Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.
Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.
Glinka estudou na Itália e na Alemanha, e foi o 1º compositor russo a compor uma ópera com elementos da música folclórica de seu país. O personagem principal era um camponês russo!
É a ópera “Uma Vida pelo Czar”
Ele também é muito conhecido por uma pequena peça sinfônica chamada Kamarinskaya, que se tornou um marco na música nacionalista russa.
Nessa peça Glinka não apenas usa a matéria prima de seu país, mas também renega o princípio do desenvolvimento temático desenvolvido pelos compositores germânicos. Ele repete os temas de diversos modos, trabalhando com diferentes timbres e texturas sonoras, e é muito fácil observarmos essa ênfase nas repetições.
Mas talvez a obra mais conhecida de Glinka seja a Abertura da Ópera Russlan e Ludmilla, uma peça deliciosa!
Você pode ouvi-la aqui:
Glinka foi o pioneiro que abriu caminho para o formidável “Grupo dos Cinco”, formado por Balakirev, Korsakov, Borodin, Mussorgsky e Cui.
Falaremos dele em breve!
Deixe seu comentário! Diga qual assunto você gostaria de ver comentado aqui!
Durante muito tempo, alguns poucos países centralizaram o desenvolvimento da arte musical européia: Itália; França e Bélgica; Austria e Alemanha.
Outros centros musicais acabavam por importar o que era feito por estes.
Comecemos voltando bastante no tempo, mais precisamente ao final do século XVI e começo do século XVII, quando a ópera surgiu na Itália.
A ópera logo tornou-se um imenso sucesso em toda a Europa. As mais importantes cidades européias, de Lisboa a São Petersburgo contratavam cantores, instrumentistas e compositores.
Pode-se dizer sem medo de errar, que a Itália exerceu uma verdadeira hegemonia musical em todo o velho continente durante muito tempo.
Essa hegemonia só encontrou competição à altura com o surgimento de Haydn, Mozart e Beethoven, que estabeleceram modelos magistrais de música instrumental pura, de câmara ou sinfônica.
Novamente, muitos países europeus procuraram imitar a música desses três gênios, criando para ela um título solene: Escola de Viena.
Um pouco antes, durante o barroco, a França também exerceu forte influência, principalmente em compositores alemães, como Bach, Telemann e Haendel.
Foi assim até o 2o. quarto do século XIX, quando outros países passaram pouco a pouco a produzir música em estilo próprio – enriquecendo ainda mais o repertório clássico.
Começava a surgir o movimento nacionalista europeu, e um dos primeiros a contribuir para ele foi o polonês Frederic Chopin.
Chopin deixou seu país muito jovem para poder desenvolver seu imenso talento num grande centro musical. Radicou-se na França, e sempre sofreu a nostalgia de sua terra, que nunca mais veria.
Isso se refletiu em muitas de suas obras, principalmente as mazurcas.
No vídeo a seguir, temos uma interessantíssima comparação entre exemplos de mazurcas bem populares, rústicas até, que inspiraram as sofisticadíssimas mazurcas artísticas de Chopin!
Veja só caro ouvinte, Chopin nasceu em 1810. Durante sua infância e adolescência o que havia de mais moderno e vanguardista no repertório pianístico eram as obras de Beethoven e Clementi. Espanta como bem pouco tempo após a morte desses dois compositores, Chopin já estava criando peças para piano muitíssimo diferentes. E o sabor polonês já estava lá.
Por isso Chopin é considerado um dos 1ºs, se não o 1º compositor nacionalista europeu.
Ele talvez só perca em pioneirismo para o russo Mikhail Glinka, que nasceu seis anos antes, em 1804.
Mas isso será assunto da próxima postagem!
Deixe seu comentário ou sua pergunta!
Terei enorme prazer em responder! Saudações do maestro João Mauricio Galindo!
