperial Austríaca, raramente outorgada a um estrangeiro. Tudo ia, portanto, muito bem, até que ela se apaixonou pelo compositor Robert Schumann.
Casamento
Schumann agiu corretamente: pediu a mão da jovem a seu pai; mas isso resultou numa imensa briga, num conflito que durou 3 anos e obrigou os jovens apaixonados a entrar com uma ação na justiça, contra o pai de Clara, para poderem se casar.
Wieck fez de tudo, chegando a agir irracionalmente, mas de nada adiantou. Clara e Robert Schumann se casaram em 1840. Clara tinha 21 anos, Robert 30.
Aí aconteceu o inevitável: a carreira de Clara sofre um enorme baque. Tinha uma casa para cuidar; a casa só tinha um piano, e a prioridade era do marido, que ficava horas e horas trabalhando sobre ele. Logo vieram filhos: 8 ao todo, 1 após o outro.
Carreira
Mesmo assim Clara, heroicamente, deu um jeito de continuar tocando. Fez apresentações em Copenhagen e na Rússia. Lecionava no Conservatório de Leipzig, e também dava aulas particulares em casa.
Compor ficou em último lugar. Ela não chegou a abandonar a atividade, mas a produção foi pequena. Por outro lado, o nível subiu. A maturidade mais o convívio com as ideias sérias do marido sobre a música e sua importância, fez com que o estilo de Clara se depurasse.
Abaixo, você pode conferir o Trio para violino, violoncelo e piano opus 17, composto quando Clara estava com 28 anos de idade, entre o 4º e 5º filho. São 4 movimentos: Allegro Moderato, Sherzo: Tempo di Minuetto, Andante e Allegretto.
Sensibilidade
Apesar do pouco tempo que sobrava, Clara ia compondo, quando era possível. Como excelente pianista que era, a maioria das obras que criou são para esse instrumento.
Para música de câmara há apenas uma outra obra, para violino e piano. Para orquestra, apenas duas obras.
Mas há um gênero que Clara cultivou com a mesma atenção que deu para sua obra pianística: a canção. O número de canções que deixou se aproxima ao número de peças para piano que produziu. Era um gênero em que sua sensibilidade pessoal estava muito à vontade.
Uma pequena amostra da imensa sensibilidade de Clara Wieck Schumann para criar canções.
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O compositor alemão Johann Pachelbel, predecessor de J.S. Bach, autor de uma obra imensa e de altíssima qualidade, é lembrado hoje apenas por uma obra, conhecida por “Canon de Pachelbel” uma peça bem escrita agradável de se ouvir, mas que seguramente não está entre o que ele fez de melhor.
Pachelbel merecia ter sua obra mais tocada, mais conhecida. Este é o exemplo mais conhecido de “compositor de uam obra so´”. Mas há muitos ouros! Vamos então falar aqui de um outro compositor com quem acontece algo muito semelhante: o italiano Tomaso Albinoni.
Adagio para Cordas
Tomaso Giovanni Albinoni nasceu em Veneza, no ano de 1671, ou seja, foi como Pachelbel um predecessor de J.S. Bach. E como Pachelbel é lembrado hoje em dia por uma única obra: o Adagio para cordas, órgão e violino solista.
Esse adagio foi um dos maiores sucessos da indústria fonográfica na 2ª metade do século XX. Muitas orquestras o gravaram e ganharam muito dinheiro com isso, até mesmo a mais sagrada de todas: a Filarmônica de Berlim, quando era dirigida pelo maestro Herbert von Karajan.
Pelo menos isso é o que está escrito na capa do disco; na verdade hoje sabemos que essa peça não é de Albinoni.
Remo Giazotto
Para entendermos a história desse Adagio precisamos voltar no tempo, até março de 1945, quando houve um grande bombardeio sobre a cidade de Dresden, na Alemanha.
Na ocasião, a biblioteca da cidade foi destruída. Muitos documentos importantes desapareceram, entre eles muitos manuscritos de obras de Albinoni que nunca haviam sido editadas.
