Alexandr Borodin

Borodin por I. E. Repin (1888)

Alexandr Borodin nasceu em 1833, filho ilegítimo de um príncipe da Georgia. Como era costume da época, o pequeno Alexandr foi registrado como filho de outra pessoa, um servo do tal príncipe, chamado Porfiry Borodin.

Ele teve o privilégio de boa educação; antes dos 15 anos já falava inglês, francês, alemão e italiano. Aos 8 se interessou por música, e começou a ter aulas de flauta e piano. Não demorou muito para que ele arriscasse algumas composições. Mas a sua maior paixão surgiu aos 14 anos: a química.

Imaginem a típica cena da vida de um adolescente: começar a brincar com pólvora e fogos de artifício. Daí ele passou para o galvanismo e nunca mais parou.

Galvanismo

Aliás, talvez seja bom dizer o que é “galvanismo”. Eu também não sabia e fui pesquisar.

O galvanismo era uma teoria do cientista italiano Luigi Galvani, segundo a qual o cérebro produzia eletricidade, que era transferida pelos nervos para os músculos, produzindo os movimentos.

Essa teoria fascinou muitos estudantes universitários do século XIX, que faziam experiências com animais e até com cadáveres humanos, esperança de encontrar cura para doenças. Dessas experiências resultaram coisas muito modernas, como o desfibrilador cardíaco… e a história de Frankenstein.

Viagens

Aos 17 anos ele ingressou na Academia Médico-Cirúrgica de São Petersburgo. Formou-se em 1856, com louvor, e em seguida conseguiu um bom emprego no Segundo Hospital Militar daquela cidade.

A essa altura atuava com frequência como flautista e violoncelista em reuniões de músicos amadores, e essa atividade o levou a compor suas primeiras peças: arranjos de temas de Mozart, Bellini, Donizetti e outros operistas em voga, além de peças de salão, e danças de inspiração folclórica. Ou seja, nada de especial.

E logo ele começaria uma série de viagens que o manteria afastado da Rússia por um bom tempo. Quando Alexandr Borodin tinha 23 anos havia se formado e conseguira seu primeiro emprego. Esse emprego não durou muito. Logo ele começou a viajar muito. Esteve na Bélgica, França, Alemanha, Itália, com passagens ocasionais e rápidas pela Rússia. Foram 8 anos de viagens intensas. Só em 1862, ele retornou a São Petersburgo, onde fixou residência.

Apesar desse período de muitas viagens e trabalho, Borodin continuou compondo. Das pecinhas de ocasião de sua juventude ele evoluiu para gêneros um pouco mais ambiciosos.

Sonata para Violoncelo e Piano

Quando retornou a São Petersburgo, em 1862, já tinha na bagagem algumas obras de música de câmara, como um trio para dois violinos e violoncelo, um sexteto de cordas, um trio com piano e uma sonata para violoncelo e piano. Abaixo o 3º movimento dessa sonata.

Alexander Borodin – Cello Sonata in B minor (1860)

Ela tem uma curiosidade: foi toda construída sobre um tema de J S Bach; é o tema da fuga da 1ª sonata para violino solo. Essa sonata foi escrita em 1860, quando Borodin estava ainda em seu período de viagens.

Balakirev

Dois anos depois, quando ele retornou para viver em São Petersburgo, aconteceu algo que seria marcante em sua atividade musical: conheceu Mily Balakirev.

Balakirev foi o mentor do nacionalismo musical russo. Ele professava uma libertação do modelo musical germânico que imperava na música europeia de então. Borodin tornou-se seu discípulo. Logo que conheceu Balakirev, Borodin tomou uma decisão muito corajosa, que o levaria a um resultado extraordinário: compor uma sinfonia.

Percebam a dificuldade da questão: apesar de estudar música desde criança, Borodin era um compositor amador, que havia escrito algumas peças de ocasião, e uma meia dúzia de obras de câmara um pouco mais ambiciosas. Nunca escrevera para orquestra, não tinha qualquer prática de orquestração, e nem de obras de grande envergadura.

Contra todas as expectativas Alexandr Borodin deu um salto de qualidade inimaginável e escreveu uma sinfonia brilhante, que, em minha opinião, ocupa um lugar de muita importância no repertório sinfônico do século XIX. Abaixo o 4º movimento desta sinfonia.

Borodin: Symphony No. 1 in E-Flat Major – 4. Allegro molto vivace

Sucesso

Depois da estreia dessa sinfonia, as coisas começaram a mudar para Borodin. O músico amador começou a ser levado a sério pelos centros musicais europeus. Como sempre, tudo é uma questão de contatos. Uma das personalidades musicais mais célebres da Europa se impressionou com a música de Borodin, e ajudou a divulgá-la; aliás, uma personalidade generosíssima que ajudou a divulgar o trabalho de muitos outros compositores. Estou falando de Franz Liszt.

