Os Nacionalistas: O Grupo dos Cinco, 2a. parte.

Nesta postagem, falo de Modeste Mussorgsky (1839-1881).

Música Russa Grupo dos Cinco Mussorgsky

Mussorgsky foi, como outros dois compositores do Grupo dos Cinco, Cesar Cui e Rimsky-Korsakov, um militar de carrreira.

Mas teve uma vida diferente: nasceu em uma família rica e aristocrática. Estudou piano desde cedo, e ainda na juventude interessou-se profundamente por história e por filosofia alemã.

Tornou-se um jovem adulto culto e refinado.

Aos 17 anos formou-se em na Academia de Cadetes de São Petersburgo, sendo designado para um regimento de elite da Guarda Imperial Russa.

Foi nessa época que ele conheceu outros compositores do Grupo dos Cinco: Alexander Borodin, Cesar Cui e Mily Balakirev.

Balakirev, que era o líder do grupo, impressionou-se fortemente pelo talento muiscal de Mussorgsky, e simplesmente o adotou como seu pupilo.

Música Russa Grupo dos Cinco Balakirev

Balakirev não era exatamente um professor de composição, como os que existiam nos conservatórios alemães, franceses ou italianos.

Era, como Mussorgsky, um pianista extremamente talentoso e muito bem treinado. Mas tinha mais experiência, e ensinou ao jovem tudo os que sabia sobre as principais obras de Beethoven, Schumann, Schubert, e sobretudo sobre Glinka, que havia sido o pioneiro dos nacionalistas russos.

Pois bem, a fortíssima personalidade de Balakirev produziu o efeito esperado: pouco tempo após começar as aulas, Mussorgsky tomou a decisão de deixar a carreira militar e devotar-se inteiramemte à música.

Embora estive sob a tutela artística de Balakirev, um nacionalista ferrenho, a música de Mussorgsky, nessa época, ainda se voltava para modelos estrangeiros. Um exemplo é a sonata para piano a quatro mãos, escrita por ele em 1860, quando estava com 21 anos. Não tem realmente nada de tipicamente russo, mas isso não quer dizer que não mereça ser ouvida. Pelo contrário, é uma obra deliciosa!

Mussorgsky: Sonata para Piano a 4 maõs; 10. movimento, Allegro. Maurizio Baglini · Roberto Prosseda

Pouco tempo depois de compôr esta sonata que acabamos de ouvir, sua família rica e aristocrática viu-se subitamente empobrecida. Mussorgsky, que havia deixado a carreira militar para dedicar-se à música, passou a se sustentar com um emprego no serviço público. Contudo, naquela época, mesmo o serviço público na Rússia não era estável, e Mussorgsky ficava longos períodos sem salário. Para piorar, o hábito de beber bebidas alcólicas pesadamente, que havia adquirido no seu tempo de escola militar acabou resultando em verdadeiro alcolismo.

Na música, mais frustrações. Começou a escrever uma ópera baseada em texto de Gustav Flaubert, mas abandonou o projeto no meio. Dedicou-se a um poema sinfônico que hoje é uma de suas obras mais conhecidas – Uma noite no Monte Calvo – mas como ela foi severamente criticada por seu mestre, Balakirev.

Mussorgsky nunca cheogu a ouvi-la.

Ele só viria a conhecer um real sucesso cerca de 10 anos depois, em 1874, na estréia de Boris Godunov, a única ópera que concluiu. Foram 5 anos de trabalho, entre 1868 e 1783, diversos percalços e rejeições, até o estrondoso sucesso da estréia, no Teatro Mariinsky, em São Petersburgo.

A platéia não parava de aplaudir, e o compositor teve que ir à cena nada menos que 20 vezes!

Nos dias seguintes, ouviam-se trechos da ópera cantados nas ruas da cidade.

Até a próxima postagem!

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Os Nacionalistas: O Grupo dos Cinco, 1a. Parte

“Grupo dos Cinco” foi como ficou conhecido um grupo de jovens compositores que trabalharam compartilhando uma mesma idéia; ou talvez seja mais apropriado dizer, uma mesma paixão: a criação de uma genuína música de concerto russa.

Como vimos nas postagens anteriores, durante o século XIX, os compositores dos países do norte da Europa sofriam uma fortíssima influência dos compositores germânicos, como Bach, Mozart, Beethoven, Mendelssohn, Schumann, e Wagner.