Pois bem, alguns anos depois, um musicólogo italiano chamado Remo Gaziotto disse ter obtido um fragmento de uma partitura de Albinoni que havia sobrevivido ao bombardeio, e que a partir desse fragmento reconstruíra um movimento de uma sonata do compositor.
A obra foi lançada em 1958, e fez muito sucesso. Porém, à medida que outras peças de Albinoni foram sendo descobertas, percebeu-se que o tal adagio não parecia em nada com elas.
Pressionado, Gaziotto acabou admitindo que se tratava mesmo de uma composição sua.
No link abaixo, você pode ouvir uma obra genuína de Albinoni.
Como você certamente notou, um estilo nada parecido com o Adagio de Remo Giazotto. Nada daquela dramaticidade gigantesca do Adagio, do sentimentalismo exacerbado, desesperado, do final do século XIX, mesclado com os padrões harmônicos dos compositores barrocos, cuja obra estava sendo descoberta aos poucos, e fazendo muito sucesso.
Casos Similares
O italiano Remos Giazotto não foi único a criar Frankensteins musicais como esse. Existem muitas obras do gênero, como dois concertos para viola do francês Henri Casadesus, um atribuído a Handel, outro a J.S. Bach. Seu irmão, Marius Casadesus, compôs um Concerto para Violino e disse que era de Mozart.
E o violinista austríaco Fritz Kreisler compôs mais de 15 peças que atribuiu divertidamente a vários compositores, como Couperin, Boccherini, Tartini e muitos outros.
Durante algum tempo acreditou-se que se tratavam de obras originais, mas pouco a pouco, a verdade foi vindo à tona. E o interessante é que muitas dessas peças tem qualidades musicais e são tocadas com frequência.
Vida e Obra
A vida de Albinoni foi uma exceção entre os compositores de seu tempo. Ao contrário de 99% deles, que vinham de famílias pobres, e precisavam de um bom emprego para sobreviver, Albinoni era filho de uma família rica.
Graças a essa condição, decidiu dedicar-se inteiramente à música, do modo como desejava, ou seja, sem ter que atender os gostos de seus patrões.
Inicialmente estudou violino e canto, e a maior parte de sua obra é de música vocal.
Escreveu mais de 80 óperas; sabemos o nome de todas elas, e quando estrearam. Porém, a maioria das partituras se perdeu, muito provavelmente na destruição da biblioteca de Dresden. Lamentavelmente, dessas 80 óperas, restaram as partituras completas de meia dúzia.
“Vespetta e Pimpinone”
Vejamos um exemplo, “Vespetta e Pimpinone”. Trata-se de um “Intermezzo”, palavra usada naquele tempo para uma ópera pequenina, leve e de caráter cômico. A trama de Vespetta e Pimpinone era muito comum e serviu de base para outros compositores como Pergolesi e Telemann.
Uma jovem bonita e esperta vai trabalhar como empregada na casa de um senhor idoso, rico e… bobo. Acaba, graças à sua astúcia, casando-se com ele e consequentemente, mudando de nível social.
Repertório Instrumental
A música instrumental de Albinoni teve mais sorte que sua obra operística. Muitas partituras de seus concertos foram preservadas até hoje, e muitos deles foram gravados.
Ele deixou nada menos que 99 sonatas, 59 concertos e 9 sinfonias, e boa parte dessas partituras foi, felizmente, preservada.
Esse repertório instrumental foi bem divulgado, atraindo a atenção de outros músicos de fora da Itália, até mesmo de J.S. Bach, que escreveu fugas baseadas em temas de Albinoni.
Albinoni foi violinista e é natural que a maioria de seus concertos seja para violino solista. Contudo, ele deixou uma imensa contribuição para o repertório do oboé.
Aparentemente foi o 1º compositor italiano a utilizar o oboé como instrumento solista, e também um dos primeiros a utilizar os oboés como parte integrante da orquestra. Dos seus concertos para o oboé, o mais tocado é o Opus 9, nº 2.
Pena que uma grande parte das obras de Albinoni tenha se perdido durante a 2ª Guerra. Mas os musicólogos estão por aí, trabalhando, e quem sabe outras cópias dessas obras não serão descobertas?