Liszt foi o responsável pela primeira execução da 1ª Sinfonia de Borodin na Alemanha em 1880; e o fato de naquele mesmo ano o compositor ter escrito “Nas Estepes da Asia Central” contribuiu ainda mais para seu reconhecimento na Europa Ocidental.

Borodin: In the Steppes of Central Asia

Em 1881, Borodin escreveria seu 2º quarteto. O terceiro movimento dele tornou-se imensamente popular – tão popular quanto o poema sinfônico “Nas Estepes da Asia Central”:

Borodin: Quartet No. 2 in D major for Strings, III. Notturno: Andante

Profissões

Estamos vendo que apesar da música ter estado em segundo plano em sua vida, Borodin conseguiu produzir música com frequência; e mais: por pouco que produzisse, acertava em cheio. “Nas Estepes da Asia Central” e o “Noturno” de seu 2º quarteto de cordas estão até hoje entre as obras mais queridas dos amantes de belas melodias. E as suas duas sinfonias alcançaram um respeito incontestável entre os amantes e os críticos mais sérios da música de concerto.

Mas não era fácil conciliar a profissão de químico, os problemas familiares, com a atividade musical. Em uma carta a sua esposa, certa vez ele escreveu:

“É muito difícil ser ao mesmo tempo um compositor e um servidor público, cientista, artista, oficial do governo, filantropo, pai de filhos de outras pessoas, médico e inválido… Você termina sendo só essa última coisa…”

Assim, não é de se admirar que Alexandr Borodin tenha deixado inacabadas algumas obras, entre elas aquela que ele mais acalentava: a ópera “Principe Igor”.

Principe Igor

Borodin começou a trabalhar nessa ópera em 1869. Tinha 36 anos e acabara de colher os primeiros frutos do sucesso com sua 1ª Sinfonia. O roteiro descrevia as campanhas militares do príncipe russo Igor Svyatoslavich contra invasão das tribos Polovitsianas, que aconteceram no século XII.

Quando Borodin morreu, o que restava da ópera era como a imagem de um quebra-cabeças onde se vêm vários buracos. A ópera foi terminada por dois dos maiores compositores da época: Rimsky-Korsakov e Alexander Glazunov. Assim, quando ela é executada na íntegra hoje em dia, resulta um tanto desconexa, mais uma sucessão de quadros do que um desenrolar dramático eficiente. Seja como for, tem números individuais de grande beleza.

E faz parte dessa ópera uma peça que está entre as mais populares de todo o repertório clássico do século XIX: as Danças Polovtsianas.

Borodin: Polovtsian Dances From Prince Igor: Polovtsian Dances

Espero que tenha gostado deste post!

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18 comentários em “Alexandr Borodin”

  1. Maravilha de texto. Nunca poderia imaginar que Borodin tivesse outra profissão que não músico. Os exemplos mostrados são lindos. Só conhecia as danças polovitsianas.

  2. Adorava o quarteto, mas como tenho dificuldade para memorizar os nomes dos compositores não lembrava que era dele. Muito interessante. Que vida! Obrigada maestro.

  3. Gostei muito do seu post, gosto da pratica de inserir partes da obra do compositor para a gente ter o gostinho de ouví-lo. Ficou a dúvida: invalido? O que aconteuceu com ele?

  4. Amei. Amo Borodin. O maior presente que tive na vida, foi ter visto o concerto da Orquestra de S Petersburgo no Cultura Artística em 1997, dia 29 de abril. Vi o programa, e me atentei com o Tchaikovsky que sempre amei de paixão, sem me atentar em Borodin. Quando a Orquestra atacou, veio em minha mente memórias da infância, bem escondidas, do Príncipe Igor.Chorei de emoção. Gratidão, Maestro, por seus ensinamentos.

  5. Em 1978 eu era adolescente e ouvia a rádio Difusora de SP. Era fascinado pela música Stranger in Paradise que os locutores da rádio creditavam a Barry White. Procurei durante anos em lojas de disco essa música com Barry White e nunca encontrei e ninguém conhecia. Já nos tempos da internet e do Orkut descobri que o intérprete era Isaac Hayes, cantor com a voz parecida com Barry White. Essa melodia foi adaptada das Danças Polovtsianas de Borodin.

  6. Maestro , gostei muito do post !
    Não sabia que Borodin cumulava as profissões scientificas com a música .
    Ele é mesmo um gênio !
    Muito obrigada

  7. Grande Maestro Galindo
    Obrigado por nos apresentar peças que se não fosse por seu intermédio, teriam caído no esquecimento.
    Parece que hoje em dia os amantes de músicas clássicas estão ficando raros.

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