A Percussão na Orquestra

Percussão na orquestra: demorou…

O assunto deste artigo é a  presença dos instrumentos de percussão na orquestra sinfônica.

A primeira coisa a saber é que demorou bastante para que a percussão se integrasse definitivamente à orquestra.

Se fizermos uma rápida pesquisa, veremos que durante um bom tempo, as obras sinfônicas eram feitas usando-se apenas instrumentos de cordas e de sopro.

Muitas obras consagradas escritas para orquestra não usam nenhum instrumento de percussão. 

É o caso de qualquer sinfonia, concerto ou abertura de Mozart, Haydn, Beethoven, Schumann, e tantos outros.

Ludwig van Beethoven.
Sinfonia.
Orquestra.
Percussão.
Ludwig van Beethoven

Porque a percussão entrou tão tarde na orquestra?

Qual motivo teria levado os primeiros grandes sinfonistas como Mozart e Haydn a usarem a percussão com tanta parcimônia na música de orquestra?

Será que naquela época os instrumentos de percussão ainda não existiam?

Não, caros leitores. Os instrumentos de percussão são muito antigos, ainda mais antigos que os instrumentos de cordas e de sopro. 

Já na antiguidade os instrumentos de percussão eram usados amplamente na música de dança das cortes.

Percussão.
O uso do tambor na música da antiguidade. Detalhe do Quadro The Dance of Herodias’ Daughter, New York Public Gallery.

Música para dançar, música para ouvir

Contudo, com o passar dos séculos, foi  sendo criado um tipo de música não para ser dançada, mas para ser apenas ouvida, como a sonata ou a sinfonia.

Era música com harmonia e o contraponto cada vez mais sofisticados, de modo que os compositores decidiram usar cada vez menos a percussão. 

Afinal, a percussão contínua, marcando um ritmo constante, encobriria as nuanças do tecido musical.

Não é difícil entender que se colocarmos uma percussão contínua, como uma bateria, acompanhando o delicado tecido sonoro de uma sinfonia de Mozart, todas essas sutilezas desaparecerão, soterradas pelo som percussivo.

Exemplo destruidor…

É o que acontece numa célebre versão da Sinfonia 40 de Mozart, dirigida pelo maestro Waldo de los Rios, que fez um sucesso estrondoso nos anos 70.

Quando foi lançada, décadas atrás, esta gravação de Waldo de los Rios teve o mérito de atrair muitas pessoas para a música de Mozart. 

Por outro lado, ela destrói muitas idéias do autor, delas sobrando apenas a melodia mais aguda, desaparecendo todas as sutis figuras de acompanhamento.

Então, na escrita sinfônica do século XVIII, a percussão era usada com moderação justamente para não esconder essas sutilezas.

Assim, a parcimônia com que os instrumentos de percussão eram usados era fruto de opções estéticas.

Percussão e energia

Mas essa moeda tinha um outro lado, pois havia momentos em que as cordas e os sopros, sozinhos, não eram capazes de fornecer toda a energia sonora que o compositor desejava.

Então, aqui e ali, nos momentos especiais de grande energia, os compositores usavam a percussão, mas não para marcar um ritmo contínuo, como acontece na música popular de hoje.

A percussão era usada para reforçar os sons graves e fornecer mais peso à orquestra em determinadas passagens. 

Os tímpanos

Para esse objetivo, os melhores instrumentos eram, indiscutivelmente, os tímpanos.

Típico comjunto de tímpanos de uma orquestra moderna. (Wikimedia Commons)

Os tímpanos são tambores, mas não  tambores comuns. 

São tambores afináveis. Explicando melhor: muitos tambores comuns produzem sons indeterminados, ou seja, não podem tocar as notas musicais, do, re, mi, fa, etc. 

Mas os tímpanos podem!

Então, no estilo sinfônico que nasceu no século XVIII os compositores utilizavam percussão com notas definidas, ou seja, uma percussão melódica.

Ela servia para reforçar os instrumentos graves, como violoncelos e contrabaixos, nos momentos mais intensos.

