Os Nacionalistas: O Grupo dos Cinco, 5a. parte.

Mily Balakirev

Música Russa Grupo dos Cinco a Turba Poderosa Bakakirev

Mily Balakirev foi um pianista fabuloso, dono de uma excelente leitura à primeira vista, imensa intuição e bom gosto.

Nasceu numa pequena cidade e teve as primeiras aulas de piano com sua mãe. Seu grande talento logo chamou a atenção dos amantes da música da região, que lhe providenciaram aulas com os melhores professores.

Foi praticamente adotado por um conde que mantinha uma pequena orquestra em sua propriedade. Balakirev freqüentava as suas reuniões musicais, onde conheceu as obras dos grandes compositores europeus da época.

Progrediu tanto que aos 15 anos já lhe era permitido ensaiar a orquestra do Conde; e foi aí que ele conheceu as sinfonias de Beethoven. Nessa idade ele compôs suas primeiras obras, entre elas uma Grande Fantasia para Piano e Orquestra sobre Temas Populares Russos.

Ainda jovem, portanto, o compositor já se interessava pela música folclórica de seu país, o que era um prenúncio do que iria acontecer em sua carreira.

Contudo um fato importante iria consolidar seu interesse pela criação de uma música genuinamente russa: o contato com o compositor Mikhail Glinka.

Glinka era cerca de 30 anos mais velho que Balakirev, e foi o pioneiro na utilização de matéria prima russa, quando compôs a ópera “Uma vida pelo Czar”. Suas danças e coros populares fizeram da obra um imenso sucesso.

Balakirev conheceu Glinka em 1855, em São Petersburgo. Tornaram-se próximos e travavam com freqüência sérias discussões sobre o futuro da música russa. Balakirev, a essa altura, já havia decidiu tornar-se o continuador da obra de Glinka.

Como vimos, Balakirev já vinha, desde os 15 anos de idade, introduzindo música popular russa em suas obras. Com Glinka ele descobriu novos recursos, como o Orientalismo.

A história do orientalismo começa com 2a ópera de Glinka, Ruslan e Ludmila. Nela o compositor introduziu vários trechos que remetiam aos países mais ao leste do império russo. Os compositores do Grupo dos Cinco iriam levar adiante essa idéia, de modo o orientalismo tornou-se a sua principal característica.

Orientalismo Bales Russes Diaghilev
Orientalismo nos Balés Russos de Sergei Diaghilev

Num primeiro momento, os compositores usaram melodias dessas regiões distantes. Mas logo eles foram além, e o orientalismo tornou-se veículo para uma simbologia muito interessante. Estabeleceu-se uma dicotomia entre a racionalidade ocidental e a irracionalidade e passionalidade oriental. Referências à vasta extensão do império russo, que se ampliava naquela época, somavam-se à idéia de uma real separação entre a estética musical germânica e a nova estética russa.

Uma das mais importantes obras de Balakirev é toda calcada no orientalismo. Chama-se Tamara.

Orientalismo Música Russa Balakirev Tamara

Ela retrata a história de uma linda jovem, que vivia sozinha em uma torre numa passagem de viajantes na fronteira entre a Rússia e a Geórgia. Ela seduzia e atraia os viajantes, e após passar a noite com eles, os matava e atirava no rio Terek.

Balakirev cria dois ambientes musicais distintos. Um de caráter dionisíaco, com ritmos obsessivos, notas repetidas, e andamentos acelerados. Outro, descreve o desejo sensual, com ritmos irregulares, melodias alongadas, e dissonâncias pouco usuais.

Orquestra Sinfônica de Montreal. Kent Nagano.

DICA DE LEITURA

Nas palavras do romancista Milton Hatoum, Orientalismo é “um ensaio erudito sobre um tema fascinante”: como uma civilização fabrica ficções para entender as diversas culturas a seu redor. Para entender e para dominar. Neste livro de 1978, um clássico dos estudos culturais, Edward W. Said mostra que o “Oriente” não é um nome geográfico entre outros, mas uma invenção cultural e política do “Ocidente” que reúne as várias civilizações a leste da Europa sob o mesmo signo do exotismo e da inferioridade. Recorrendo a fontes e textos diversos – descrições de viagens, tratados filológicos, poemas e peças, teses e gramáticas -, Said mostra os vínculos estreitos que uniram a construção dos impérios e a acumulação de um fantástico e problemático acervo de saberes e certezas européias. A investigação da origem e dos caminhos do Orientalismo como disciplina acadêmica, gosto literário e mentalidade dominadora, vai e volta do século XVIII aos dias de hoje, das traduções das Mil e uma noites à construção do canal de Suez, das viagens de Flaubert e “Lawrence da Arábia” às aventuras guerreiras de Napoleão no Egito ou dos Estados Unidos no golfo Pérsico. Um livro fascinante e indispensável.

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