Não era pra menos: a obra desses mestres era e é um verdadeiro portento. Não era nada fácil para um músico europeu daquela época escapar desta influência. Contudo era justamente o que queriam os jovens compositores Mily Balakirev, Cesar Cui, Alexander Borodin, Modeste Mussorgsky e Nikolay Rimsky-Korsakov.

O movimento criado por eles começou em 1862, quando todos eram ainda muito jovens: Korsakov, o mais jovem de todos tinha apenas 18 anos, e Borodin, o mais velho, 28.

Mas apesar de mais velho, não era ele o líder. Sim, porque o grupo tinha um líder, que os outros quatro ouviam e obedeciam com grande reverência. Esse líder é, paradoxalmente, o menos conhecido dos cinco atualmente. Seu nome é Mily Balakirev.

Música Russa Grupo dos Cinco Balakirev
Mily Balakirev

De todos, Rimsky-Korsakov é sem dúvida o mais conhecido e mais tocado nos dias de hoje, graças principalmente à sua inspirada suíte sinfônica Sheherazade.

Música Russa Grupo dos Cinco Korsakov
Rimsky-Korsakov

Em segundo lugar vem Mussorgsky, muito lembrado pela obra-prima Quadros de Uma Exposição

Música Russa Grupo dos Cinco Mussorgsky
Modest Mussorgsky

Alexander Borodin é o terceiro da lista em termos de reconhecimento, e sua obra mais tocada é a 2a Sinfonia.

Música Russa Grupo dos Cinco Borodin
Alexander Borodin

Finalmente Cesar Cui e Mily Barakirev são realmente muito menos lembrados atualmente.

Música Russa Grupo dos Cinco Cesar Cui
Cesar Cui

Esses cinco músicos começaram a compor “na raça”, se me permitem a expressão. Isso quer dizer que nenhum deles havia até então estudado composição formalmente, como se fazia nos conservatórios da Itália, Alemanha e França. Não tinham sido treinados em contraponto e harmonia. Podiam ser considerados amadores, auto-didatas em composição.

Evidentemente apoiavam seu trabalhos sobre alicerces germânicos – admiravam Beethoven e Schumann. Mas, de modo bastante arrogante, desprezavam Haydn e Mozart, que consideravam ingênuos e ultrapassados;

De J S Bach, diziam estar já petrificado; não respeitavam Mendelssohn, nem Chopin.

Ou seja, eles não eram nada fáceis, caro leitor!.

Pois bem, o que nós faremos a partir de hoje, é dedicar uma postagem a cada um deles.

Aguarde!

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E até a próxima postagem!

Os Nacionalistas: Smetana

Na geracão que se seguiu à de Chopin e de Glinka, foi a vez da região que hoje faz parte da República Checa entrar para o movimento nacionalista europeu. Isso se deu graças ao compositor Bedřich Smetana, que viveu entre 1824 e 1884.

Música Nacionalista Tcheca Boemia Smetana

Veja só, cara leitora, caro leitor, como certos fatos daquela época na Europa podem parecer surpreendentes para nós brasileiros.

Pois bem: Smetana nasceu numa cidade no interior da atual da República Checa, entre as regiões da Boêmia e a Morávia. Naquela época a tal cidade fazia parte do império Austro-Húngaro; o alemão era a língua oficial do país, de modo que o pai do jovem Bdrich alfabetizou seu filho nesta língua!

Em 1863, com quase 40 anos de idade, Bdrich decidiu engajar-se no movimento nacionalista tcheco, compondo uma ópera dentro do espírito nacional. E para isso – vejam vocês – foi estudar a língua da sua própria terra, que ele não sabia falar nem escrever corretamente.

Muito bem: desse esforço surgiu em 1863 a ópera “Os Brandenburgueses na Boêmia”. A trama é baseada em eventos da história tcheca, e o libreto é em tcheco.

Contudo, Smetana ainda não usou elementos da música folclórica de seu país. Isso só viria acontecer 3 anos mais tarde, quando ele concluiu sua segunda ópera, A Noiva Vendida. Esta sim, tornou-se um marco, tanto da cultura tcheca, quanto do repertório operístico internacional, sendo executada com freqüência até hoje.

Ouça um trecho desta ópera que é conhecidíssimo: a Dança dos Comediantes!

Philharmonia Orchestra. Maestro Jac van Steen. Garsington Opera.

