
Começo contando a vocês alguns fatos do meu tempo de estudante. Corria o ano de 1981, quando eu tinha 20 anos de idade. Era janeiro, e eu, junto com muitos amigos, fui para Teresópolis, onde aconteceria mais um dos formidáveis Festivais Internacionais de Música da Pro-Arte, um dos festivais mais antigos do país, ainda mais antigo que o de Campos do Jordão.
Eu havia feito inscrição para várias atividades: aulas de viola, participação na orquestra, aulas de música de câmara e também aulas de teoria musical. Essas aulas de teoria não eram, confesso, meu objetivo principal, mas passaram a ser, simplesmente porque o professor era muito, muito, bom. A convivência com ele durante três semanas foi muitíssimo proveitosa, e eu aprendi a admirar este que veio a se tornar um dos mais importantes compositores brasileiros da atualidade: Ronaldo Miranda.
Início

Ronaldo Miranda nasceu no Rio de Janeiro em 1948. Fez seus estudos musicais na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, graduando-se em piano e composição. Mas não iniciou de imediato uma carreira musical. Como havia se formado também em jornalismo, começou sua vida profissional como crítico musical do Jornal do Brasil. Só em 1977, quando ele conquistou um 1º prêmio no Concurso de Composição da 2ª Bienal de Música Contemporânea da Sala Cecília Meireles, é que passou a dedicar-se prioritariamente à composição.
A peça premiada chamava-se “Trajetória”, sobre texto de Orlando Codá, e foi escolhida para representar o Brasil na Tribuna Internacional de Compositores da Unesco, que teve lugar em Paris. Para lá foi Ronaldo Miranda no ano seguinte, 1978.
Sucesso

A partir daí, começou a acumular prêmios: em 1981 foi o Troféu Golfinho de Ouro, do Governo do estado do Rio de Janeiro. No ano seguinte, a Associação Paulista dos Críticos de Arte premiou suas Variações Sinfônicas como a melhor obra orquestral do ano.
Em 1983, seu trio de flautas Oriens III foi escolhido para participar do World Music Days na cidade de Aarhus, na Dinamarca. Seguiram-se várias participações em Festivais internacionais: Berlim em 1985, Hungria em 1986, Áustria e Espanha em 1992. Neste mesmo ano estreou no Teatro Municipal de São Paulo sua ópera “Dom Casmurro”, sobre o romance homônimo de Machado de Assis.
Entre 1985 e 1989 Ronaldo Miranda trabalhou no Instituto Nacional de Música da Funarte, e entre 1993 e 1995 voltou a colaborar como crítico de música do Jornal do Brasil. Em 1995 assumiu a direção de uma das mais importantes salas de concertos do Rio, a Sala Cecília Meireles.
A partir de 1997, Ronaldo passou a vir com frequência a São Paulo, a fim de fazer seu doutorado pela USP. Tornou-se professor de composição do departamento de música da Escola de Comunicações e Artes, radicando-se na capital paulista.
Suíte Festiva
Neste mesmo ano de 1997, a prefeitura do Rio de Janeiro decidiu organizar um grande concerto em comemoração à visita do Papa João Paulo II à cidade. Para isso encomendou 5 obras sinfônicas a cinco dos mais importantes compositores brasileiros: Edino Krieger, Ricardo Tacuchian, Almeida Prado, David Korenchendler e Ronaldo Miranda. Ronaldo escreveu então uma peça à qual deu o título de Suíte Festiva. Ela tem três movimentos: Entrada, que lembra a música barroca, Luzes e Sombras, que é construído a partir de um canto gregoriano, e Toccata, de caráter marcadamente rítmico.
Atividades Internacionais

Por essa época, prestes a completar 50 anos de idade, Ronaldo Miranda era um compositor maduro e consagrado. Suas obras passaram a ser apresentadas nas principais salas de concerto do Brasil e do exterior, como o Queen Elizabeth II, de Londres, a sala da Orquestra Tonhalle de Zurique, o Mozarteum de Salzburgo, O Carnegie Hall de Nova Iorque, e o Teatro Colon de B. Ayres. Então iniciou uma série de atividades internacionais.
No ano de 2000 fez parte da comissão brasileira na Semana de Música Brasileira realizada na Hochschule für Musik, em Karlfuhe, Alemanha. Em 2001 recebeu o Prêmio Carlos Gomes como o melhor compositor do ano. Em 2003 integrou o grupo de compositores que participou do projeto Amazônia Desvendada, promovido pela Fundação Apollon, de Bremen, Alemanha, que resultou na música para três poemas de Herman Hesse, executada em Berlim, Bayreuth, e em outras cidades na Áustria, França e Inglaterra. No mesmo ano Miranda foi convidado a residir no Brahms Haus Studio, na cidade alemã de Baden Baden, onde compôs a obra Festspielmusik, para dois pianos e percussão.
Em 2004 participou do 1º Congresso Mundial de Violão em Baltimore, onde foi executado seu concerto para 4 violões e Orquestra.
Seguiram-se outras encomendas brasileiras: a ópera “A Tempestade”, encomendada pela Banda Sinfônica do Estado de São Paulo; a Missa Brevis, comissionada pela Sala Cecília Meireles, em 2008, em comemoração aos 200 anos da vinda da Família Real Portuguesa; a obra sinfônica Plenilunio, encomendada pela Orquestra Sinfônica da Usp.
Sinfonia 2000
Outro fruto de uma encomenda: a Sinfonia 2000, encomendada pelo Ministério da Cultura, como parte dos festejos dos 500 anos da descoberta do Brasil. A obra é magnífica e é em minha opinião uma das mais inspiradas do compositor. Foi gravada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, sob a direção do Maestro Sílvio Barbato, num CD duplo, junto com obras de outros compositores, também encomendadas pelo Ministério da Cultura. São três os movimentos: Solene e Lírico, Lúdico, e Tema com Variações.
O leitor deve ter notado que eu cheguei a ter alguma dificuldade para mencionar todos os trabalhos, prêmios e conquistas deste compositor carioca que está no auge de sua carreira.
Espero que tenha gostado deste post!
Ah, e não vá embora sem antes deixar um comentário!
Saudações Musicais!
Parabens, Maestro, por mais esta apresentação de grande importância para a cultura brasileira. Embora a grande maioria do público não saiba disto, mostra que há gênios escondidos neste país.
Ótima sugestão para um novo curso on-line.