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Filho de imigrantes ucranianos, Leonard Bernstein nasceu numa pequena cidade a aproximadamente 50 Km de Boston, no norte dos Estados Unidos. Estudou música em escolas de primeiríssimo nível – a Universidade de Harvard, e o Curtis Institute, da Filadélfia.
Depois de terminar curso no Curtis Institute, Bernstein seguiu para Nova Iorque, onde começou a trabalhar e tomar contato com música popular. Sua carreira progrediu muito rapidamente, até ser indicado regente assistente da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque.
Um dia, o regente convidado Bruno Walter adoeceu subitamente, e Bernstein teve que reger em seu lugar, de última hora e sem ensaio. Foi um imenso sucesso!
O concerto havia sido transmitido para todo o país, e no dia seguinte, o New York Times reportou a história na primeira página e no editorial. Bernstein tornou-se, do dia para noite, uma celebridade. Era novembro de 1943, e ele tinha apenas 25 anos de idade.
Jeremias
Além disso, nessa mesma época Bernstein começava a aparecer como compositor, de sólida formação. Antes desse primeiro sucesso como regente, ele já havia escrito sua primeira sinfonia, intitulada “Jeremias”. Cada um de seus movimentos tem também um título. O 1º é Profecia; o 2º Profanação e o 3º Lamento.
Fancy Free
Vamos agora para a música do Balé “Fancy Free“, de 1944. A coreografia foi de Jerome Robbins, que se tornou muito conhecido por seus trabalhos na Broadway.
No vídeo abaixo podemos ouvir alguns trechos da música que Bernstein escreveu para esse espetáculo; aqui, a influência do jazz é claramente perceptível.
Uma obra em que a fusão do clássico europeu com a música popular norte-americana é evidente – incluindo até uma pitada de música popular cubana no último movimento.
Big Band
Em seguida uma obra que eu considero muito especial: Preludio, Fuga e Riffs, para clarineta solo e Big Band.
Aqui a mescla entre música europeia e norte-americana é ampla. Temos uma das mais antigas e consagradas formas clássicas, o prelúdio e a fuga. A forma é clássica, mas o meio de expressão escolhido é tipicamente jazzístico: a Big Band.
A Big Band é uma das mais notáveis invenções musicais norte americanas, uma pequena orquestra de altíssima potência sonora e versatilidade, formada por trompetes, trombones, saxofones e uma sessão rítmica.
Tudo isso além da clarineta solista. O tecido musical foi cuidadosamente trançado usando ritmos e harmonia do jazz e da música europeia. E finalmente, não posso deixar de dizer que a forma original – Prelúdio e Fuga, tão europeia – foi contaminada por uma terceira parte tipicamente jazzística, chamada Riffs. A palavra riff significa um trecho musical simples que é repetido muitas vezes.
A peça tem três movimentos: Prelúdio para os metais, Fuga para os saxes e Riffs para todo mundo.
West Side Story
Para terminar, vamos à obra mais conhecida de Bernstein: West Side Story, um musical da Brodway produzido no ano de 1957.
O espetáculo partiu de uma transposição de Romeu e Julieta, de Shakespeare, para os subúrbios de Nova Iorque. Dois jovens, pertencentes a etnias e gangues rivais, se apaixonam, Maria, de ascendência Porto-Riquenha, e Tony, de ascendência Polonesa.
A forte temática social, sofisticadas coreografias e igualmente sofisticada música fizeram com que a peça se tornasse um divisor de águas no teatro musical norte-americano.
Foram realizadas nada menos que 732 apresentações, e em seguida o espetáculo começou a viajar. Quatro anos mais tarde ele virou filme, recebendo nada menos que 10 Oscars.
Na mesma época Bernstein preparou uma suíte sinfônica da música original, intitulando-a “Danças Sinfônicas de West Side Story”. É uma obra admirável, uma das mais executadas do compositor.