Em outro post falaremos de outro grande compositor checo que sucedeu Smetana: Antonin Dvorak.

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Saudações Musicais!

Os Nacionalistas: Glinka

Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.

Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.

Música Nacionalista Rússia Glinka

Glinka estudou na Itália e na Alemanha, e foi o 1º compositor russo a compor uma ópera com elementos da música folclórica de seu país. O personagem principal era um camponês russo!

É a ópera “Uma Vida pelo Czar”

Ele também é muito conhecido por uma pequena peça sinfônica chamada Kamarinskaya, que se tornou um marco na música nacionalista russa.

Nessa peça Glinka não apenas usa a matéria prima de seu país, mas também renega o princípio do desenvolvimento temático desenvolvido pelos compositores germânicos. Ele repete os temas de diversos modos, trabalhando com diferentes timbres e texturas sonoras, e é muito fácil observarmos essa ênfase nas repetições.

Mas talvez a obra mais conhecida de Glinka seja a Abertura da Ópera Russlan e Ludmilla, uma peça deliciosa!

Você pode ouvi-la aqui:

Orquestra Sinfônica da Rádio de Frankurt. Maestro Andrés Orozco-Estrada.

Glinka foi o pioneiro que abriu caminho para o formidável “Grupo dos Cinco”, formado por Balakirev, Korsakov, Borodin, Mussorgsky e Cui.

Falaremos dele em breve!

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Saudações Musicais!

Os Nacionalistas: Chopin

Olá amigos!

Durante muito tempo, alguns poucos países centralizaram o desenvolvimento da arte musical européia: Itália; França e Bélgica; Austria e Alemanha.

Outros centros musicais acabavam por importar o que era feito por estes.

Comecemos voltando bastante no tempo, mais precisamente ao final do século XVI e começo do século XVII, quando a ópera surgiu na Itália.

A ópera logo tornou-se um imenso sucesso em toda a Europa. As mais importantes cidades européias, de Lisboa a São Petersburgo contratavam cantores, instrumentistas e compositores.

Pode-se dizer sem medo de errar, que a Itália exerceu uma verdadeira hegemonia musical em todo o velho continente durante muito tempo.

Essa hegemonia só encontrou competição à altura com o surgimento de Haydn, Mozart e Beethoven, que estabeleceram modelos magistrais de música instrumental pura, de câmara ou sinfônica.

Novamente, muitos países europeus procuraram imitar a música desses três gênios, criando para ela um título solene: Escola de Viena.

Um pouco antes, durante o barroco, a França também exerceu forte influência, principalmente em compositores alemães, como Bach, Telemann e Haendel.

Foi assim até o 2o. quarto do século XIX, quando outros países passaram pouco a pouco a produzir música em estilo próprio – enriquecendo ainda mais o repertório clássico.

Começava a surgir o movimento nacionalista europeu, e um dos primeiros a contribuir para ele foi o polonês Frederic Chopin.

Chopin deixou seu país muito jovem para poder desenvolver seu imenso talento num grande centro musical. Radicou-se na França, e sempre sofreu a nostalgia de sua terra, que nunca mais veria.

Isso se refletiu em muitas de suas obras, principalmente as mazurcas.

No vídeo a seguir, temos uma interessantíssima comparação entre exemplos de mazurcas bem populares, rústicas até, que inspiraram as sofisticadíssimas mazurcas artísticas de Chopin!

Veja só caro ouvinte, Chopin nasceu em 1810. Durante sua infância e adolescência o que havia de mais moderno e vanguardista no repertório pianístico eram as obras de Beethoven e Clementi. Espanta como bem pouco tempo após a morte desses dois compositores, Chopin já estava criando peças para piano muitíssimo diferentes. E o sabor polonês já estava lá.

Por isso Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.

Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.

Mas isso será assunto da próxima postagem!

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Terei enorme prazer em responder! Saudações do maestro João Mauricio Galindo!

CONCERTO GROSSO

Muita gente estranha este nome, afinal, a palavra grosso em português tem uma certa conotação negativa. Alguém grosso é alguém sem educação….mas em italiano, esse sentido não existe. Em italiano a palavra grosso quer dizer simplesmente “grande”. Portanto concerto grosso é um concerto grande.