Na semana passada eu estava refletindo sobre a situação pela qual estamos passando – coisa que, aliás, inevitavelmente todos temos feito com frequência. Ao fazer isso pensei: preciso contribuir com alguma dose de otimismo. É o melhor que posso fazer neste momento. Assim, decidi começar uma série de postagens com dicas de peças otimistas; música alegre, envolvente! Música pra cima! Então, em questão de segundos, um compositor veio a minha mente: Mendelssohn!
Felix Mendelssohn-Bartholdy foi um prodígio musical que nasceu em 1809, em Hamburgo, na Alemanha, e faleceu em 1847, com apenas 38 anos de idade. Diferente de muitos de seus colegas compositores, nasceu numa família rica e culta. Essa condição, aliada ao seu imenso talento e dedicação, fez com que ele contribuísse muito para a vida musical européia e para a cultura ocidental. Basta um exemplo: foi ele que em 1829, ao realizar em Berlim a primeira audição da Paixão Segundo São Mateus, de J S Bach, provocou o renascimento da música deste compositor, que estava praticamente esquecida.
Mas voltemos a sua música. É certo que Mendelssohn tem muitas peças sérias, de notável dramaticidade e profundidade. Por outro lado, quando quis, escreveu música de brilho e fluência espetaculares, imensamente contagiante . Vamos então começar com um excelente exemplo: o 3o. Movimento do Concerto no. 1 para piano e orquestra. A obra foi composta em 1831, quando o compositor tinha apenas 20 anos de idade. Segundo suas próprias palavras, o escreveu em poucos dias e sem grandes cuidados. Talvez por tudo isso, tenha surgido uma obra tão brilhante e fluida!
Vejamos agora a um dos exemplos da precocidade musical do compositor: suas Sinfonias para Cordas. Entre os 12 e 14 anos de idade, Mendelssohn escreveu nada menos que 12 sinfonias para orquestra de cordas. Teoricamente são estudos, obras que elaborou para aprender e dominar a arte e a técnica da composição musical. Mas nem por isso são peças descartáveis, meros exercícios de um estudante. Aqui há música de primeira grandeza!
Das 12 sinfonias deste conjunto uma se destaca, pois o próprio Mendelssohn a orquestrou esmeradamente anos mais tarde. É a Sinfonia no. 8 .
Vejamos agora uma das músicas mais conhecidas do planeta, que é de autoria de Mendelssohn. Ela simplesmente não poderia ficar de fora desta postagem.
Sim, é dele a tão conhecida e tocada Marcha Nupcial que todos conhecemos.
Contudo, Mendelssohn certamente jamais teve a intenção de fazê-la executar em casamentos de verdade. Isso porque ela foi feita para um casamento que acontece dentro da peça teatral Sonho de Uma Noite de Verão, de William Shakespeare. Ela é, portanto, parte da trilha sonora deste espetáculo. Foi escrita em 1842, quando o compositor tinha 33 anos de idade. Eu acho importante ouvi-la integralmente, porque estamos habituados a ouvir apenas seu tema principal, que aparece no inicio, e nunca escutamos os belíssimos temas secundários que surgem adiante.
Agora deixemos o universo sinfônico para nos envolvermos pelo som do piano.
Depois da Marcha Nupcial, esta “Canção sem Palavras” Opus 62 no. 6, é a peça mais conhecida de Mendelssohn. Tem o título de “Canção da Primavera”. Eu também não poderia deixá-la de fora. Além de conhecida, ela evoca o renascimento que a Primavera traz todos os anos – justamente o que todos esperamos ansiosamente neste momento!
Mendelssohn nos deixou 8 cadernos de Canções sem Palavras, cada um deles com 6 peças.
Ao contrário da grandiosidade e brilho do tecido sonoro orquestral, nas “Canções em Palavrs” a sensação de bem estar nos é trazida pela delicadeza e pelo brilho cintilante do som do piano.