Ela tem nove movimentos, que são tocados sem interrupção:
1) Prólogo
2) A canção Somewhere
3) Scherzo
4) Mambo
5) Cha-cha
6) Cena do Encontro
7) Fuga
8) Briga de Rua
9) Finale
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Qual seria a relação entre Bach e Vivaldi? Relação pessoal nós sabemos que não houve; Bach nunca saiu da Alemanha; Vivaldi, até onde se sabe, nunca foi até lá.
Além disso, não há nenhuma carta trocada entre os dois mestres. Mesmo assim, sabemos que J. S. Bach conheceu a música de Vivaldi.
Isso é absolutamente certo, porque Bach transcreveu para cravo e para órgão, concertos de Vivaldi escritos originalmente para um ou mais violinos e orquestra.
Essas partituras de Bach ficaram para posteridade, são autênticas, e, portanto, provam que Bach não só conhecia, mas apreciava a música de seu contemporâneo italiano.
Numa rápida pesquisa, eu levantei 10 obras de Bach feitas a partir de Vivaldi.
A mais comentada é o concerto para 4 cravos, catálogo BWV 1065, que é uma transcrição do Concerto para 4 violinos de Vivaldi op. 3 nº 10.
Até mesmo para quem já conhece as duas obras é uma experiência interessante ouvi-las em seguida, e compará-las.
Na versão original, de Vivaldi, temos quatro violinos solistas acompanhados por uma pequena orquestra. Esta orquestra é formada por 1ºs violinos, 2ºs violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e cravo.
Transcrição
Em sua transcrição, Bach manteve a mesma formação orquestral. Os quatro solistas, contudo, são quatro cravos, em lugar de quatro violinos.
Trata-se do primeiro concerto escrito para quatro instrumentos de teclado, acompanhados por orquestra. Bach manteve escrupulosamente a mesma forma estabelecida por Vivaldi.
Fazendo uma analogia, poderíamos dizer que, se o concerto de Vivaldi fosse um texto literário, o concerto de Bach seria exatamente o mesmo texto, com a mesma história, com o mesmo número de parágrafos e frases. Haveria algumas palavras a mais, que deixariam o texto um pouco mais ornamentado, mas nada seria mudado em sua essência.
Diferenças
Falei como Bach ateve-se escrupulosamente à partitura original de Vivaldi, introduzindo algumas alterações puramente ornamentais. Indo além, podemos também refletir um pouco sobre as diferentes sonoridades obtidas.
Violino e cravo têm diferenças marcantes, e eu chamo a atenção para duas delas.
A primeira é a possibilidade do violino tocar notas muito mais longas que o cravo. No cravo, o instrumentista pressiona uma tecla, uma nota é gerada e dura poucos segundos, até esvair-se totalmente.
O violino, por sua vez, é capaz de emitir uma nota muito longa, muito mais longa que a do cravo. Se o violinista utilizar o arco com cuidado, poderá até simular uma nota de duração indefinida.
Por isso, em alguns trechos, para compensar a falta de sustentação sonora do cravo, Bach, no lugar das notas longas originais, escreve muitas notas em seguida, em fragmentos de escalas ou arpejos.
A segunda grande diferença entre cravo e violino é que o cravista pode tocar várias notas ao mesmo tempo, coisa que no violino é bem complicada,
Assim, em alguns trechos onde Vivaldi escreve para o violino apenas uma nota por vez, Bach escreve para o cravo duas ou mais linhas melódicas simultâneas.
Esses são exemplos das tais diferenças ornamentais que eu citei há pouco.
Órgão
Vamos agora, caro leitor, para outra obra de Vivaldi, transcrita por Bach. Trata-se de um concerto para dois violinos, acompanhados por pequena orquestra, também formada por 1ºs violinos, 2ºs violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e cravo.
Bach transcreveu este concerto não para cravos solistas, como no caso anterior. Ele escolheu para isso o órgão – apenas um órgão.
Este único órgão toca a parte dos dois violinos solistas e também da orquestra – que Bach simplesmente dispensou.
Como eu dizia há pouco, Bach conseguiu transcrever para um órgão apenas, as notas tocadas pelos dois violinos solistas e pela orquestra.