Elucidado o nome, a estranheza continua. Já fui procurado por pessoas que me perguntaram: maestro, fui a um espetáculo musical onde tocaram um concerto grosso. De grande ele não tinha nada havia: só 12 pessoas no palco e a música não durou mais que 15 minutos.

Pois é, para nos, acostumados com orquestras de 90, 100 musicos, e concertos que duram mais de 40 minutos, o nome grosso ou grande não parece adequado nesse caso.

Concerto Orquestra

Porém, tudo fica mais fácil de entender se tentarmos nos transportar para o século XVII, época em que o concerto grosso foi criado.

Em primeiro lugar, naquela época, um grupo de 12 , 15 musicos não era considerado pequeno. Não havia ainda espetáculos públicos de música instrumental, e na maioria das vezes esses concertos eram tocados em salas de palácios pertencentes a membros da nobreza. As orquestras sinfônicas ainda iriam surgir e se desenvolver .

Em segundo lugar, o nome concerto grosso está relacionado com a principal característica desse tipo de musica, que é a alternância entre dois grupos instrumentais, um maior e um menor. O compositor escrevia a música como se esses dois grupos estivessem dialogando.

Esse diálogo é muito mais fácil de ser percebido ao vivo que em uma gravação, mas mesmo assim, vamos a um exemplo, o Concerto Grosso opus 8 no. 4 de Arcangelo Corelli.

Early Music Ensemble Voices of Music.

Vários compositores escreveram musica dividindo o conjunto musical em dois grupos e os fazendo dialogar. É o caso dos italianos Giovanni Gabrieli e Alessandro Stradella. Mas o primeiro grande compositor associado ao gênero concerto grosso, e um dos primeiros a usar este título foi Corelli.

Ele nasceu em Ravena, em 1653 e faleceu em Roma em 1713. Viveu por algum tempo na Alemanha, e foi uma das mais importantes personalidades da musica européia em sua época. Foi grande violinista e professor. Como compositor dedicou-se quase que exclusivamente ao seu instrumento, o violino, e aos demais instrumentos de arco. Sua obra é pequena, mas tudo é de um finíssimo artesanato.

Corelli também foi um importante professor, e dentre seus alunos alguns se destacarm como grandes violinistas e compositores. É o caso de Pietro Locatelli, e Francesco Geminiani. Esses e outros compositores da época viram no Concerto Grosso de Corelli um fabuloso modelo a ser seguido. Por volta de 1700, quando houve na Europa uma explosão na impressão e venda de partituras, as obras de Corelli foram impressas e reimpressas numa quantidade que só seria suplantada pelas obras de Haydn, décadas mais tarde. Por exemplo, o opus 1 de Corelli, uma coleção de sonatas, teve 35 edições entre 1681 e 1785. Isso sem contar coletâneas, e arranjos variados.

Vamos ouvir um concerto grosso de um de seus seguidores, seu aluno Francesco Geminiani, compositor que nasceu em Lucca em 1687 e faleceu em Dublin, em 1762.

Concerto Köln. Evgeny Sviridov, violin e direção).

Como já vimos, uma das características do Concerto Grosso era a alternância entre dois grupos musicais distintitos, um pequeno e um maior.

O grupo pequeno era em geral formado por 3 músicos apenas: 2 violinistas e 1 violoncelista, apoiado por um cravo quando necessário. E o grupo maior era em geral uma seção de cordas, sem um número necessariamente definido, e que podia ser por exemplo de três 1ºs violinos, três 2ºs violinos,duas violas, um violoncelo, um contrabaixo e um cravo. Podia ser até maior, desde que essa proporção entre os naipes fosse mantida. Ao grupo pequeno dava-se o nome de concertino – eles eram os concertistas, os solistas da obra. E ao grupo maior dava-se o nome de ripieno, que pode ser traduzido por repleto, cheio.

Com disseminacão das partituras de Corelli pela Europa, não tardou para que outros compositores começassem a modificar a estrutura básica do Concerto Grosso. E se há alguém que fez isso com maestria foi Georg Friedrich Händel.

O opus 3 nº 4 de Händel é um concerto grosso. Foi esse o título que ele deu à obra. Mas já estamos distantes de Corelli. Primeiramente Händel não se restringiu somente aos instrumentos de cordas. Acrescentou ao concertino dois oboés. Só isso já nos apresenta uma cor completamente diferente. Além disso , Händel abre a obra com uma típica abertura em estilo francês, coisa que Corelli provavelmente nunca imaginou.