A cena que descrevo a seguir era muito comum no século XVIII: um aristocrata rico e poderoso recebe em seu palácio um certo número de convidados. Além dos vinhos, do champagne, excelente comida e agradáveis conversas, ele proporciona a seus amigos algumas horas de boa música. E se a ocasião for muito especial, música composta especialmente para ela.
Provavelmente, ninguém parava para prestar atenção; a música ficava ao fundo, exatamente como acontece hoje em qualquer festa ou reunião de amigos. A diferença é que hoje em dia usa-se um bom aparelho de som, e naquela época, como ainda não havia tomadas nas paredes, o jeito era fazer tudo ao vivo.
Todos conhecem uma obra de W. A. Mozart chamada “Pequena Serenata Noturna” Ela foi composta para uma dessas ocasiões.
Enquanto esta é muito conhecida, as outras serenatas e divertimentos que ele escreveu são pouco tocadas. É o caso da Serenata Noturna nº Köchel 239. Ela foi composta em 1775, quando Mozart tinha 19 anos, e ainda vivia em Salzburgo.
São três movimentos: Maestoso; Minueto; e Rondó: Allegro, Adagio, Allegro.
Para os contemporâneos de Mozart, peças como essa eram totalmente descartáveis. Contudo, nas décadas seguintes à morte do compositor, elas foram recuperadas e preservadas; hoje são tocadas em concertos freqüentados por amantes da música atentos e silenciosos, e estão gravadas em inúmeras versões.
A maioria delas não são obras de grande valor artístico; mas são música deliciosa de se ouvir!
É interessante pesquisarmos como era incluida a música nesses eventos sociais do século XVIII. Uma boa parte das serenatas de Mozart foi escrita para ser tocada em Salzburgo, ao ar livre , durante o verão. Em geral eram requisitadas para algum evento social de grande importância. Um exemplo era o fim do ano letivo universitário. Em geral acontecia assim: no início da noite os músicos se reuniam e tocavam marchando até a residência de verão do Arcebispo de Salzburgo. Ali tocavam sua serenata, voltavam até a praça da universidade e aí tocavam novamente a serenata, desta vez para os estudantes e os professores.
Algumas obras eram compostas para celebrar o dia onomástico de alguma personalidade – um tipo de celebração muito comum naquela época.
Mas o que é um dia onomástico?
Simples: eu me chamo João; então o dia de São João é o meu dia onomástico.
Mozart compôs um divertimento, catalogado como KV 247, para celebrar o dia onomástico de uma condessa, chamada Antonia Lodron, cuja residência era frequentemente usada para encontros musicais.
Os instrumentos de sopro ocupam um papel especial nesse repertório de músicas de ocasião.
A combinação desses instrumentos sempre se mostrou mais complicada que a das de cordas. Grupos de sopros formados por instrumentos diferentes, como trompa, fagote, clarineta, flauta e oboé, ofereciam uma boa variedade de timbres, mas muita dificuldade quando se desejava um som mais homogêneo. O contrário, um grupo formado por instrumentos iguais, como um quarteto só de trompas, podia oferecer muita homogeneidade, mas pouco contraste. Depois de muitas experiências, os compositores chegaram a uma combinação razoavelmente equilibrada: 2 fagotes, 2 trompas e 2 clarinetas. Num ponto esse grupo de sopros ganhava das cordas: oferecia uma sonoridade mais forte, mais adequada aos grandes jardins e outros espaços ao ar livre da aristocracia.
Em Viena, onde Mozart se instalou ainda jovem, os grupos de sopro deste tipo se limitavam a tocar em tavernas e nos quartéis, até que um membro da corte vienense, o príncipe Schwarzenberg se interessou por eles. Mozart ouviu dizer que o próprio imperador estava se influenciando pelo gosto de Schwarzenberg, e imediatamente compôs uma serenata para sexteto de sopros, catalogada hoje como nø KV 375.
