Imagine só caro leitor, que você está em Viena, no ano de 1813, e é convidado a comparecer a um concerto beneficente.
Toda a renda será revertida em favor dos soldados que se tornaram inválidos nas guerras napoleônicas.
“O que ouviremos”, você pergunta? E ouve como resposta: “obras inéditas de Beethoven, incluindo a “Sinfonia da Batalha”.
Acha estranho? Pois não é! Vamos saber mais!
Napoleão
Em 1803, ou seja, dez anos antes, Beethoven era um fervoroso admirador de Napoleão.
Toda sua admiração se foi quando o general francês se tornou Imperador dos franceses.
Beethoven passou então a combatê-lo como podia, ou seja, com sua música.
Segundo o musicólogo suíço Harry Goldschmidt, a sétima sinfonia de Beethoven, que foi uma das obras estreadas neste concerto de dezembro de 1813, é essencialmente anti-napoleônica.
O segundo movimento, em caráter de marcha fúnebre, foi o primeiro a ser composto, muitos anos antes, logo após a batalha de Austerlitz.
Era 1805, e a Áustria sofrera uma traumática derrota ante as forças francesas.
O estilo titânico de Beethoven
Nos anos seguintes Beethoven escreveu várias obras profundamente dramáticas, desenvolvendo seu estilo “titânico”, como a 5ª Sinfonia e as aberturas Coriolano e Egmont, essas duas de cunho moralizante e libertário.
Entre 1811 e 1812 Beethoven concluiu a sua sétima sinfonia, aproveitando a marcha fúnebre escrita dez anos antes, e construindo um 4º movimento com características de uma dança popular húngara chamada Verbunko.
Além de ser fascinado pelo aspecto rústico dessa dança popular, Beethoven também identificava nela um apelo patriótico, um desejo de libertação do povo húngaro…
Sinfonia da Batalha de Beethoven
Pois bem, caros leitores, nessa mesma noite de 8 de dezembro de 1813, em que foi estreada a 7ª Sinfonia de Beethoven, ouviu-se uma outra obra que não deixa a menor dúvida sobre postura anti-napoleônica do compositor: trata-se da “Sinfonia da Batalha”, opus 91, também conhecida como “A Vitória de Wellington”.
Em junho de 1813, tropas britânicas, portuguesas e espanholas, comandadas pelo 1º Duque de Wellington, derrotaram o exército francês na cidade espanhola de Vittoria.
O exército francês era comandado por José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão e então rei da Espanha.
Essa derrota foi decisiva para o final da campanha francesa na Península Ibérica, e empolgou vivamente Beethoven. Foi inspirado nela que ele escreveu a Sinfonia da Batalha.
Por muito tempo Beethoven incluiria essa obra em todo concerto em que figurava a Sétima Sinfonia.
Movimentos da Sinfonia da Batalha
Esta pequena sinfonia é dividida em cinco movimentos:
O 1º deles descreve a entrada em cena das tropas aliadas
O 2º movimento descreve a Entrada do Exército francês
O 3º movimento descreve a batalha
O 4º movimento descreve o final da Batalha e a desolação da visão dos mortos
Finalmente, o 5º e último movimento foi batizado por Beethoven de Sinfonia do Triunfo.
Trata-se de uma obra extremamente explícita, que formou durante a vida de Beethoven uma “dobradinha”, com a 7ª sinfonia.
Esta foi o outro lado da moeda, o lado poético, não explícito, mas profundamente evocativo da vitória contra a tirania napoleônica, uma verdadeira euforia da vitória.
Assim, para terminar, deixo aqui dois links, para vocês ouvirem essas duas obras: A Sinfonia da Batalha, e a Sinfonia nº 7.
Dica de Leitura
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Além da compreensão profunda do músico revolucionário, Swafford busca fontes até então pouco exploradas para retraçar a vida íntima do homem, desfazendo mitos persistentes e descobrindo novos detalhes sobre as principais influências formadoras do autor da Nona Sinfonia.
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Esses pequenos trechos da história são deliciosos de ler. Alem de ilustrativos e bem contextualizados, são claros e também amorosos…
Bom dia maestro! Parabéns pelo excelente blog, muito bom e informativo.
Existe um crítico influente aqui em São Paulo que afirma que A Batalha de Welligton é uma das piores composições de Beethoven. O Sr concorda e pode justificar brevemente sua resposta?