Mas a marca principal do concerto grosso está lá: a alternância entre o concertino e o ripeno, e a estruturação em movimentos contrastantes.


Orquestra “LORENZO DA PONTE” Direção de ROBERTO ZARPELLON

Corelli definiu o gênero; muitos outros compositores, como Geminiani, seguiram esse modelo, ou o imitaram, no melhor sentido da palavra. Com Handel, esse modelo definido por Corelli foi levado adiante, com a introdução de novidades. Neste caminho que levou ao desenvolvimento do Concerto Grosso, se falamos de Händel, não podemos deixar de falar em J. S. Bach

Bach foi ainda mais adiante. Ele não verdade não escreveu nenhuma obra com o título de concerto grosso. Mas muita gente está de acordo que os seus Concertos de Brandemburgo são de fato “concerti grossi” levados à mais alta elaboracão.

Essas 6 obras foram dedicadas a Christian Ludwig, Margrave de Brandemburgo, que corresponderia hoje ao governador da região de Brandemburgo. Por isso eles têm esse apelido.

Mas o título que o próprio Bach deu a eles foi “Concert avec plusiers instruments”, ou Concerto com Muitos Intrumentos. E essa é efetivamente uma característica marcante da coleção.

Cada um dos 6 concertos possui uma diferente combinação instrumental; alguns são verdadeiros concerti grossi, outros se afastam do padrão original.

É bastante difícil dizer qual é o mais belo, ou mais criativo. São 6 obras primas que coroam o gênero inaugurado por Corelli.

E nos causa ainda mais surpresa saber que não há uma grande distância de tempo entre eles. Corelli escreveu seus primeiros concerti grossi por volta de 1712 e Bach completou sua coleção dos concertos de Brandemburgo não mais que dez anos depois.

J. S. Bach, Concerto de Brandenburgo no. 3. Conjunto Voices of Music.

Com o final do barroco, o concerto grosso vai caindo em desuso. No classicismo, ninguém mais usava a expressão concerto grosso; o cravo vai sendo aos poucos deixado de lado, e o concerto para um único solista e orquestra toma seu lugar. Mas dentre as obras deixadas por Corelli e seus seguidores italianos, e pelos alemães Händel e Bach, há verdadeiras preciosidades que merecem ser conhecidas.

Sou grato pela atencão e até nossa proxima postagem!

CONCERTOS ESPIRITUAIS 2a. parte

Na postagem anterior, vimos o surgimento da série “Concert Spirituel” em Paris, e quais foram os primeiros compositores a ter suas obras executadas. Nos atemos a compositores do período barroco.

Agora vamos aos clássicos.

Começamos com Simon Le Duc, que viveu entre 1742 e 1777. Le Duc foi também violinista e diretor dos Concertos Espirituais por alguns anos.

Le Duc foi elogiado por Leopold Mozart, pai de Wolfgang Amadeus Mozart. Leopold deixou registrado que ele era um violinista muito bom.

Le Duc compôs três concertos para violino e orquestra, algumas sonatas para violino, música de câmara em geral e algumas sinfonias.

Sinfonia no. 1 de Simon Le Duc. Orchestra de Chambre de Versailles; maestro Bernard Wahl.

Esta sinfonia é um exemplo do típico estilo galante ou pré-clássico que havia surgido no início do século XVIII e pouco a pouco ganhava a preferência do púbico.

E se estamos falando de música clássica francesa, um nome não pode ficar de fora: François Gossec, que viveu entre 1734 e 1829.

Infelizmente Gossec é raríssimamete lembrado nos dias de hoje.

A única peça de sua autoria que é tocada, ainda assim muito de vez em quando, é uma pequenina gavota:

Gavota de Gossec executada pelo grande violinista Mischa Elman, acompanhdo ao piano por Joseph Seiger.

É uma pena que Gossec seja lembrado apenas por essa peça que, embora graciosa, não absolutamente nada de especial.

Vale a pena ouvir dele uma obra mais expessiva: a Sinfonia Concertante para violino, violoncello e orquestra em re maior.

Violino: Patrick Cohën-Akenine. Cello: François Poly Orchestra Les Agrémens. Maestro Guy van Waas

Esse tipo de obra, a sinfonia concertante, foi marca registrada dos Concertos Espirituais Parisienses.

A Sinfonia Concertante é, na verdade, uma espécie concerto.