O leitor pode perguntar: mas isso é possível?
É, caro leitor. Acontece que o órgão é um instrumento de muitos recursos. A partitura desta peça que acabamos de ouvir é escrita em três pentagramas: um para a mão direita, outro para a mão esquerda outra para os pés do organista.
Além disso, o órgão pode fazer as tais notas longas, sustentadas, que o cravo não pode. Comparamos, portanto, duas obras de Vivaldi para violinos solistas e orquestra, com duas transcrições de Bach bem distintas, uma para cravos solistas acompanhados por orquestra, e outra para órgão solo.
Em ambas, o texto musical original, de Vivaldi, foi cuidadosamente respeitado; as modificações introduzidas por Bach têm caráter puramente decorativo. O que variou e muito foram as sonoridades obtidas em cada caso.
Benedeto Marcello
Bach conhecia a obra de muitos outros compositores italianos além de Vivaldi. Isso era natural, pois a música Italiana era apreciada e divulgada em toda a Europa, exercendo quase que uma hegemonia naquele tempo.
Vivaldi era de Veneza, cidade onde se fazia muita boa música há séculos, e outros compositores notáveis foram seus contemporâneos.
Um deles foi Benedeto Marcello, de quem Bach transcreveu para cravo solo um concerto original para violino solo e orquestra.
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A Espanha sempre fascinou os compositores franceses. Ravel, Debussy, Lalo, Chabrier, Bizet, escreveram obras de grande beleza inspiradas na música daquele país. E o mesmo aconteceu com compositores de outros países, como os russos Glinka e Rimsky-Korsakov. Contudo, os compositores espanhóis continuam bem pouco conhecidos do público amante de música de concerto.
Assim, nossa postagem de hoje será dedicada a alguns deles, e eu tenho certeza de que quem não conhece vai se encantar com esse repertório de forte personalidade.
Eu não sei se vocês já notaram, mas quando se fala em música clássica, vem imediatamente à cabeça de todo mundo uma série de compositores de cultura germânica, alemães ou austríacos: Bach, Händel, Mozart, Haydn, Beethoven, Brahms, Wagner. E sobra apenas um pouco de espaço para alguns compositores de outros países, como os russos Tchaikovsky ou Rachmaninof, ou os franceses Berlioz ou Ravel.
História
No século XIX, os compositores alemães exerciam um verdadeiro domínio sobre a cultura musical de vários países, e esse foi um dos motivos do surgimento das escolas nacionalistas. É como se a música alemã estivesse no centro, e a música dos outros países estivesse na periferia. Pois bem, neste cenário a música espanhola parece estar na periferia da periferia, o que é absolutamente injusto.
Enquanto alguns países só floresceram musicalmente na segunda metade do século XIX, na onda do movimento nacionalista, a Espanha registrava um riquíssimo passado musical desde a idade média.
Após a queda do império romano, a península ibérica foi invadida pelos Visigodos. Convertidos ao Cristianismo, os visigodos desenvolveram um extenso repertório de cantos religiosos. Mais tarde, sob domínio árabe, os cristãos continuaram seus ritos com melodias fortemente influenciadas pela música dos invasores, e desenvolveram mais uma vez um estilo próprio, distinto do canto gregoriano: o canto moçárabe.
Ao chegar à renascença, duas principais formas musicais se definiram na Espanha: o Romance e o Vilancico. O romance era uma canção em geral de caráter narrativo, com texto literário, comumente cantado nas cortes, por coros ou por um cantor solista acompanhado por alaúde.
O Vilancico também era feito sobre textos seculares, ou seja, não religiosos, mas tinha como forma definida a alternância entre estrofe e refrão. Além disso, era ligado à dança e a temas populares. Com o passar do tempo, o Vilancico passou a ser feito também sobre temas religiosos. Ou seja, até meados do século XV, a palavra Vilancico designava qualquer música vocal que não fosse um Romance.
Juan de Encina
Dentre os compositores renascentistas espanhóis, pelo menos dois não podem deixar de ser citados: Juan de Encina e Tomás Luís de Victoria.