Um pioneiro: Joseph Haydn

Na mão de compositores de 1ª grandeza, como Joseph Haydn, os tímpanos podiam ser usados também em efeitos especiais.

É o caso da Sinfonia nº 103, deste compositor,   que tem o apelido de “rufar dos tímpanos”. 

Aqui Haydn já começa a procurar novas maneiras de utilizar os tímpanos, reservando a eles momentos em que atua como solista.

Aliás, Haydn, que era um compositor de grande criatividade, foi um dos primeiros a ir além dos tímpanos, utilizando outros instrumentos de percussão no tecido orquestral. 

Percussão militar

Um bom exemplo está na sua sinfonia nº 100, em que ele usou triângulo, bombo e pratos.

O triângulo todos conhecem; é um instrumento pequeno, aparentemente sem grandes recursos.

Triângulo. Foto de Karolina Grabowska no Pexels

O bombo sinfônico, também conhecido como Gran Cassa, ou Grande Caixa,é aquele tambor enorme, de som gravísimo, que  muita gente, de brincadeira,  chama de “Treme-terra”.

Percussão. Orquestra. Bombo.
Gran Cassa ou Bombo Sinfônico. Wikimedia Commons.

E os pratos usados por Haydn eram os pratos de choque: o músico segura um deles em cada mão, batendo um no outro.

Percussão. Orquestra. Pratos.
Pratos de choque usados em orquestras. Wikimedia Commons.

Percussão e cor

Estes eram, na época, instrumentos de percussão típicos das bandas militares, mas Haydn achou um jeito de utilizá-los criativamente em uma orquestra.  

Eles  não foram usados como um suporte rítmico constante e repetitivo, mas para produzir timbres inusitados para a época; ou cores, como nós músicos costumamos dizer.

É interessante notar que Haydn os introduziu no movimento lento da Sinfonia!

Franz Liszt

Nesta busca por  novos timbres ou cores na orquestra através do uso dos instrumentos de percussão, um dos exemplos mais interessantes vem do compositor húngaro Franz Liszt. 

No 3º e 4º movimentos de seu 1º concerto para piano e orquestra, Liszt dá um grande destaque ao triângulo, elevando esse humilde instrumento quase à condição de solista na orquestra.

Assim, durante o desenrolar do século XIX,  os compositores cada vez mais exploraram os instrumentos de percussão, mas sempre com a idéia de acrescentar energia e cores ao som da orquestra.

Rimsky-Korsakov

Muitos exemplos magníficos  existem, e diante de tantas opções, achei que não poderia faltar o compositor que foi  um dos maiores orquestradores da época: Nikolai Rimsky-Korsakov.

Em seu  Capricho Espanhol,  não poderiam  faltar as castanholas, e outros instrumentos de percussão. 

Como sempre, deixo abaixo links do youtube para todas as obras que eu citei neste texto.

Clique divirta-se, ouvindo-as!

Saudações Musicais do maestro João Mauricio Galindo.

Mozart: Sinfonia No. 40 in G minor, K550, primeiro movimento, resumido. Waldo de los Rios.
Mozart: Sinfonia No. 40 in G minor, K550, primeiro movimento. The London Mozart Players
Joseph Haydn. Sinfonia no. 103, 10. movimento. Orquestra de Câmara da Europa. Claudio Abbado, regente.
https://www.youtube.com/watch?v=6RmwapsXnrg
Joseph Haydn. Sinfonia no. 100, “Militar”, 2o. movimento. Orquestra Filarmônica de Varsóvia.
Franz Liszt. Concerto para piano e orquestra no. 1. Sergio Tiempo, piano. Kazufumi Yamashita, regente. Century Orchestra Osaka
Rimsky-Korsakov. Capricho Espanhol. Orquestra Filarmônica de Berlim. Zubin Mehta, regência.
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7 comentários em “A Percussão na Orquestra”

  1. Realmente a energia da percussão para mim é envolvente. Como se encontrasse um ritmo desconhecido do nosso interior, será que é por conta que temos um coração que bate, pulsa o sangue?!
    Posso ter viajado, rs… Mas, que é bom é!
    Obrigada maestro!

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