Um concerto é uma obra em mais de um movimento, em que uma orquestra acompanha um solista.

A principal característica da Sinfonia Concertante é o fato de haver quase sempre mais de um solista.

Além disso, a sinfonia concertante parisiense é sempre leve; a música nunca traz grandes cargas de dramaticidade.

A sinfonia, por sua vez, não tem solistas.

Gossec escreveu belas sinfonias. A” Sinfonie à 17 parties” tem o mesmo nível artistico das melhores sinfonias de Joseph Haydn.

Orchestre Symphonique de Liège. Maestro Jacques Houtmann

CONCERTOS ESPIRITUAIS 1a. parte

O surgimento dos concertos púbicos é um tema que raramente passa pela mente dos apreciadores de música clássica.

Existe uma impressão de geral de que os concertos públicos sempre existiram …. evidentemente isso não é verdade.

Vamos então a uma viagem no tempo-espaço, para a época e local onde foi criada a primeira série duradoura de concertos por assinatura, como as que temos hoje: Paris, no início do século XVIII

Durante o século XVII, a França viveu um espetacular processo de centralização do poder, com a figura daquele homem que dizia ser, ele mesmo, a encarnação do estado: Luis XIV.

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L’etat, c’est moi – o estado sou eu!

Há quem diga que Luis XIV pronunciou essa frase em 1655, diante de todos os parlamentares franceses. E há quem diga que ele nunca o fez!

De qualquer modo, uma coisa é certa: alguns anos mais tarde, instalado no gigantesco palácio de Versalhes, fez dele o centro de poder de toda a França.

O Rei Sol cercou-se de uma gigantesca corte, que vigiava e controlava, usando de diversas artimanhas, entre elas, o teatro, a dança e a ópera!

Mas nada de concertos sinfônicos: eles ainda não existiam!

Enquanto isso, em Paris, que fica a quase 30 quilômetros de distância, coisas diferentes aconteciam.

Foi lá que um dia surgiu a idéia de usar os músicos da Orquestra da Ópera – que era bem grande para a época, com seus 48 integrantes – em apresentações puramente musicais.

Esta série de concertos parisiense tem até data certa de nascimento: 18 de março de 1725, 10 anos depois da morte de Luis XIV.

Eram os “Concertos Espirituais”.

A primeira pergunta que vem à mente é: por que esse nome?

Porque a série começou com o objetivo de promover trabalho para os músicos durante o período da quaresma, quando os grandes teatros da cidade ficavam fechados.

Nos primeiros concertos da série a idéia era fazer música sacra, justamente por causa da quaresma.

Um dos compositores que tinha suas obras executadas com frequência era Jean-Joseph de Mondonville.

Mondonville, além de um exímio violinista e compositor de obras para esse instrumento, escreveu óperas e Grandes Motetos, um gênero muito querido dos parisienses.

Jean-Joseph Cassanéa de Mondonville: “Gloria Patri” , parte do Grande Moteto Venite Exultemus.
Quire Cleveland and Les Délices. Maestro Scott Metcalfe.
Solistas: Sarah Coffman e Elena Mullins.

Outro grande compositor francês daquele tempo, cujas obras eram ouvidas nos “Concertos Espirituais” foi Marc-Antoine Charpentier.

Charpentier foi um compositor extremanente prolífico, tendo deixado uma enorme quantidade de obras em diversos gêneros: óperas, Pastorales, música incidental para teatro, balés, peças instrumentais, e música sacra.

Além da quantidade, chama a atenção a qualidade. É mesmo música de primeira.

Charpentier trabalhou com o maior dramaturgo françês de seu tempo, Jean-Baptiste Molière. Foi ele quem compôs a “trilha-sonora”, digamos assim, para uma de seus textos mais conhecidos: O Doente Imaginário.

São muitos os trabalhos para teatro feitos por Charpentier.

Marc-Antoine Charpentier – Intermèdes nouveaux du Mariage forcé (1672). Execução do conjunto “Les Arts Florissants, dirigido por William Christie.

Os Concertos Espirituais faziam sucesso e tornou-se uma série duradoura. Mas mudanças eram necessárias, e elas aconteceram em 1762.

Um novo diretor assumiu e teve uma idéia brilhante: introduzir na programação competições musicais!

Isso criou enorme entusiasmo no público.

Esse novo diretor chamava-se Antoine Dauvergne.