Encina, além de músico, foi poeta e dramaturgo. Destaca-se entre os compositores europeus de seu tempo por sua capacidade de equilibrar ritmo e expressividade. Aí já vemos a presença deste que é o mais forte traço da música ibérica: o ritmo.
Encina trabalhou na Corte do Duque de Alva, onde, a fim de entreter os membros da corte, apresentava com poemas, canções de amor e pequenas peças nas quais introduzia peças a 3 ou 4 vozes.
Tomás Luís de Victoria
O outro grande artista da música renascentista espanhola foi Tomás Luís de Vitória, que viveu entre 1548 e 1611. Victória se distingue de Encina por ter sido padre e por ter composto exclusivamente música sacra em estilo italiano. Victoria viveu em Roma por 25 anos, voltando `a Espanha com 32 anos de idade. Sua música é comparada à de Palestrina, ao lado de quem é tido como o maior compositor de música religiosa da Renascença. Seu estilo é profundamente religioso, estabelecendo forte ligação emocional e dramática com o texto.
Zarzuela
A Espanha também teve seu barroco, embora seus principais compositores sejam ignorados por nós. Na música para cravo destacaram-se os compositores Juan Batista Gomes, Juan Pujol, Juan Cabanilles e principalmente Francisco Correa de Arauxo.
O barroco foi marcado pelo nascimento da ópera, na Itália. Imediatamente a França seguiu a tendência, criando um tipo de ópera em estilo muito próprio. E o mesmo se deu na Espanha. Um dos maiores dramaturgos espanhóis, Calderón de la Barca, criaria em 1657 um gênero dramático-musical tipicamente espanhol: a Zarzuela. Em geral em um ou dois atos, a Zarzuela do século XVII tinha tema mitológico, com muitos coros e canções alternados por trechos falados.
Após Calderón, muitos outros dramaturgos e compositores escreveram Zarzuelas. A Zarzuela prosperou na Espanha por muitas décadas, porém nunca se impôs como um estilo internacional. E a partir de 1725, passaria a ceder espaço para a ópera italiana, que se tornava um sucesso irresistível em toda a Europa.
Juan Crisóstomo Arriaga
Então, até o início do século XIX a Espanha produziria um imenso número de compositores, fossem de zarzuelas, de canções ou de música para guitarra, que faziam sucesso dentro do país, mas não conquistavam projeção internacional. A primeira esperança nesse sentido veio com Juan Crisóstomo Arriaga, nascido em Bilbao em 1806. Arriaga foi logo apelidado de o Mozart espanhol, por seu excepcional talento demonstrado desde muito cedo.
Bem jovem ele foi para a França, a fim de estudar no Conservatório de Paris. Aos 19 anos já havia composto uma ópera, uma sinfonia, um octeto, um noneto, uma missa, um Stabat Mater, um Salve Regina, 5 cantatas, inúmeras canções, e estudos para piano. Infelizmente com essa mesma idade ele viria a falecer, causando uma imensa frustração em todos que previam para ele uma brilhante carreira internacional. Sua música é de grande refinamento e beleza.
Felipe Pedrell
Morto Arriaga em 1826, o domínio musical italiano continuava. E a reviravolta que resultaria no nascimento de uma magnífica escola de composição nacional começou com um homem chamado Felipe Pedrell, que viveu entre 1841 e 1822.
Pedrell, além de compositor de grande mérito, foi musicólogo, escritor e editor responsável por iniciativas da maior importância. Editou as obras completas de Victoria, um dicionário de músicos espanhóis, portugueses e latino-americanos, e é considerado o criador da moderna musicologia espanhola. E além de tudo isso, foi professor de três dos mais importantes compositores espanhóis nascidos na segunda metade do século XIX: Isaac Albéniz, Enrique Granados e Manuel de Falla.
Isaac Albéniz viveu entre 1860 e 1909. Foi menino-prodígio ao piano, e estudou com Franz Liszt na Alemanha. Sua importância como compositor foi tão grande que exerceu forte influência sobre ninguém menos que Debussy e Ravel. De sua obra destacam-se um concerto para piano, um oratório chamado El Cristo, uma ópera notável, Pepita Jimenez, e um grande número de obras para piano solo. Destas, destaca-se sua suíte espanhola, opus 47.
