Clara Wieck Schumann

Se você digitar no Google a expressão “List of female composers” – Lista de mulheres compositoras, em português, verá surgir diante de seus olhos uma lista com centenas – isso mesmo, centenas de nomes.

A mais antiga, Safo, nascida no ano de 612 ac, até Barbara Ardanuy, nascida em 1988. É mesmo uma relação impressionante, que reforça a questão: por que não se ouve falar delas?

Bem, para mim a resposta é muito simples: vivemos um mundo machista e patriarcal, em que o lugar das mulheres sempre foi no lar, longe da maioria das disputas profissionais. Apenas pouco a pouco elas foram conquistando seu devido espaço.

Nem seria demais lembrar que até cento e poucos anos atrás, nos países mais modernos, a mulher não tinha direito a voto.

Portanto, essas mulheres compositoras que figuram na lista se dedicaram à música, mas sem entrar nas disputas de “mercado”, para falar na linguagem atual. Isso só começou a acontecer mesmo no início do século XX.

Assim, para termos uma ideia bem real de como essas mulheres compositoras viveram e trabalharam, eu pensei em pesquisar a vida de uma delas; a mais conhecida de todas, ou talvez a menos desconhecida: Clara Wieck Schumann, esposa do compositor Robert Schumann.

Início

Já há o que contar antes dela nascer: seu pai já havia decidido que seu filho seria levado a estudar música a fundo, torná-lo um artista de excelência, e conduzi-lo à vida musical profissional. Será que Wieck cogitou que seu filho pudesse nascer uma… filha? Não sabemos, mas o que sabemos é que ele se manteve determinado em seguir seus planos.

Aos cinco começou a dar-lhe aulas de piano. Depois de muitas apresentações privadas, a pequena Clara fez sua primeira aparição pública na sala Gewandhaus de Leipzig.

Era o dia 20 de outubro de 1828. A pequena Clara tinha apenas 9 anos de idade.

Logo ela começaria a estudar violino, canto, instrumentação, leitura de partitura orquestral, contraponto e composição.

Com 15 anos de idade já era aclamada por toda a Europa como um fenômeno; uma criança prodígio! Entre seus fãs estavam ninguém menos que Mendelssohn, Chopin e Paganini… Já fazia 5 anos que compusera suas primeiras obras.

Abaixo, a 1ª peça de 4 Peças características para piano, opus 5, escritas quando ela tinha ainda quinze anos de idade.

Cada uma tem um título: a 1ª é Improviso: O Sabah; a 2ª, Capricho em Bolero; a 3ª é um Romance, e a 4ª uma “cena Fantástica: o Balé dos Fantasmas”.

4 Pièces caractéristiques, Op. 5: No. 1, Impromptu (Le Sabbat)

Embora não se trate de uma obra prima, a obra é deliciosa de se ouvir, divertida, e mostra que a menina tinha mesmo muita imaginação.

Sucesso

Nos anos seguintes, só sucesso! Concertos por toda a Europa, mais elogios de celebridades, como Franz Liszt, que a considerava uma artista completa, apesar da pouca idade.

Aos 17 anos recebeu uma condecoração da Corte Imperial Austríaca, raramente outorgada a um estrangeiro. Tudo ia, portanto, muito bem, até que ela se apaixonou pelo compositor Robert Schumann.

Casamento

Schumann agiu corretamente: pediu a mão da jovem a seu pai; mas isso resultou numa imensa briga, num conflito que durou 3 anos e obrigou os jovens apaixonados a entrar com uma ação na justiça, contra o pai de Clara, para poderem se casar.

Wieck fez de tudo, chegando a agir irracionalmente, mas de nada adiantou. Clara e Robert Schumann se casaram em 1840. Clara tinha 21 anos, Robert 30.

Aí aconteceu o inevitável: a carreira de Clara sofre um enorme baque. Tinha uma casa para cuidar; a casa só tinha um piano, e a prioridade era do marido, que ficava horas e horas trabalhando sobre ele. Logo vieram filhos: 8 ao todo, 1 após o outro.

Carreira

Mesmo assim Clara, heroicamente, deu um jeito de continuar tocando. Fez apresentações em Copenhagen e na Rússia. Lecionava no Conservatório de Leipzig, e também dava aulas particulares em casa.

Compor ficou em último lugar. Ela não chegou a abandonar a atividade, mas a produção foi pequena. Por outro lado, o nível subiu. A maturidade mais o convívio com as ideias sérias do marido sobre a música e sua importância, fez com que o estilo de Clara se depurasse.

Abaixo, você pode conferir o Trio para violino, violoncelo e piano opus 17, composto quando Clara estava com 28 anos de idade, entre o 4º e 5º filho. São 4 movimentos: Allegro Moderato, Sherzo: Tempo di Minuetto, Andante e Allegretto.

Clara Schumann: Piano Trio Op. 17 (1846)

Sensibilidade

Apesar do pouco tempo que sobrava, Clara ia compondo, quando era possível. Como excelente pianista que era, a maioria das obras que criou são para esse instrumento.

Para música de câmara há apenas uma outra obra, para violino e piano. Para orquestra, apenas duas obras.

Mas há um gênero que Clara cultivou com a mesma atenção que deu para sua obra pianística: a canção. O número de canções que deixou se aproxima ao número de peças para piano que produziu. Era um gênero em que sua sensibilidade pessoal estava muito à vontade.

Ich Stand In Dunklen Träumen, Op.13, No.1

Uma pequena amostra da imensa sensibilidade de Clara Wieck Schumann para criar canções.

Espero que tenha gostado deste post!

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7 comentários em “Clara Wieck Schumann”

  1. Gostei muito de seu relato. Uma bela história sobre uma grande mulher. Nao conhecia. Compositora, esposa e mãe. Tudo junto. Parabéns.

  2. Gosto muito das suas explicações, tão didáticas, sensíveis e bem humoradas. Notei que na primeira peça, de quando ela era tão jovem, ela construiu uns acordes bem diferentes, ou foi impressão minha?
    Obrigada maestro Galindo. Conhecia muito pouco sobre ela.

  3. Maestro Galindo. Suas explicações e abordagens enriquecem o intelecto e ensinam a voar nossa sensibilidade. Que bom que o senhor existe em meio a aridez desse tempo!

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