Ele também era compositor da corte de Versalhes, tendo composto óperas e balés. Mas era também exímio violinista e escreveu muita música instrumental. Desta produçao destaca-se um gênero que ele chamou de “Concert de Sinphonies” – que eram na verdade suítes, ou seja, sequências de peças instrumentais. Com essas peças chegamos finalmente à música puramente intrumental executada em concertos públicos!

Dauvergen: Concert de simphonies a IV parties, Op. 3 No. in F Major: VI. Allegro I & II · Cappella Coloniensis · William Christie

Na próxima postagem continuaremos a falar dos Concertos Espirituais parisienses, saindo do barroco e entrando no período clássico!

A sonata barroca

No século XVII, ainda não havia as salas de concerto como conhecemos hoje. Ouvia-se música na Igreja, ou então, em casa. E quem podia – ou seja, o aristocrata rico que morava em um palácio -tinha sua própria orquestra.

Cara leitora, caro leitor, a música doméstica era realmente um luxo, algo para poucos. Mas era efetivamente cultivada, de modo que a prática de manter um grupo de músicos em casa, contratados como parte da criadagem, disseminou-se rapidamente entre as famílias prósperas de diversos países.

Por exemplo, em 1601, o Duque da cidade de Mantua contratou, com o título de “maestro de la camera e de la chiesa”, um dos maiores músicos de todos os tempos: Claudio Monteverdi.

Vejam só: maestro da igreja, e do palácio. Foi nesses dois ambientes que se produziu a música mais sofisticada daquele tempo.

Existia, portanto a música feita para ser tocada nas igrejas, e a música para ser tocada nas casas, nos palácios.

Estamos falando do século XVII, e não custa relembrar que, até o comecinho deste século a música mais sofisticada era vocal; a música instrumental estava apenas começando a se desenvolver.

Naquele tempo as palavras toccata e sonata eram usadas genericamente para se referir a obras puramente instrumentais. Evidentemente, à medida que a música instrumental evoluia, foram surgindo gêneros mais específicos. Dois se destacaram: a sonata da chiesa e a sonata da camera.

Se a música puramente vocal da época se dividia em dois gêneros, a feita para a igreja e a feita para o ambiente doméstico, nada mais natural que o mesmo acontecesse com a música instrumental.

Muitos compositores escreveram sonatas dos dois tipos, de modo que 100 anos depois, no início do século XVIII, chegou-se ao ápice do gênero, com as sonatas de Arcangelo Corelli.

Música barroca Música do Período Barroco Corelli

Nós hoje consideramos o violino com um dos instrumentos musicais mais nobres, mas sofisticados. O líder de toda a orquestra, o spalla, é sempre um violinista; alguns violinos chegam ser tratados como verdadeiras obras de arte, com seus preços chegando a mais de um milhão de dólares.

É difícil portanto, imaginar um tempo em que o violino era um instrumento rústico, usado somente na música folclórica européia. Mas de fato era assim, e no seu admirável processo de amadurecimento, é fundamental a figura de Corelli. Ele foi o primeiro compositor cuja notoriedade foi construída a partir de música instrumental, em especial para o violino. Foi o grande primeiro mestre da sonata barroca, de câmara e de igreja.

A essa altura é preciso responder à pergunta que certamente está agora na cabeça de vários leitores: qual é, ao final das contas, a diferença entre a sonata de câmara e de igreja?

Bem, a idéia geral é simples: a sonata de igreja é mais séria, mais austera que a sonata de câmara.

Muito bem, mas como o compositor estabelece esta diferença?

Em primeiro lugar, usando ritmos de dança na sonata de câmara …. e não os usando na de igreja.

Tomemos então como exemplo a sonata opus 5 no. 9 de Corelli. Ela começa com um movimeto lento de caráter leve, delicado. Em seguida temos duas danças, uma giga, e uma gavotta Entre elas, um breve movimento lento, que dura menos de um minuto. É uma autêntica Sonata da Camera!

Grzegorz Lalek – violino barroco Lilianna Stawarz – cravo

Se a sonata de câmara têm um elemento característico – a presença das danças – é de se deduzir que algo análogo aconteça com a sonata de igreja. E o elemento característico desta é o contraponto, a polifonia

Um dos gêneros musicais mais antigos, que vem dos primeiros tempos da evolução da música instrumental é a dobradinha prelúdio-fuga. Ela está fortemente associada música religiosa tocada ao órgão.