Uma vez eu li uma biografia de W. Amadeus Mozart escrita pelo historiador Peter Gay. Uma frase do livro não saiu mais da minha cabeça. Ele diz: Mozart era incapaz de escrever música ruim; mesmo quando tinha de compor obras de ocasião, que ele sabia que seriam tocadas enquanto os ouvintes comiam, bebiam e conversavam.
Por isso em geral seus divertimentos e serenatas são no mínimo, como eu já disse, música deliciosa de se ouvir, cheia de lirismo e imaginação. E nos melhores casos atingem níveis altíssimos de requinte, inpiração e bom gosto.
É o caso do Divertimento para cordas em Fa maior, índice KV 138, em três movimentos: Allegro, Andante e Presto.
Esses divertimentos são verdadeiras jóias mozartianas – obras consideradas menores, mas que , em minha opinião além de agradabilíssimas são uma maravilhosa porta de entrada para quem ainda não conhece a música desse maravilhoso compositor.
Muita gente estranha este nome, afinal, a palavra grosso em português tem uma certa conotação negativa. Alguém grosso é alguém sem educação….mas em italiano, esse sentido não existe. Em italiano a palavra grosso quer dizer simplesmente “grande”. Portanto concerto grosso é um concerto grande.
Elucidado o nome, a estranheza continua. Já fui procurado por pessoas que me perguntaram: maestro, fui a um espetáculo musical onde tocaram um concerto grosso. De grande ele não tinha nada havia: só 12 pessoas no palco e a música não durou mais que 15 minutos.
Pois é, para nos, acostumados com orquestras de 90, 100 musicos, e concertos que duram mais de 40 minutos, o nome grosso ou grande não parece adequado nesse caso.
Porém, tudo fica mais fácil de entender se tentarmos nos transportar para o século XVII, época em que o concerto grosso foi criado.
Em primeiro lugar, naquela época, um grupo de 12 , 15 musicos não era considerado pequeno. Não havia ainda espetáculos públicos de música instrumental, e na maioria das vezes esses concertos eram tocados em salas de palácios pertencentes a membros da nobreza. As orquestras sinfônicas ainda iriam surgir e se desenvolver .
Em segundo lugar, o nome concerto grosso está relacionado com a principal característica desse tipo de musica, que é a alternância entre dois grupos instrumentais, um maior e um menor. O compositor escrevia a música como se esses dois grupos estivessem dialogando.
Esse diálogo é muito mais fácil de ser percebido ao vivo que em uma gravação, mas mesmo assim, vamos a um exemplo, o Concerto Grosso opus 8 no. 4 de Arcangelo Corelli.
Vários compositores escreveram musica dividindo o conjunto musical em dois grupos e os fazendo dialogar. É o caso dos italianos Giovanni Gabrieli e Alessandro Stradella. Mas o primeiro grande compositor associado ao gênero concerto grosso, e um dos primeiros a usar este título foi Corelli.
Ele nasceu em Ravena, em 1653 e faleceu em Roma em 1713. Viveu por algum tempo na Alemanha, e foi uma das mais importantes personalidades da musica européia em sua época. Foi grande violinista e professor. Como compositor dedicou-se quase que exclusivamente ao seu instrumento, o violino, e aos demais instrumentos de arco. Sua obra é pequena, mas tudo é de um finíssimo artesanato.
Corelli também foi um importante professor, e dentre seus alunos alguns se destacarm como grandes violinistas e compositores. É o caso de Pietro Locatelli, e Francesco Geminiani. Esses e outros compositores da época viram no Concerto Grosso de Corelli um fabuloso modelo a ser seguido. Por volta de 1700, quando houve na Europa uma explosão na impressão e venda de partituras, as obras de Corelli foram impressas e reimpressas numa quantidade que só seria suplantada pelas obras de Haydn, décadas mais tarde. Por exemplo, o opus 1 de Corelli, uma coleção de sonatas, teve 35 edições entre 1681 e 1785. Isso sem contar coletâneas, e arranjos variados.
