Darius Milhaud

Durante a 1ª Guerra Mundial, esteve no Brasil o diplomata francês Paul Claudel. Com o pomposo título de Ministro Plenipotenciário, Claudel tinha como principal atribuição supervisionar o envio de suprimentos do Brasil para a França. Esse diplomata, então com 49 anos de idade, acumulava uma extensa e notável atividade diplomática em diversos países, como Estados Unidos, China e Alemanha. E depois de sua passagem pelo nosso país, esteve ainda na Dinamarca, Japão e Bélgica.

Além de ter sido um importantíssimo diplomata na primeira metade do século XX, Claudel foi um notável poeta e dramaturgo. Tinha um estilo único, rejeitando a rima e escrevendo sempre em longos versos livres, influenciado pelos salmos da versão em latim da Bíblia. Era um homem profundamente religioso, que rejeitava o materialismo em favor de um profundo significado espiritual da vida humana. Foi muito influenciado pelos poetas simbolistas, como Paul Verlaine ou Arthur Rimbaud. Uma figura controversa, considerado conservador, foi criticado em muitos círculos intelectuais de seu tempo, mas mesmo muitos dos que não partilhavam suas ideias políticas e religiosas admitiam sua genialidade como artista.

Pois bem, esse homem, quando esteve no Brasil foi responsável pela vinda, para cá, de um outro artista brilhante, cuja obra ainda está para ser devidamente divulgada em nosso país: o compositor Darius Milhaud.

Vinda ao Brasil

Copacabana no início do século XX, por Augusto Malta.

Quando eu digo que sua obra deve ser melhor divulgada, não estou me referindo apenas à qualidade de sua música. Acontece que enquanto esteve no Rio de Janeiro, Milhaud nutriu profunda admiração pela nossa música, que se manteve por toda sua vida.

Neste parágrafo, do livro História da Música no Brasil, o autor Vasco Mariz fala do encontro entre Milhaud e Villa-Lobos.

“… por volta de 1917, o Dr. Leão Velloso apresentou a Villa-Lobos um jovem francês, Darius Milhaud, então secretário de Paul Claudel, na Legação da França no Rio de Janeiro. Villa-Lobos, que escolhia muito a quem exibir os seus melhores trabalhos, acolheu-o friamente, desconfiando daquele moço que não perdia vaza para achincalhar os colegas. Mas não tardaram a ficar bons amigos, e Villa mostrou-lhe os tesouros da música brasileira, e carioca em especial. Levou-o a macumbas, introduziu-o no meio dos chorões, fê-lo apreciar a música carnavalesca. A conhecida suíte “Saudades do Brasil”, de autoria do famoso compositor francês é uma reminiscência dos meses que passou no Rio de Janeiro, em camaradagem com Villa-Lobos.”

“Saudades do Brasil”

Uma das principais onras de Milhaud, Saudades do Brasil é uma suíte bastante longa, formada por nada menos que 14 movimentos. Cada um deles tem como título locais que Milhaud conheceu, como Copacabana, Paissandu, ou Sorocaba.

Copacabana · Eudóxia de Barros
Sorocaba · Eudóxia de Barros

“O Boi sobre o Telhado”

Milhaud voltou para a Europa em 1918, após o final da 1ª Guerra. E já em 1919 escreveu outra obra com citação de elementos musicais brasileiros. Trata-se de uma substancial fantasia sinfônica feita para o cinema chamada “O Boi sobre o Telhado”. Lembremos que em 1919 não havia ainda o cinema falado, e o Boi sobre o Telhado foi uma daquelas obras pioneiras, tocadas durante a apresentação de um filme mudo.

Le Boeuf sur le toit (The ox on the roof) , Op. 58

Legado

Milhaud viveu até 1974. Deixou uma obra muito grande, com mais de 400 peças. São 15 óperas, 12 sinfonias, música incidental para 40 peças, 26 partituras para cinema, 11 para rádio, 39 peças corais, concertos e música de câmara. Porém sua reputação de grande compositor se deve principalmente a uma série de peças muito imaginativas escritas justamente neste período que vimos, ou seja, logo após a 1ª grande Guerra.

“Scaramouche”

Inquieto, após este período Milhaud ligou-se a outro importante intelectual francês, Jean-Cocteau, e ao grupo de compositores que o tinha como mentor: O Grupo dos Seis. Viveu dos Estados Unidos e deixou-se influenciar pelo Jazz.

Outra obra onde surgem temas tipicamente brasileiros é a suíte Scaramouche, em três movimentos: Vif, Moderé e Brazileira.

Existem três versões da obra: para 2 pianos, para clarineta e orquestra ou saxofone alto e orquestra.

Abaixo o leitor pode ouvir seu terceiro movimento, a deliciosa “Brazileira”, com o saxofonista Jeremy Brown, acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Calgary, dirigida por Hans Graf.

Milhaud III. Braziliera

Espero que tenha gostado deste post!

E aqui vai uma sugestão de leitura para que conheça mais sobre o povo francês!

Clique na imagem acima, e você irá para o site da Amazon Brasil, onde poderá ter mais informações.

Ah, e não vá embora sem antes deixar um comentário!

Saudações Musicais!

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5 comentários em “Darius Milhaud”

  1. Maestro,
    Ótimo como sempre. Uma aula bem dada que me fez conhecer mais um grande músico.
    Isto me faz pensar como o universo da música é amplo e para para os apenas apreciadores da boa música, como eu, precisamos de aulas como esta para descobrir estes “tesouros” muitas vezes escondidos ou esquecidos.
    Obrigado.

  2. Pingback: Edino Krieger

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