Pois bem, na Sonata opus 5 no. 1 de Corelli há duas dobradinhas prelúdio-fuga. E essas dobradinhas estão separadas por um breve movimento rápido, de apenas um minuto, de caráter brilhante e virtuosístico, em que o violinista demosntra suas habilidades.

Intérpretes: Rémy Baudet, Jaap ter Linden & Pieter-Jan Belder .

Espero que você tenha apreciado essa postagem. Ficarei feliz se você deixar seu comentário!

Saudações Sonoras do maestro João Maurcio Galindo.

Sonata: o que é?

O que é uma Sonata?

A palavra sonata é mais uma daquelas que confunde muita gente; isso porque ela não se refere a um tipo específico de música.

Sonatas podem ser muito diferentes; uma sonata do início do século XVII é muito diferente de uma sonata do início do século XVIII, e as duas são diferentes de uma sonata feita no século XIX.

Neste artigo vamos nos ater à sonata clássica, aquela que se se desenvolveu e consolidou durante a segunda metade do século XVIII.

As sonatas clássicas bem conhecidas pelos amantes de música de concerto dos dias atuais são principalmente as de Wolfgang Amadeus Mozart e Franz Joseph Haydn.

Elas têm um modelo muito bem definido, que é o seguinte: três movimentos, sendo o 1º em andamento rápido, o 2º em andamento lento, e o 3º em andamento rápido.

Mas isso não é tudo!

O 1º movimento é o mais desenvolvido, é aquele em que o compositor mais usa suas habilidades intelectuais, trabalhando inteligentemente o desenvolvimento dos temas.

O 2º movimento é mais afetuoso, emocional.

O 3o. movimento é o mais divertido, quase sempre em ritmo de dança.

Assim, além de andamentos contrastantes, cada um tem uma personalidade própria.

Para compreender bem esse modelo, uma boa idéia é ouvir uma sonata curta, concisa, em que essas características sejam bem claras.

Sugiro assim a sonata para piano de Mozart, catalogada com o número KV 545, conhecida como “Sonata Semplice”.

Eu sugeri esta sonata por ser bem curta, concisa e objetiva.

Mas agora vamos avançar um pouco.

Há duas coisas para dizer:

1ª: a grande maioria das sonatas dessa época eram mais muito mais longas, bem mais desenvolvidas.

2ª: elas não tinham que ser necessariamente para piano.

Esse modelo podia ser aplicado a qualquer instrumento ou combinação instrumental.

Uma combinação consagrada era o piano mais um instrumento melódico qualquer, como o violino, o violoncelo, a flauta, etc.

Sugiro então a audição de uma sonata que tem essas duas características.

Ela dura cerca de 2o minutos – contra 10 minutos da Sonata Semplice de Mozart

Trata-se de uma sonata para Viola e Piano de Johann Nepomuk Hummel, que foi contemporâneo de Beethoven.

Embora seja pouco conhecido hoje em dia, Hummel é um típico representante do classicismo, muito admirado em seu tempo tanto como pianista como compositor.

Aqui temos os três movimentos em links separados.

Este é portanto o modelo, o padrão básico da sonata clássica; mas agora atenção: os padrões da música clássica não são, como muita gente pensa, assim tão rígidos.

Sobre eles são possíveis muitas variações, e é isso que vamos conferir ouvindo uma das sonatas para piano de Beethoven, conhecida pelo apelido de “A Caça”

É a sua sonata de número 18, escrita quando ele tinha 32 anos de idade.

É uma obra que introduz algumas modificações na estrutura da sonata clássica, mas sem perder sua essência.

Em primeiro lugar, temos quatro e não três movimentos.

O primeiro movimento é em andamento rápido.

O segundo movimento não é lento e afetuoso, como seria de se esperar. Também é rápido, mas tem um caráter bem diferente do movimento anterior.

É mais descontraído,contrastando com a seriedade do anterior.

Temos então mais um pequeno desvio da forma original da sonata. O terceiro movimento é um minueto – uma dança, portanto. Mas ele apresenta o caráter delicado e afetuoso que faltou no movimento anterior.

Mantendo o padrão tradicional, a sonata se encerra com um movimento rápido em ritmo de dança.Presto com fuoco: rápido e com fogo!

Espero que as informações tenham sido úteis.

E que a musica lhe tenha sido encantadora!