Vamos ouvir um concerto grosso de um de seus seguidores, seu aluno Francesco Geminiani, compositor que nasceu em Lucca em 1687 e faleceu em Dublin, em 1762.
Como já vimos, uma das características do Concerto Grosso era a alternância entre dois grupos musicais distintitos, um pequeno e um maior.
O grupo pequeno era em geral formado por 3 músicos apenas: 2 violinistas e 1 violoncelista, apoiado por um cravo quando necessário. E o grupo maior era em geral uma seção de cordas, sem um número necessariamente definido, e que podia ser por exemplo de três 1ºs violinos, três 2ºs violinos,duas violas, um violoncelo, um contrabaixo e um cravo. Podia ser até maior, desde que essa proporção entre os naipes fosse mantida. Ao grupo pequeno dava-se o nome de concertino – eles eram os concertistas, os solistas da obra. E ao grupo maior dava-se o nome de ripieno, que pode ser traduzido por repleto, cheio.
Com disseminacão das partituras de Corelli pela Europa, não tardou para que outros compositores começassem a modificar a estrutura básica do Concerto Grosso. E se há alguém que fez isso com maestria foi Georg Friedrich Händel.
O opus 3 nº 4 de Händel é um concerto grosso. Foi esse o título que ele deu à obra. Mas já estamos distantes de Corelli. Primeiramente Händel não se restringiu somente aos instrumentos de cordas. Acrescentou ao concertino dois oboés. Só isso já nos apresenta uma cor completamente diferente. Além disso , Händel abre a obra com uma típica abertura em estilo francês, coisa que Corelli provavelmente nunca imaginou.
Mas a marca principal do concerto grosso está lá: a alternância entre o concertino e o ripeno, e a estruturação em movimentos contrastantes.
Corelli definiu o gênero; muitos outros compositores, como Geminiani, seguiram esse modelo, ou o imitaram, no melhor sentido da palavra. Com Handel, esse modelo definido por Corelli foi levado adiante, com a introdução de novidades. Neste caminho que levou ao desenvolvimento do Concerto Grosso, se falamos de Händel, não podemos deixar de falar em J. S. Bach
Bach foi ainda mais adiante. Ele não verdade não escreveu nenhuma obra com o título de concerto grosso. Mas muita gente está de acordo que os seus Concertos de Brandemburgo são de fato “concerti grossi” levados à mais alta elaboracão.
Essas 6 obras foram dedicadas a Christian Ludwig, Margrave de Brandemburgo, que corresponderia hoje ao governador da região de Brandemburgo. Por isso eles têm esse apelido.
Mas o título que o próprio Bach deu a eles foi “Concert avec plusiers instruments”, ou Concerto com Muitos Intrumentos. E essa é efetivamente uma característica marcante da coleção.
Cada um dos 6 concertos possui uma diferente combinação instrumental; alguns são verdadeiros concerti grossi, outros se afastam do padrão original.
É bastante difícil dizer qual é o mais belo, ou mais criativo. São 6 obras primas que coroam o gênero inaugurado por Corelli.
E nos causa ainda mais surpresa saber que não há uma grande distância de tempo entre eles. Corelli escreveu seus primeiros concerti grossi por volta de 1712 e Bach completou sua coleção dos concertos de Brandemburgo não mais que dez anos depois.
Com o final do barroco, o concerto grosso vai caindo em desuso. No classicismo, ninguém mais usava a expressão concerto grosso; o cravo vai sendo aos poucos deixado de lado, e o concerto para um único solista e orquestra toma seu lugar. Mas dentre as obras deixadas por Corelli e seus seguidores italianos, e pelos alemães Händel e Bach, há verdadeiras preciosidades que merecem ser conhecidas.
Sou grato pela atencão e até nossa proxima postagem!
Chegou
ao final da vida consagrado, festejado por seus compatriotas
austríacos e admirado por todos os amantes de boa música em toda a
Europa.