Enrique Granados
Enrique Granados foi contemporâneo de Albéniz: viveu entre 1867 e 1916. Estudou música em Paris, e além de compositor e pianista, foi um talentoso pintor, de estilo semelhante ao de Francisco Goya.
Como Albéniz, Granados compôs muito para o piano, mas tinha um estilo mais lírico, enquanto o de Albéniz era mais enérgico. Granados destacou-se como compositor orquestral. Seus poemas sinfônicos Divina Commedia e La nit del mort, foram pioneiros no sinfonismo espanhol. Também escreveu Zarzuelas.
Admirador que era do pintor Goya, Granados escreveu uma suíte para piano inspirada neste grande artista.
Manuel de Falla
O terceiro aluno destacado de Felipe Pedrell foi Manuel de Falla. Mais jovem que Albéniz e Granados, viveu entre 1876 e 1946. Como eles, foi excelente pianista. Com 31 anos de Falla foi para Paris, onde tornou-se amigo dos compositores Claude Debusy e Paul Dukas, e de inúmeros intelectuais e artistas da época. Seria o compositor de sua geração que mais contribuiria para projetar internacionalmente a música de seu país. Procurou criar música moderna, do mais alto valor artístico, baseada no folclore de seu país, mas sempre esteve aberto à influência francesa.
De sua obra destacam-se a ópera La Vida Breve, a ópera de bonecos O Retábulo de Mestre Pedro, os Balés El Amor Brujo, e El Sombrero de Três picos”, a Cantata cênica Atlântida. Entre as obras puramente instrumentais destaca-se Noites nos Jardins de Espanha, para piano e Orquestra.
Quanto mais a gente conhece esse repertório, menos entende porque muita gente tem a percepção de que a música espanhola ocupa um papel periférico na música erudita europeia. É uma música, aliás, muito próxima do nosso gosto brasileiro, pois afinal, muitas de nossas raízes são ibéricas.
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Começo a postagem de hoje relembrando meu tempo de estudante. Eu sempre tive um lado meio, digamos do contra. Enquanto todo mundo corria para um lado, eu gostava de, de vez em quando, correr para o lado onde ninguém estava indo. Isso quer dizer que eu acabava pesquisando algumas coisas que chamavam a atenção de muito pouca gente. Uma dessas minhas pesquisas envolveu os compositores britânicos.
Como estudante de música, eu praticamente só tocava obras de compositores alemães, franceses, italianos, russos e brasileiros. Até que em um belo dia comecei a pensar: e os compositores ingleses? Por que ninguém fala deles? Por que nunca ouço suas obras?
Quando perguntava isso a colegas ouvia como resposta que os compositores ingleses eram em geral desinteressantes… que com exceção de Henry Purcell e Elgar, não havia muito mais o que ouvir.
Eu nunca consegui acreditar nessas respostas, e assim, saí à luta. E descobri muitos compositores britânicos pra lá de interessantes. E um pouco da música desses compositores muito pouco conhecidos eu vou compartilhar com vocês hoje.
Malcolm Arnold
O primeiro deles é Malcolm Arnold, que nasceu em Northampton em 1921 e faleceu em 2006. Arnold foi trompetista, ocupando uma das cadeiras da Orquestra Filarmônica de Londres. Em 1948, com 27 anos de idade, ele deixou a orquestra para dedicar-se exclusivamente à composição.
A maior parte de sua obra foi escrita para orquestra, destacando-se 9 sinfonias, compostas entre 1951 e 1982. Além disso escreveu muita música para cinema.
Seu estilo mostra influências de Sibelius e Berlioz. Esse comentário pode soar um pouco estranho para que conhece bem a obra desses dois compositores. Mas isso fica fácil de entender quando ouvimos um comentário muito frequente sobre sua obra, que diz: “existem dois Malcolm Arnolds: um leve e um pesado”
Claro que esse é um comentário simplista, mas que tem uma base na verdade. Acontece que Arnold era capaz de escrever música da maior densidade dramática, bem como expressar muito humor e sarcasmo.
