Dmitri Shostakovich foi sem dúvida um dos maiores compositores do século XX. Sua obra é imensa e diversificada, mas ao ouvir seu nome, o público geralmente o associa à música sinfônica, ou à música de câmara. Isso é natural pois em suas 15 sinfonias e 15 quartetos de cordas encontramos verdadeiras obras primas, música de uma sofisticação e força dramática do mais alto nível. Isso associado à sua personalidade tímida e extremamente modesta leva muitos a pensarem que sua música é sempre muito séria, o que não é verdade.
Música Divertida
Shostakovich era dono de um humor refinado e um sincero gosto pela música ligeira. Esse é um ponto que eu julgo interessante, pois é comum ouvirmos dizer que quando escreveu música mais leve, o fez por imposição do governo soviético. Mas a questão não é assim tão simples. Shostakovich sinceramente gostava da música popular, de fácil assimilação, e escreveu muita música com essas características. Uma boa parte dessa música ele colocou em cena.
Além das 15 sinfonias e 15 quartetos já citados, Shostakovich escreveu 6 concertos para vários instrumentos, música de câmara com piano, peças para piano solo, canções, música coral, incluindo várias cantatas e oratórios. Uma produção imensa que incluiu também 2 óperas, 1 opereta, música para 36 filmes e 11 peças de teatro.
Esse segmento de música cênica, em geral divertida, bem-humorada, sarcástica, é uma faceta pouco conhecida do grande compositor russo.
Cinema
Em 1930, Shostakovich estava ocupado com uma de suas obras mais sérias, a ópera “Lady Macbeth de Mtsensk”, e interrompeu o trabalho para escrever música para o filme “Odna”, que em português quer dizer “solitário”.
A maior parte da partitura se perdeu. Um importante maestro russo, Gennadi Rozhdestvensky conseguiu recuperar alguns trechos e os estruturou numa suíte em três movimentos.
Teatro
Shostakovich iniciou seu trabalho nesta área também por volta de 1930, e o fez em excelente companhia. A primeira peça para a qual escreveu música era de autoria de Mayakovsky, e teve a direção geral do eminente diretor Vsevolod Meyerhold. Em seguida, em 1932, criou música para Hamlet, de Shakespeare, e em 1934 seria a vez da monumental “Comédia Humana” de Honoré de Balzac.
Na suíte abaixo podemos perceber sua habilidade para evocar a atmosfera parisiense. O último movimento, por exemplo, é uma marcha que não tem nada de russa. São cinco movimentos: Panorama de Paris, O Escritório de Polícia, Gavota, Cenas Costeiras e Marcha.
Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk
Shostakovich nasceu em 1906, começou a estudar música aos 9 anos de idade e concluiu o curso de composição aos 19. Como peça de graduação escreveu sua 1ª sinfonia, uma obra fantástica, de grande personalidade. Logo o jovem compositor iria fazer experiências inéditas, escrevendo música para balé, teatro, filme e uma ópera. Eram etapas necessárias de aprendizado. Um projeto mais ambicioso começaria em 1932: a ópera “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk”, sobre texto do escritor Nikolay Leskov. Estreou em Leningrado em 22 de janeiro de 1934, e dois dias depois em Moscou.
A crítica considerou a obra soberba, uma das maiores vitórias da cultura socialista. A reação do público não foi menos entusiasmada, e em dois anos a ópera já tinha sido levada a cena 180 vezes só na Rússia. Atraiu interesse internacional e foi montada também em Nova Iorque, Estocolmo, Londres, Zurique e Copenhagen.
Reviravoltas
Então, numa das muitas reviravoltas políticas que todos os países experimentam, o jornal soviético Pravda atacou a obra violentamente, num artigo intitulado “Caos em vez de música”.
O governo soviético aparentemente usara Shostakovich para dar uma basta à presença do modernismo na música soviética. Shostakovich sofreu em silêncio, aceitou publicamente a crítica… e abandonou a criação operística.
Quase vinte anos depois, em 1953, Stalin faleceu, e uma gradual abertura política começou a surgir. Então, em 1958 se arriscaria mais uma vez – a última – no campo da ópera. Para ser mais exato, escreveu uma opereta: “Moscou Cheryomushki”.
Moscou Cheryomushki
Totalmente oposta à dramática “Lady Macbeth do Distrito de Mitsenk”, “Moscou Cheryomushki” foi a versão soviética de um bom musical da Broadway. Fez imenso sucesso em Moscou no final dos anos 50, abordando um tema muitíssimo próximo da maioria dos moscovitas: a vida nos minúsculos apartamentos dos conjuntos habitacionais que proliferavam no bairro de Cheryomushki, fruto da necessidade urgente de construir habitações populares.
A opereta conta a história de um chefe do Partido Comunista corrupto que, junto com sua esposa, veem-se frustrados por terem recebido um mero apartamento de dois quartos, e junto com o zelador decidem derrubar uma parede e se apropriar de um quarto do apartamento vizinho. Isso faz com que a adorável jovem Lidoschka, uma guia de museu, se torne uma sem-teto. Outros inquilinos vêm em sua ajuda e restauram a paz no paraíso pós-Stalinista…
Nessa obra Shostakovich não teve o menor pudor em fazer um divertidíssimo pastiche, misturando canções populares, marchas militares e até trechos de seus balés e música de cinema.
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Saudações Musicais!