Sua
arte atingiu um patamar elevadíssimo!
Perguntado
sobre o segredo do sucesso, Haydn respondeu sem pestanejar:
“Trabalhei
durante mais de 30 anos para os Eszterházy, uma riquíssima
famíllia aristocrática do Império Austro-Húngaro.
Durante
metade do ano ficava com eles no Palácio de Eisenstadt, uma cidade a
50 km de Viena; durante a outra metade, no Palácio de Fertöd, no
nordeste da Hungria”.
Palácio
de Fertöd, residência de verão da família Eszterházy.
Haydn
continua:
“Loucos
por música, os Eszterházy mantinham uma orquestra privada para
deleite próprio; meu trabalho era compôr música e reger concertos
para eles.
Fazendo isso por 30 anos, isolado, longe de qualquer centro musical, não ouvia muita coisa do que produziam outros compositores. Não sabia direito o que estava na moda. Compunha o que vinha na minha cabeça, sem medo de críticas e comparações. Assim, me tornei original, e no final da carreira, fiquei rico e famoso!”
Podemos
dizer que, de certa forma, Haydn ficou surdo; surdo para o mundo ao
seu redor!
Com
isso fez o que ninguém havia feito até então e conquistou o
sucesso!
BEETHOVEN.
Beethoven,
como todos sabem, também ficou surdo, mas aí a coisa foi mais
radical! Ele ficou surdo MESMO!
E
foi muito, muito mais longe que Haydn, o seu professor.
Sua
música revolucionou o mundo, e chegou a influenciar a sociedade e a
política da Europa.
Nenhum
músico tinha feito isso até então!
NINGUÉM
QUER FICAR SURDO …
Ninguém
quer ficar surdo, é óbvio. Só de pensar na possibilidade, a gente
imagina uma vida extremamente limitada, na qual tudo ficará mais
difícil.
Mas
aí vem Beethoven, e mesmo surdo – além das muitas outras doenças
que o perturbaram por toda a vida, assunto para outra hora – dá um
salto transcedental e faz uma música absolutamente original.
A gente então começa a pensar que neste mundo de excesso de informação, é preciso ser seletivo e escolher o que ouvir. Praticar a surdez seletiva.
SUICÍDIO?
Muita
gente não sabe que Beethoven, quando se deu conta de que estava
ficando surdo, pensou em se matar!
Não
é balela, ele deixou isso escrito numa carta. Só que a gigantesca
pressão psicológica que sofreu, acabou por funcionar como uma
catapulta, e o jogou prá bem longe.
Ele
foi catapultado para um mundo particular onde, isolado, ainda mais
isolado do que Haydn, criou suas obras primas absolutas!
Então
quando alguém pergunta:
“Como
é que alguém pode compôr grande música sendo surdo?”,
eu
respondo:
“Justamente
por isso!”
Essa é realmente uma incrível história de surdez seletiva!
Em dezembro de 2019, foi lançado pela Editora Contexto este meu livro, em parceria com Romain Rolland. É indicado para quem quer começar a conhecer a vida e obra de Beethoven, com muitas dicas de obras para serem ouvidas.
Em 1984 foi lançado com grande estardalhaço em todo o mundo o filme Amadeus, dirigido pelo tcheco Milos Forman, baseado em uma peça do dramaturgo inglês Peter Shaffer.
O história lançava quantidades incalculáveis de incenso sobre a genialidade musical de W. A. Mozart; contudo, aparentemente para garantir o sucesso fácil, apresentava-o por outro lado como um imbecil social.
Não satisfeito com isso, o autor também apresentava ao grande público o compositor Antonio Salieri, também retratado como um imbecil; mas um imbecil musical.
Em uma cena que nunca me saiu da memória, vemos Salieri compondo uma peça para cravo que entregaria de presente ao imperador José II da Áustria.
A
peça é um monumento à já citada imbecilidade musical.