Aliás, aqui e ali Arnold se permitia a liberdade de tocar os universos da música pop, do jazz e da música hollywoodiana, coisa que faz dele um compositor cada vez mais atual.
Vamos conferir esses aspectos de sua obra na interessantíssima Serenata para Pequena Orquestra, opus 26. Ela foi escrita em 1950, quando o autor tinha 29 anos. Tem 3 movimentos: Allegretto, Andante com moto e Allegro Vivace.
Arnold Bax
Aliás, muitos desses compositores foram praticamente ignorados fora da Inglaterra durante suas vidas por serem considerados muito conservadores, distantes das experiências ousadas de artistas como John Cage ou Stockhausen. Mas esse julgamento talvez tenha sido severo demais, e sob esse aparente conservadorismo existe um pensamento musical muito rico e digno de ser ouvido.
Continuemos então com Arnold Bax, que viveu entre 1883 e 1953, ou seja, pertenceu a uma geração anterior à de Malcolm Arnold. Como este, Bax revela também a influência de Sibelius. A maior parte de sua música é muito densa, em harmonia e contraponto.
Sua obra é bastante grande, incluindo sete sinfonias, concertos, música de câmara, coral e música para cinema.
A obra de Bax para piano também é muito interessante. Bax era apaixonado pela Rússia e por sua cultura. Ele visitou o país em 1910, assim como aconteceu com diversos artistas em vários países europeus, encantou-se com os bailados russos que eram apresentados naquela década.
Edmund Rubbra
O próximo compositor que conheceremos é Edmund Rubbra, que viveu entre 1901 e 1986. Rubbra nasceu em Northhampton, mesma cidade natal de Malcolm Arnold. Trabalhou como professor, pianista e crítico musical, e só depois de muito tempo sua música passou a apresentar um estilo próprio, independente dos maiores compositores britânicos de seu tempo, como Bax ou Holst.
Um marco de sua evolução estilística foi sua 1ª Sinfonia, escrita em 1937, quando Rubbra já tinha 36 anos.
Sua obra inclui 11 sinfonias, concertos para piano, violino, viola, quatro quartetos de cordas, e uma boa quantidade de música sacra, como missas e motetos.
Rubbra talvez seja o menos conhecido dos compositores ingleses que aqui apresentamos. Contudo sua música é de grande qualidade e expressividade. Alguns críticos costumam dizer que ele é um típico compositor para ser gravado, pois sua música só revela seus segredos após ser ouvida várias vezes.
“Movimento Lírico” Rubbra não poderia ter escolhido um título mais apropriado. A música nos envolve num clima de sonho e facilmente nos tira do mundo real.
Sir Arthur Bliss
O último compositor que ouviremos é aquele que foi considerado o sucessor de Edward Elgar: Sir Arthur Bliss.
Imensamente festejado e homenageado em seu país, Bliss é praticamente desconhecido no Brasil. Sua música é extremamente brilhante e direta, causando forte impacto em quem a ouve pela primeira vez.
Dentre as obras de Bliss podem ser citadas como principais a ópera The Olympians, seus três bailados, Checkmate, Miracle in the Gorbals, Adam Zero, a trilha sonora do filme Things to Come, e sua Colour Sympony.
Porém dentre tudo isso o que mais me impressiona é o “Furiant” para viola e piano, em que os dois instrumentos parecem soar com a energia de uma orquestra sinfônica.
Vamos ouvir e tenho certeza de que vocês concordarão comigo.
Hoje mostrei um pouquinho da enorme injustiça que se faz a muitos compositores britânicos espetaculares que são muito pouco ouvidos no Brasil, e aliás, também pouco ouvidos no continente europeu.
Será que essa é uma música que só cativa ouvidos britânicos? Gostaria de saber a opinião de vocês. Espero que tenham gostado deste post.
E aqui vai uma dica de um livro leve e breve sobre a história da música, boa opção de presente.
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