Gian Francesco Malipiero

Se fizermos uma pesquisa de opinião, perguntando a qualquer apreciador de música clássica europeia quem é o compositor mais conhecido do gênero, há uma grande probabilidade de que Antonio Vivaldi seja o mais citado. Se não for, estará seguramente entre os mais conhecidos, ao lado, provavelmente, de Beethoven ou Chopin. Trechos de suas “Quatro Estações” são usados em filmes, novelas e até comerciais de televisão.

Por isso muita gente se surpreende ao saber que até a década de 40 do século passado Vivaldi era pouquíssimo conhecido. A redescoberta de Vivaldi foi feita graças ao esforço e interesse de alguns músicos europeus, dentre os quais se destacaram os italianos Alfredo Casella e Gian Francesco Malipiero.

Geração Pós-Puccini

Casella e Malipiero fazem parte de um grupo de compositores italianos conhecido como a “geração pós-Puccini”. É, em minha opinião, uma geração muitíssimo interessante, por diversos motivos.

Em primeiro lugar, ela rompe com a tradicionalíssima predominância da ópera na criação musical. A Itália foi o berço da ópera, gênero que se popularizou muito rapidamente, conquistou milhares e milhares de fanáticos apreciadores por toda a parte, de modo que músicos italianos eram disputados muitas vezes a peso de ouro em todos os centros musicais europeus.

Isso, contudo, gerou uma situação um tanto perversa. Compositores italianos interessados na música puramente instrumental acabavam deixando o país, como aconteceu com Luigi Boccherini, Muzio Clementi ou Giovanni Viotti.

Pois bem, os italianos da geração pós-Puccini dedicaram-se com vigor à produção de música não operística, e o fizeram com muito êxito. Essa geração também é interessante pelo fato de abrir-se para todas as novidades estéticas daquela época efervescente.

Casella e Malipiero estavam em Paris quando Stravinsky estreou a Sagração da Primavera, um verdadeiro marco da modernidade musical. Após ouvir a obra, Malipiero declara: “É como se eu tivesse despertado de uma longa e perigosa letargia.”

E uma terceira característica dessa geração é a busca da cultura musical italiana do passado.

Início

Claudio Monteverdi

Em 1902, quando estava com apenas 22 anos de idade, Malipiero, por livre inciativa, começou a estudar antigos manuscritos do genial compositor renascentista italiano Claudio Monteverdi. A partir daí, e por toda sua vida, dedicou-se a trazer a púbico esse repertório.

Em 1939 Casella organizou uma “Semana Vivaldi” que ficou para a história; até o poeta norte-americano Ezra Pound participou do evento.

Malipiero, por sua vez, trabalhando a partir de 1952 para o Instituto Antonio Vivaldi, dedicou-se com afinco na edição das partituras de muitas obras de Vivaldi. Esse trabalho contribuiu muitíssimo para a divulgação da sua obra.

Vivaldiana

Um dos frutos desse trabalho é a suíte orquestral intitulada “Vivaldiana”, uma colagem feita com 6 trechos de 6 diferentes concertos de Vivaldi, reorquestrados.

Gian Francesco Malipiero : Vivaldiana, for orchestra (1952)

Essa é uma alusão à importância do trabalho de Malipiero na divulgação da música barroca italiana.

Estilo

Mas para conhecermos o seu estilo original, eu sugiro ouvir suas sinfonias. O catálogo de Malipiero inclui 17 obras do gênero, das quais 11 são numeradas. Todas diferem muitíssimo do modelo de sinfonia legado pelos grandes compositores germânicos. Gustav Malhler, que faleceu em 1911, chegou ao limite, com sinfonias imensas, de mais de uma hora de duração. Pois bem, as Sinfonias de Malipiero são concisas, curtas. A mais longa delas não chega a 30 minutos, e a mais curta tem apenas 11 minutos. Isso ocorre principalmente porque Malipiero rejeitava ostensivamente o modelo alemão de desenvolvimento temático. São dele essas palavras:

“Realmente, eu rejeito o jogo fácil do desenvolvimento temático porque estou farto dele e ele me aborrece a ponto de morrer. Você encontra um tema, vira-o para o outro lado, o desmembra, o explode, e com isso não é difícil montar o 1º movimento de uma sinfonia ou sonata que será agradável para os amantes da música e ao mesmo tempo satisfará a falta de sensibilidade dos musicalmente instruídos”.

Assim, a música de Malipiero é uma sucessão de ideias musicais surpreendentes; ao rejeitar o desenvolvimento dos temas, o compositor tem que ser muito criativo; tem que ser capaz de ter muitas ideias musicais e organizá-las de modo a não cair na monotonia.

Concertante in Eco

Várias das sinfonias de Malipiero, têm títulos. É o caso da Sinfonia no. 5, intitulada “Concertante in Eco”.

É a minha sugestão de escuta para o leitor. Basta clicar nas imagens abaixo.

Symphony No. 5, “concertante, in eco”: I. Allegro agitato ma moderatamente
Symphony No. 5, “concertante, in eco”: II. Lento
Symphony No. 5, “concertante, in eco”: III. Allegro vivace ma ritmato
Symphony No. 5, “concertante, in eco”: IV. Lento ma non troppo – Mosso (agitato) – Ritenuto…

Espero que tenha gostado deste post!

E aqui vai uma sugestão de leitura para que conheça mais sobre o povo italiano!

Clique na imagem acima, e você irá para o site da Amazon Brasil, onde poderá ter mais informações.

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Saudações Musicais!

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6 comentários em “Gian Francesco Malipiero”

  1. Às vezes os “caminhos fechados” aparentemente favorecem a abertura de inúmeras descobertas.
    Muito interessante, Maestro! Adorei conhecer Malipiero.

  2. Maestro, obrigado por tantos ensinamentos que avisaram ainda mais meu apreço, na apenas por Vivaldi, mas pela música erudita de alta qualidade.

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