A cena dá então a entender que esse era o tipo de música que Salieri compunha usualmente.
Convenhamos, caro leitor: numa das mais poderosas cortes do mundo, na cidade que era uma das maiores capitais musicais do planeta na época, alguém que escrevesse música daquele tipo jamais conseguiria se tornar compositor da corte, nem regente da ópera, nem nada!
Isso sem falar na importantes tarefas que Salieri recebeu, como esboçar os estatutos do Imperial Conservatório de Viena, ou preparar o programa musical do Congresso de Viena; e nos títulos com os quais foi agraciado: Medalhão de Ouro e Chave da Cidade de Viena e Cavaleiro da Legião de Honra da França.
Além disso Salieri, de quebra, foi membro do Instituto Nacional Francês, do Conservatório.
Portanto, é preciso conhecer algumas verdades sobre esse notável compositor, e esquecer – caso vc tenha assistido – as bobagens registradas em Amadeus, de Milos Forman e Peter Schaffer.
Salieri era italiano, mas viveu a maior parte de sya vida em Viena. Chegou a dominar a cena operística de Paris entre 1784 e 1788. Não era pouca coisa…
A sua música era essencialmente dramática.
Diferente de muitos de seus contemporâneos, cujas óperas eram seqüências de arias destinadas apenas a demonstrar o virtuosismo dos cantores, a música de Salieri era a verdadeira condutora da ação dramática.
Para termos uma boa idéia disso nem precisamos assistir uma de suas óperas; basta ouvir uma abertura como a de “Les Danïdes”, que você pode ver no youtube, clicando no link abaixo.
Nesta
abertura, em poucos minutos de música somos levados de uma emoção
a outra; e assim são as suas óperas..
Na partitura da ópera “Armida”, por exemplo, Salieri escreveu:
“opera di stile magico-eroico-amorosa toccante il tragico.”
Ou
seja, ele não tinha nenhuma dificuldade em combinar estilos, gêneros
e técnicas, e sempre com bom gosto.
Segundo o musicólogo Rudolph Angermüler, “em cada cena que contribui para o caminhar da trama, o recitativo é sempre acompanhado pela orquestra – e não apenas pelo cravo, como era usual entre muitos compositores – e o coro nunca é passivo, tomando parte essencial na ação dramática”.
Salieri foi essencialmente um compositor de óperas, tendo produzido mais de quarenta.
Além
disso deixou uma imensa produção de música sacra, e um grande
número de peças vocais de texto não-religioso.
Sua contribuição para o repertório puramente instrumental foi pequena: cinco concertos, uma sinfonia , uma série de variacões para orquestra, e cerca de trinta peças para música de câmara em diversas formações. Mas assim acontecia com grande parte dos compositores da época. Se conseguiam sucesso no mundo da ópera – como foi o caso de Salieri – a música puramente instrumental ficava em segundo plano.
Se não tivesse devotado a maior parte de sua energia à ópera, certamente teria nos deixado uma bela coleção de concertos.
No
filme Amadeus de Milos Forman e Peter Schaffer é relembrada a lenda
de que Salieri seria grande inimigo de Mozart e o teria envenenado,
mais um capítulo do extenso e variado folclore que circunda a música
clásica.
A verdade está muito longe disso: Salieri era um ser humano generoso e de bom caráter. Acima de tudo tinha a cabeça no lugar e não era dotado de ambição desmedida.
Em 1804, quando estava com 54 anos de idade, parou de compor óperas. Anos mais tarde escreveria: “Já naquela época eu observei que o gosto musical estava mudando gradualmente para algo completamente contrário àquilo dos meus velhos tempos. Extravagância e confusão de estilos substituíram a racionalidade e a simplicidade.”.
Eram
os ventos do romantismo que começavam a soprar, e Salieri, ciente de
que já estava velho para mudar, preferiu sair de cena.
Deixou o cargo de compositor oficial da corte, mas não o de mestre capela, ou seja, continuava a reger e administrar a orquestra e os cantores. Neste posto, manteve-se sempre encorajando as experiências dos jovens compositores, da melhor maneira que podia.
Neste mesmo ano de 1804 compôs uma missa de requiem, para marcar sua retirada da vida pública como compositor.
Numa
situação financeira confortável – coisa rara para um músico
daquele tempo – Salieri tornou-se um ativo patrocinador da sociedade
beneficente que atendia os músicos vienenses.
Sobretudo continuou muito requisitado como professor. Uma grande quantidade de jovens que se tornariam importantes personagens da vida musical do futuro estudaram com ele: Carl Czerny, grande pianista, compositor e autor de obras didáticas; Johann Nepomuk Hummel, outro importante compositor e pianista; e três verdadeiros “monstros sagrados” do século XIX: Franz Schubert, Franz Liszt e Ludwig van Beethoven fotam seus discípulos.
Felizmente Salieri está sendo reabilitado e muitas de suas obras vem sendo gravadas por grandes artistas. Destaque para o CD intitulado “The Salieri Albun”, iniciativa da grande mezzo-soprano Cecilia Bartoli. Ela é acompanhada pela Orchestra of the Age of Enlightenment, dirigida por Adam Fischer. Um trabalho maravilhoso.
Um ouvinte certa vez me disse que em sua opinião, no célebre filme Amadeus, Mozart é mostrado em certos momentos como um gênio, em outros como um quase-idiota.
Então ele pergunta se isso corresponde à realidade, ou foi, digamos, liberdade poética, do diretor da película…
Responder usando palavras do livro “Mozart, um compêndio”, organizado pelo musicólogo britânico Robbins Landon.
Ele
diz o seguinte: muitos mitos foram sendo criados em torno de Mozart
desde sua morte. O mito mais extremo seria o seguinte: ” é
terrível dizer essa verdade, mas qualquer canal, mesmo um indigno,
pode servir de meio por onde fluirá a mais pura água da arte”.
Este canal indigno seria Mozart, e sua música a água pura da arte.
Essas
palavras foram ditas por um jornalista inglês chamado Bernard Levin.
Mas
como disse o musicólogo Robbins Landon, isso não apssa de um …
mito!!!
Parece que existiu e ainda existe um certo prazer ou necessidade em apresentar Mozart como um gênio idiota. E olhe só, o mesmo se falava de Joseph Haydn.
Nesse livro que eu cito, “Mozart, um compêndio”, podemos ler palavras mais sensatas: “nem sempre Mozart se comportou de maneira séria ou respeitosa, embora muitas vezes o fizesse. Ele apreciava sim se deliciar com humor grosseiro e escatológico – coisa comum em sua família”.
Pois
bem, Mozart adorava jogar bilhar, adorava ir ao teatro popular –
que corresponde à nossa atual novela de TV – adorava contar piadas
sujas e falar palavrão. Era muitas vezes irreverente, arrogante e
invejoso.
Mas
era também um esposo apaixonado, um amigo querido, uma pessoa
amorosa e divertida.
Assim,
eu termino perguntando: por que um gênio musical não pode ser uma
pessoa … normal?
São
os mitos do mundo da música clássica!
DICA DE LEITURA:
Este é um guia para o fascinante mundo do compositor, contextualizando a obra no período histórico e indicando as diversas execuções de referência das obras de Mozart. O livro inclui, ainda, uma cronologia detalhada e um índice das obras do autor, bem como um vasto leque de citações de variadíssimos artistas sobre Mozart.Seu autor, Sir Nicholas Roger Kenyon é um administrador musical inglês, editor e escritor musical. Ele foi responsável pelo BBC Proms – o grande festival musical britânico de verão – de 1996 a 2007, após o qual foi nomeado diretor administrativo do Barbican Centre – a Sala de concertos da London Symphony.
Este livro está disponível na Amazon.com.br . É só clicar neste link: